"Ternura, é quando alguém nos olha e os seus olhos brilham como duas estrelas" (Dicionário Amoroso - Luiz Gonzaga Pinheiro)
Quando meu avô faleceu, a minha tia Vera, assumiu os cuidados da minha avó, e já cuidava também da sogra , ambas idosas.
Em uma viagem de férias, me hospedei na casa da tia e após o almoço, me ofereci para lavar a louça, e fui informada que essa tarefa diariamente cabia a vovó e a Dna. Aparecida, (sogra). Na minha ignorância sobre a compreensão dos idosos, achei que elas deveriam ser poupadas, mas como visita, não me manifestei.
Observei também, que enquanto uma lavava a outra enxugava e guardava toda a louça em um único compartimento de um enorme armário de uma cozinha bem planejada, aquilo também me intrigou, pondo em dúvida a organização da casa da minha tia.
Após a lavagem da louça, as duas avozinhas tomaram banho e foram tirar um cochilinho.
Minha tia então me deu uma grande lição de respeito aos mais velhos, quando começou a tirar do armário, toda a louça que as senhoras tinham lavado, diante o meu olha de espanto,explicou:
- Eu não quero privá-las de sentir-se úteis, por outro lado, elas não enxergam mais tão bem, portanto não lavam a louça direito, quando elas dormem, eu faço o processo novamente, sem que elas saibam. Daí a idéia de colocar em um único lugar, para não sujar a louça limpa dos armários.
Uma atitude tão simples, mas de um valor imenso, a minha avó e Dna. Aparecida, foram muito felizes na casa da minha tia, sentiam-se úteis, à elas, eram atribuídas tarefas leves, para não dar-lhes a sensação que é comum aos idosos, quando moram com os filhos, de estarem sendo um "peso", pregavam botões, molhavam as plantas e toda manhã, iam até a padaria, o que era motivo de riso, porque uma comprava o pão e a outra saía em seguida para comprar o leite, aos nossos olhos nada prático, mas aos olhos de amor e sabedoria dos meus tios, era a forma correta.
E era tão bonito ouvi-las contarem orgulhosas da colaboração que prestavam.
Uma lição que jamais vou me esquecer.
Obrigada tia, Obrigada tio!
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Convidada pela Profª Cristiana Passinato para ser colaboradora no Caderno R, achei que devia contar como iniciei minhas atividades na internet e sobre o que escrevo.
Em julho de 2008 prestando uma singela homenagem aos meus pais criei um blog chamado “Melhor Idade” a inspiração veio da observação da vida ativa e do envelhecimento saudável deles. Para escrever sobre o assunto, foi necessária muita leitura, já que não tenho formação na área de geriatria ou gerontologia, porém à medida que fui me envolvendo com assuntos relativos aos idosos, e tendo uma resposta de quase 13 mil visitas em poucos meses, senti que não era simplesmente uma homenagem a eles, mas também, uma maior responsabilidade com os leitores, já que se tornou fonte de consultas, por pessoas que leem, opinam, comunicam e até de alguns que passaram a fazer uso didático do conteúdo (alunos de cursos de enfermagem e cuidadores). Passei então a ler muito mais sobre o assunto, e entre outras ideias para serem colocadas aqui, algumas leituras me fizeram repensar o nome do blog, e mudaram a minha visão do que foi “batizado” de Melhor Idade. Em uma das leituras tomei ciência sobre os milhões de idosos que são molestados fisicamente e moralmente diariamente no Brasil e no mundo, outra foi a entrevista feita com a Dra. Dorli Kamkhagi - Coordenadora do Grupo de Gênero do Amadurecimento do Instituto de Psiquiatria, no Hospital das Clínicas de São Paulo, e que também tive o privilégio de ouvi-la em uma palestra na USP