Acredite no valor da linguagem do choro do seu bebê. O choro de um bebê é um sinal programado para a sua sobrevivência e para o desenvolvimento dos pais. Responder sensivelmente ao choro do seu bebê cria confiança. Bebês confiam nas pessoas que cuidam deles para satisfazerem suas necessidades. Pais gradualmente aprendem a confiar na sua habilidade de satisfazer as necessidades do seu bebê. Isso eleva a comunicação entre pais-filhos a um nível mais alto. Bebezinhos choram para comunicar, não para manipular.
Cientistas já há muito concluíram que o som do choro de um bebê tem todas as três características de um sinal perfeito.
Responder ao choro do bebê é biologicamente correto. Uma mãe é biologicamente programada para dar uma resposta reconfortante para o choro do seu recém-nascido e não para conter-se. Mudanças biológicas fascinantes acontecem no corpo da mãe em resposta ao choro do seu bebê. Depois de ouvir o choro, aumenta o fluxo sangüíneo nos seios da mãe, acompanhado de uma urgência biológica para "pegar e amamentar". O ato de amamentar por si só causa um aumento na prolactina, um hormônio que se acredita forme a base biológica do termo "intuição materna". Ocitocina, o hormônio que leva à descida do leite, traz sensações de relaxamento e prazer; uma sensação prazerosa após a tensão proporcionada pelo choro do bebê. Esses sentimentos ajudam a mãe a amar seu bebê. Mães, dêem atenção às dicas biológicas quando seu bebê chora ao invés de ouvir os conselhos das pessoas que recomendam ignorar o choro. Esses acontecimentos biológicos explicam porque é fácil para outros dizerem tal coisa. Eles não estão biologicamente conectados ao seu bebê. Nada acontece com os hormônios deles quando seu bebê chora.
Uma vez que você compreende o valor especial do sinal de choro do seu bebê, o importante é saber o que fazer quando acontece. Você tem duas opções básicas: ignorar ou responder. Ignorar o choro do seu bebê é geralmente uma situação em que há perdas dos dois lados. Um bebê mais passivo desiste e pára de dar o sinal, torna-se arredio, eventualmente percebe que chorar não vale a pena e conclui que ele mesmo não vale a pena. O bebê perde a motivação para comunicar-se com seus pais, os pais perdem a oportunidade de conhecerem seu bebê. Todos perdem. Um bebê com personalidade persistente não desiste tão facilmente. Ao invés disso, ele chora mais alto e continua aumentando o sinal, fazendo-o mais e mais desconcertante. Você poderia ignorar esse sinal persistente de várias maneiras. Você poderia esperar até que ele pare de chorar e depois pegá-lo no colo, assim ele não pensa que foi o choro que conseguiu sua atenção. Isso na verdade é uma guerra de poder: você ensina o bebê que você está em controle da situação, mas também ensina que ele não tem poder de comunicação. Isso fecha o canal de comunicação mãe-filho (ou pai-filho) e, a longo prazo, todos saem perdendo.
Você poderia se dessensibilizar tão completamente a ponto de o choro não incomodar mais; assim você pode ensinar seu bebê que ele só é atendido quando é a hora certa. Essa também é uma situação em que todos saem perdendo: o bebê não consegue o que precisa e os pais permanecem travados, sem poderem apreciar a personalidade única do seu bebê. Ou, você poderia pegar o bebê para acalmá-lo e colocá-lo de volta no berço porque "não é hora de alimentá-lo ainda". Ele tem que aprender, afinal de contas, a ser feliz "por si só". Todos saem perdendo novamente; ele começa a chorar e você fica nervosa(o). Ele vai aprender que suas técnicas de comunicação, embora ouvidas, não são atendidas, o que pode levá-lo a desconfiar de suas próprias percepções: "talvez eles estejam certos. Talvez eu não esteja com fome".
