
Primeiro quis dizer tudo, como quem avisa logo que o terreno é escorregadio; depois não quis dizer nada, como quem teme o medo alheio, o espanto, o estranho. Esquivar-me, jamais, mas e se o afastamento fosse a resposta para todas as minhas angústias e paranóias? Responderiam pa-ra-nóia ou pára-nóia, por favor, eu também quero ser feliz sem culpa, seria possível? E Freud explicaria que não, que não era possível, que nenhum ser humano é digno, que todos sabemos da nossa sujeira, dos nossos pecados imundos e por isso não nos julgamos dignos de uma felicidade pura, sem culpas ou amarras e aí escolhemos sofrer mais? Não!
Mas não, não é assim, a gente tem que se permitir, foi o que eu decidi aquele dia, não há tanto tempo assim, quando a gente se encontrou e se enxergou; estou entregue e consciente, na beira do precipício.
E você me estende a mão e diz pula porque você sabe que eu pulo e sabe que o seu incentivo é só o que eu precisava para mergulhar fundo e eu fico tranqüila, sei o que me espera e ao mesmo tempo desconheço o futuro, o destino. Fiquemos então nessa rede, cigarros, cervejas e declamações de Moraes e Pessoa; cantorias de Jobim e Caetano; olhares e silêncios e carinhos. Eternizando momentos na lembrança, nas fotografias que o cérebro guarda cuidadosamente nos álbuns da memória e que ficam ainda mais bonitas e coloridas que na hora exata. É que aí vira arte, filme, música, poesia, alegria, saudade, dor. Qualquer coisa como ah, se pudéssemos voltar e viver tudo de novo…
E de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e repousar na mesma rede, olhando um para o outro os cigarros as cervejas Moraes Pessoa Jobim Caetano canção carinho samba e amor até mais tarde.
Até o Sol raiar.
http://confetes.blogspot.com/