
Recentemente, temos testemunhado uma das revoltas político sociais mais importantes dos últimos anos. A derrubada do governo ditatorial de Hosni Murabak traduz grande significado aos países do Oriente Médio, dada a influência política do Egito nos demais Estados vizinhos. O povo, insatisfeito e não suportando mais as recorrentes repressões, fraudes, ilegalidades somadas à corrupção, medo e mortes, uniu-se num movimento homérico para exterminar a simbologia cansada do regime.
O ex ditador governou o país por cerca de três décadas, com mãos de ferro e braços de aço, condescendido a todo tempo pelo governo norte americano, que no auge da hipócrita batalha democrática que sustenta, enxergava no centralismo político de Murabak, uma resistência natural à pretensão reprimida da Irmandade Muçulmana em assumir o poder.
O Egito, berço histórico, “verde próspero” da África trazido pelo Rio Nilo, um dos maiores sítios arqueológicos do mundo, fonte de inspiração arquitetônica e política, terra de grandes nomes, grandes obras e cenário de passagens Bíblicas, experimentou a morte de mais de 300 manifestantes que foram às ruas do Cairo, reunindo-se na praça Tahir (que significa “liberdade”), protestar contra o governo opressor de Murabak. Foram necessários 18 dias sob intensa resistência do exército (o governo impôs o toque de recolher como contenção) para que 80 milhões de egípcios pudessem experimentar paz e tranqüilidade após derrubar uma muralha de mais de 30 anos!
No coração do Cairo, um novo período se iniciou. Desde a derrubada de Fahrouk, em 1952, foi a mais expressiva manifestação política da região oriental. Além do significado político local, importante notar que o Egito é o 4º país que mais recebe recursos Norte Americanos, além de ser vital para o equilíbrio do Oriente Médio, entre outras razões, por reconhecer o Estado de Israel através de acordo de paz assinado nos fins da década de 70.
Hoje, a grande preocupação é quanto ao novo governo que vem sendo especulado. O atual ministro de Defesa do país, Mohamed Hussein, é quem garante ao povo egípcio que os protestos por um pleito eletivo será atendido em breve.
É inconcebível que, em tempos de inegável difusão de conhecimento e informação, de discussão política tão ativa, Estados ainda sejam comandados às cegas, por conveniência de outros, sob opressão, medo e dor.
A ânsia “faraônica” pelo poder… atrasa, conota ignorância, despreparo, repúdio e desespero! Uma política construtiva pauta-se pelo ajuste às necessidades e adequação arrojada no desenvolvimento conjunto, e não satisfazendo caprichos preguiçosos.
O Egito tem referência histórica aos caprichos desmedidos, luxo e a vaidade. Cleópatra, filha de Ptolomeu XII, última rainha da Dinastia Ptolomaica, não fez jus aos primeiros representantes, que criaram impressionante organização administrativa e comercial para a região, tendo se rendido não apenas às luxúrias (inclusive incestuosas) como também às jóias, enfeites e ambições.
Cleópatra, na briga desmedida com seus irmãos, criou grave instabilidade política, utilizando dos meios mais audaciosos para conquistar seus objetivos, não poupando da morte quem estivesse à frente de seus desejos…
Detalhe curioso é que a Rainha do Egito, depois de causar até mesmo uma guerra… suicidou-se (alguns sustentam assassinato) com uma picada de cobra.
Um irônico crítico da historia diria que a cobra é que foi morta. Talvez até surgisse outra dúvida… qual?
E quantas cobras envenenam e envergonham nossa política também. Os tempos mudaram, o cenário mudou mas infelizmente, somos amaldiçoados com Cleópatras por todos os cantos.
Que as vidas sacrificadas e o estado de tensão que o mundo oriental viveu nas últimas semanas sirvam de inspiração à inquietação do debate político. Não banhado a sangue e suor, mas sim com responsabilidade de cobrar, exigir e fiscalizar nossos representantes. E que as pragas (assim como a cobra que matou a Rainha do Egito), sejam não só exterminadas, mas extintas do poder!
(15/02/2011)
Texto publicado na revista:
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