Sua outra opção é dar uma resposta imediata e carinhosa. Esta é a situação em que ambos os lados saem ganhando e desenvolvem um sistema de comunicação que funciona para os dois. A mãe responde de forma rápida e sensível, então o bebê sente-se menos desesperado na próxima vez em que precisa de alguma coisa. Ele aprende a "chorar melhor", de uma forma menos perturbadora porque sabe que sua mãe virá. A mãe organiza seu ambiente de forma que haverá menos necessidade para o bebê chorar; ela o mantém perto dela, assim sabe se ele está cansado e pronto para dormir. A mãe também desenvolve sua sensibilidade para interpretar o choro e dá a solução correta. Uma resposta rápida quando seu bebê é novinho e chora facilmente ou quando o choro deixa claro que ele está em situação de perigo real; uma resposta lenta quando seu bebê é mais velho e começa a aprender como resolver seus próprios incômodos sozinho.
Responder apropriadamente quando seu bebê chora é o primeiro e mais difícil desafio de comunicação que você enfrentará como mãe. Você vai tornar-se especialista no assunto somente após ensaiar milhares de respostas ao choro nos primeiros meses. Se você desde início encarar o choro do bebê como um sinal a ser respondido e analisá-lo ao invés de pensar que é um mau hábito e deve ser eliminado, você estará abrindo-se para tornar-se uma especialista nos sinais do seu bebê, o primeiro passo para ser uma especialista sobre tudo o que diz respeito a seu bebê. Cada sistema de sinalização mãe-bebê é único. É por isso que é tão limitada a visão dos "treinadores de choro", que prescrevem fórmulas para responder ao choro, como "deixe-o chorar por cinco minutos na primeira noite, dez minutos na segunda" e assim por diante.
Não é por sua culpa que o bebê chora. Nem é sua responsabilidade fazê-lo parar de chorar. Claro, você permanece aberta a novas dicas para ajudar o seu bebê (como uma mudança na sua dieta ou carregá-lo junto ao seu corpo) e envolve o pediatra se você suspeita de uma causa física por trás do choro. Haverá vezes em que você não saberá o porquê de o bebê estar chorando - e você vai se perguntar se o próprio bebê saber porque chora. Algumas vezes o bebê simplesmente precisa chorar e você não precisa se desesperar para fazê-lo parar depois de ter tentado o que geralmente funciona.
É um fato da vida de uma nova mãe ou novo pai que, embora o bebê chore para expressar uma necessidade, o estilo que ele usa para fazê-lo resulta do seu próprio temperamento. Não leve o choro do bebê para o lado pessoal. Sua função é criar um ambiente de apoio para diminuir a necessidade que seu bebê tem de chorar, oferecer um par de braços carinhosos e relaxados para que o bebê não chore sozinho e fazer um trabalho de detetive para descobrir o porquê do choro e como você pode ajudar o bebê. O resto é com o bebê.
As pesquisadoras Sylvia Bell e Mary Ainsworth fizeram pesquisas nos anos 70 que deveriam ter eliminado a teoria de mimar a criança para sempre. (É interessante notar que até hoje os autores que escrevem sobre desenvolvimento infantil e recomendam deixar o bebê chorar são quase sempre do sexo masculino). Essas pesquisadoras estudaram dois grupos de pares mães-bebês. O grupo 1 de mães dava uma resposta imediata ao choro do seus bebês. O grupo 2 era mais contido na sua resposta. Elas concluíram que as crianças do grupo 1, cujas mães haviam dado uma resposta mais carinhosa e rápida nos primeiros meses de vida tinham menos probabilidade de usar o choro como forma de comunicação em torno de 1 ano de idade. Essas crianças aparentavam maior ligação com as mães e tinham desenvolvido melhor comunicação, tornando-se menos manhosas e manipuladoras. Até então pais eram levados a acreditar que, se eles pegassem o bebê a cada choro, a criança nunca iria aprender a consolar-se sozinha, tornando-se mais exigente. O estudo de Bell e Ainsworth mostrou o oposto.
Num outro estudo comparando dois grupos de bebês, um grupo recebeu atendimento imediato e carinhoso e o outro foi deixado chorando. Os bebês cujos choros foram atendidos choravam setenta por cento menos. Os bebês do outro grupo, no entanto, não diminuíram seu choro. Em essência, pesquisas têm mostrado que bebês cujo choro foi atendido aprendem a "chorar melhor"; aqueles que são produto de uma criação mais rígida aprenderam a "chorar mais forte". É interessante que os estudos revelaram não só diferenças da forma como bebês comunicam-se com os pais com base na resposta obtida através do choro, mas também diferenças nas mães. Estudos mostraram que mães que preferem uma resposta mais contida gradualmente se tornaram mais insensíveis aos choros do seu bebê, e tal insensibilidade ultrapassou para outros aspectos da relação mãe-filho. Segundo pesquisas, deixar o bebê chorando é prejudicial à família toda.
Esta é uma das frases mais ridículas do folclore médico. Nos anos 70, pesquisas mostraram que bebês que foram deixados chorando sozinhos tiveram batimentos cardíacos muito elevados e níveis de oxigênio diminuídos no sangue. Quando tais bebês eram acalmados, seu sistema cárdio-vascular rapidamente retornava ao normal, mostrando quão rapidamente os bebês reconhecem seu bem-estar num nível fisiológico. Quando o choro não é acalmado, o bebê permanece em desconforto psicológico e fisiológico.
A crença errônea de que o choro é saudável sobrevive ainda hoje nas escalas de Apgar, um tipo de teste que os médicos utilizam para assessar rapidamente a condição de um recém-nascido nos primeiros minutos de vida. Os bebês recebem pontos extras por "chorar muito forte". Um bebê em estado de alerta silencioso, respirando normalmente e com coloração normal perde pontos na escala Apgar em relação a outro que nasce chorando. Um dos mais intrigantes de todos os sons humanos - o choro de um bebê - ainda é muito incompreendido.
O choro não é somente um som; é um sinal - desenvolvido para a sobrevivência do bebê e o desenvolvimento dos pais. Nos primeiros meses de vida, bebês não conseguem verbalizar suas necessidades. Para preencher este espaço até que a criança seja capaz de falar "a nossa língua", bebês têm esta linguagem única chamada "choro". O bebê tem uma necessidade, como fome ou desejo de ser acalentado e isso desencadeia um som a que chamamos choro. O bebê não fica ponderando "são três da manhã e eu acho que vou acordar a mamãe para um lanchinho." Não ! Isso é a nossa interpretação do choro. Além disso, bebês não têm a acuidade mental para entender o porquê de sua mãe responder ao seu choro às três da tarde, mas não às três da manhã. O recém-nascido que chora diz: "Eu preciso de alguma coisa; algo não está aqui. Por favor, resolva meu problema".
Cientistas dos Estados Unidos descobriram que bebês a partir de seis meses de idade já demonstram ter inteligência social, analisando as intenções de outras pessoas e sendo capazes de perceber quem é um potencial amigo ou inimigo.
A equipe da Universidade de Yale realizou um estudo envolvendo 12 bebês de seis meses e 16 com dez meses, em que fizeram com que eles assistissem a uma animação com três personagens diferentes.
No desenho, um dos personagens tenta subir o que parece ser uma colina. Um segundo ajuda esse personagem, empurrando-o para cima da colina, e um terceiro o atrapalha, empurrando-o para fora.
Depois de os bebês assistirem à animação várias vezes, os cientistas mostraram a eles dois bonecos de madeira, um parecido com o personagem que ajuda o outro a subir e outro parecido com o que atrapalha.
O resultado foi que todos os bebês de seis meses e 14 dos bebês de dez meses escolheram o boneco do personagem "bonzinho", que ajuda.
"Nossas descobertas indicam que os humanos realizam avaliações sociais num estágio muito anterior de desenvolvimento do que se pensava, e sustenta a tese de que a capacidade de avaliar indivíduos com base em suas interações sociais é universal e não depende de aprendizado", dizem os cientistas em um artigo publicado na revista Nature.
Nós não podemos dizer se é algo inato, mas podemos dizer que é algo pré-lingüístico.
Kiley Hamlin
Outros experimentos foram feitos para descartar outras explicações para o comportamento demonstrado pelos bebês, como uma possível preferência dos bebês por ações de empurrar algo para cima ou para baixo ou pela aparência de um dos personagens.
"Nós não podemos dizer se é algo inato, mas podemos dizer que é algo pré-lingüístico", disse a cientista Kiley Hamlin, que liderou a pesquisa.
"Nós não achamos que esses bebês têm qualquer noção de moral, mas parece ser uma parte essencial da moralidade sentir uma empatia por aqueles que fazem coisas boas e o contrário por aqueles que fazem coisas más parece ser uma parte importante de um sistema racional e moral que virá depois."
O fato de crianças tão jovens mostrarem sinais de inteligência social não surpreendeu Hamlin.
Segundo ela, os pais deveriam ter em mente que os bebês são capazes de perceber muita coisa sozinhos.
"Ainda com pouca idade, eles são eficientes criaturas sociais. Eles percebem quem é bom de se ficar junto sem muita ajuda."
Pesquisas anteriores já haviam mostrado que os bebês, nos seus primeiros seis meses, mostram uma predileção por outros bebês com base na aparência do rosto dos coleguinhas.
Um estudo realizado por especialistas em desenvolvimento infantil revela que os bebês passam cada vez mais tempo sentados e ficam menos no chão, o que pode impedir a oportunidade de engatinhar e prejudicar o aprendizado da fala e da escrita.
Para Sally Goddard Blythe, que liderou o estudo, isso se deve ao uso excessivo de artigos modernos como assentos de carro e cadeiras especiais para bebês. Segundo a autora, estes artigos impedem a criança de brincar livremente com o corpo.
"Os bebês são colocados na posição sentada de forma passiva, e não natural", afirma Blythe, diretora do Instituto de Psicologia Neurofisiológica de Chester, na Inglaterra.
"O chão é o primeiro parquinho da criança e ficar de bruços ajuda na postura, aumenta o campo visual e o equilíbrio", afirma a especialista. "Há 20 ou 30 anos as crianças passavam muito mais tempo debruçadas."
A pesquisa, realizada pelo departamento de neurofisiologia do instituto, analisou o impacto das mudanças sociais dos últimos 50 anos na infância.
Aprendizado
O estudo foi realizado com base nos resultados de uma pesquisa publicada pela autora em 1998 na revista científica British Journal of Occupational Therapy. O estudo examinou o desenvolvimento de dois grupos de 70 crianças com idade entre 8 e 10 anos.
O primeiro grupo apresentava dificuldades de leitura e escrita e o segundo não apresentava problemas de aprendizado.
Os resultados apontaram diferenças significativas no histórico de desenvolvimento. As crianças com dificuldades haviam engatinhado menos e teriam começado a andar mais tarde que as do primeiro grupo.
Apesar dos resultados, a autora afirma que apenas deixar de engatinhar não determina o futuro aprendizado da criança.
"Alguns bebês que não engatinharam acabam não tendo problemas, enquanto alguns que engatinharam poderão apresentar dificuldades", afirma.
Para ela, "a principal questão é descobrir o porquê os bebês falharam em engatinhar e descobrir se a omissão pode causar outros problemas de desenvolvimento".
Benefícios
A autora aponta que engatinhar representa um marco no desenvolvimento da criança e é um exercício motor importante.
Para ela, a atividade treina a coordenação visual para os movimentos que mais tarde a criança vai usar para ler e escrever. Além disso, "engatinhar alinha os segmentos da espinha, preparando a criança para ficar em pé e andar", afirma.
Os resultados da pesquisa serão publicados em 2008 no livro What Babies and Children Really Need (O que bebês e crianças realmente precisam, em português).
Quando o assunto é mulher moderna, logo nos vem à cabeça a imagem da mulher madura, que trabalha, cuida da casa, dos filhos, do marido e ainda têm tempo pra se manter linda e se divertir.
Realmente essa é a super mulher...a nova mulher. A mulher moderna. Mas será que essa imagem já não está indo para o ralo e se tornando estereotipo para mulheres acima dos 30 anos? As mulheres mais jovens não se encaixam nessa categoria de mulher moderna e sinceramente, pelo modo como as coisas caminham, acho que não chegaram a ser.
O primeiro ponto é que a "maturidade" irresponsável chega muito e cada vez mais cedo. A adolescência hoje começa por volta dos 11 ou 12 anos. As meninas menstruam cada vez mais cedo e encaram o sexo como uma coisa natural cada vez mais cedo.
Não bastasse isso, são estimuladas o tempo todo pela mídia, pela indústria musical e, muitas vezes, até pelos próprios pais. Viram "cachorras" cada vez mais cedo. Os valores e interesses se resumem na disputa de quem tem o melhor corpo, as menores roupas, quem dança e rebola melhor e em quem "pegou mais" em uma noite.
Sou a favor da liberdade sexual feminina sim! Mas acho que além de ser necessário respeitar o processo natural desta liberdade sexual, a orientação correta é importantíssima. Que as informações hoje são muito rápidas e que aquela constrangedora conversa entre pais e filhos sobre "como nascem os bebês" não acontecem há muito tempo, nós já sabemos. A questão é que essas informações não são necessariamente informativas (perdoem-me a redundância!), mas sim uma forma escancarada da banalização sexual.
Ai o que temos como resultado são meninas transformadas e convertidas precocemente em mulheres que, automaticamente são tratadas pela sociedade como latinhas de cerveja a venda em um supermercado.
Se a mídia, a publicidade e os homens desvalorizam a imagem da mulher, a culpa é nossa também. Graças a Deus existem exceções. Mulheres que fazem jus a imagem de mulher moderna. A mulher segura de si e que, ao contrário da maioria das "tchutchucas" não precisa provar nada pra ninguém rebolando a bundinha ao som de bondes do tigrão entre outras "pérolas musicais".
Há séculos atrás a mulher era tratada por algumas sociedades como deusa, como um ser sagrado, como um templo. Onde foi que isso mudou??
A Igreja foi uma das Instituições que deturpou a imagem da mulher. Perante a Igreja, toda mulher já é uma pecadora só pelo fato de ter nascido mulher. É ela quem corrompe o homem e automaticamente, a sociedade. Tudo isso por conta do pecado original cometido por Eva quando comeu a maçã da árvore da Serpente. E olha que eu realmente tenho grandes dúvidas se isso realmente aconteceu...
Durante os séculos a história e os costumes terminaram de rebaixar a imagem da mulher como procriadora. Em algumas culturas a mulher, ainda bebê, tem seu clitóris extirpado para que não sinta prazer no ato sexual. Para esses povos, a mulher não tem direito nem ao prazer sexual. Para nós, só falta a extirpação do clitóris.
Acham exagero?? Numa cultura onde as pessoas acham normal que as roupas e demais trejeitos da moda venham de uma prostituta que faz sucesso na novela da Globo e que inclusive as crianças adoram, por ser uma personagem "divertida", não podemos esperar outra coisa.
Não estou aqui querendo ser moralista e muito menos, preconceituosa. Mas pensem se realmente esse é o tipo de sociedade que queremos construir. Se esse é o futuro, cada vez mais banalizado da imagem feminina.
Acho que todos já testemunhamos a cena de pais desnorteados, envergonhados, sentindo-se julgados por quem observa e sem saber o que fazer com o filho que se joga no chão, bate os pés e chora como se tivesse sido machucado ou magoado seriamente.
Acho que todos já testemunhamos a cena de pais desnorteados, envergonhados, sentindo-se julgados por quem observa e sem saber o que fazer com o filho que se joga no chão, bate os pés e chora como se tivesse sido machucado ou magoado seriamente.
Ele está, simplesmente, xingando e demonstrando sua raiva porque os pais "ousaram" lhe negar a compra de um caríssimo brinquedo (que, por sinal, ele já tem em casa).
Os observadores dividem-se entre os que afirmam que seus filhos jamais fariam algo assim e os que acham que, se porventura isso viesse a acontecer, a cena acabaria rapidamente, com um par de palmadas. Com certeza, essas pessoas não têm filhos e nunca se defrontaram com essa situação.
Outra parcela dos espectadores tomará o partido da coitadinha da criança; achará que não pode ser traumatizada. Pode se tratar de uma doce vovozinha ou de pais com enormes dificuldades de colocar limites ou provocar a necessária frustração aos filhos, já que o mundo não vai lhes fazer todas as vontades. Chamamos "compensadores" os pais que conseguem isso.
A cena descrita pode se repetir muitas vezes em outros contextos do cotidiano, sem testemunhas, porém provocando a mesma reação dos pais.
Entre mais ou menos os 15 e os 30 meses, a criança passa pela chamada fase do negativismo ou da oposição. É fundamental que assim aconteça, já que está desenvolvendo sua personalidade, diferenciando-se dos pais e contrapondo seus desejos aos deles. Testa as pessoas e também sua capacidade de persuasão.
Essas cenas, as famosas birras, são provocadas pelo conflito criado entre o desejo e a intolerância à frustração de não ver satisfeito esse desejo. Podem ser desencadeadas também pelo fato de a criança não conseguir acabar com uma tarefa (encaixar algo etc.) ou quando tem de cumprir com alguma norma familiar que atrapalha sua brincadeira. A criança tem um objetivo claro: obter a qualquer custo a satisfação do desejo.
PARECE CLARO QUE NÃO SE TRATA DE COMBATER A BIRRA COM GRITOS OU TAPAS POR SER ALGO "FEIO". O QUE ESTÁ EM JOGO É QUE O FILHO APRENDA COM A EXPERIÊNCIA QUE A BIRRA NÃO É O MELHOR CAMINHO PARA CONSEGUIR O QUE QUER. ASSIM, O MELHOR "CASTIGO", QUE POR SINAL SEMPRE É SIMBÓLICO E NÃO REAL, É QUE ELE SAIBA QUE SUA BIRRA ACABA, SEUS PAIS NUNCA PERDEM A CALMA E QUE A FRUSTRAÇÃO (QUANDO PEDAGÓGICA) "NÃO MATA".
O recado é: "Você está bravo, tem direito de demonstrar isso, porém, quando seus pais falam não é não até você ficar tranqüilo".
Outra inadequação é oferecer aquilo que foi negado para acabar com a chateação do filho birrento. Assim só se reforça o poder da birra.
O que podemos esperar da educação que queremos dar aos nossos filhos? O que queremos lhes transmitir? Acho que concordamos que queremos, no mínimo, transmitir-lhes as condições básicas e suficientes de sua socialização. Ou seja, transmitir-lhes uma cidadania possível.
Às vezes, para não ser incomodados ou pela culpa por nossa ausência (sendo pior quando ficamos ausentes ainda que presentes), introduzimos imprudentemente os princípios da Revolução Francesa na educação dos filhos: igualdade, liberdade e fraternidade.
A família tem de ter níveis saudavelmente assimétricos, papéis bem definidos e normas a serem cumpridas. Se não se consegue entender e agir adequadamente, nos arriscamos a transformar um suposto escravo aborrecido em um tirano aborrecido.
DR. LEONARDO POSTERNAK É PEDIATRA E PRESIDENTE DO IFA (INSTITUTO DA FAMÍLIA)
Os pais permitem que a criança perceba seu poder de dar orgulho e que assuma atitudes cada vez mais ousadas
HÁ UMA frase que passou a ser muito popular entre os pais: "Meu filho nasceu com um chip diferente".
Existe uma crença atual generalizada entre as pessoas que têm filhos de que o seu rebento é precoce para a idade que tem. Uma dessas mães me disse uma frase bem-humorada que expressou muito bem tal convicção:"Eu não sou mãe coruja, eu tenho razão".
Muitos adultos têm dito que as crianças mudaram muito. Acreditam que, agora, elas têm vontade própria para quase tudo e que sabem escolher, que têm "personalidade", ou seja, que sabem impor seus pontos de vista e opiniões, que não aceitam muitas restrições e que conversam sobre os assuntos mais variados com a naturalidade e a propriedade de um adulto, entre outras coisas.
Esse pensamento geral exige uma reflexão, já que as crianças continuam sendo crianças como sempre foram, desde que a infância foi inventada. O que mudou muito foi o mundo em que as crianças vivem hoje. E, claro, mudaram seus pais e o modo como eles tratam seus filhos. E uma dessas mudanças, em especial, merece toda a nossa atenção. Eu me refiro ao modo como muitos pais permitem que seus filhos os tratem.
Quem frequenta o espaço público e observa o relacionamento entre pais e filhos certamente já presenciou, e não raras vezes, crianças de todas as idades e adolescentes tratarem seus pais com agressividade, grosserias, gritos e palavrões.
Uma conhecida me contou, indignada, que passou a tarde com uma amiga e testemunhou a filha dessa amiga, de 11 anos, chamar a mãe de "burra" e de "idiota".
Paralelamente a esse fenômeno, já temos também notícias sobre mães que foram espancadas pelos filhos.
Conversei com alguns pais que vivem esse drama e eles se posicionam de modo muito semelhante: não sabem o que fizeram de errado para que os filhos os tratem dessa maneira e não sabem também como reverter a situação.
Temos algumas pistas que nos ajudam a entender como se constrói tal quadro.
A primeira pista foi citada logo no início. O fato de os pais considerarem seu filho esperto permite que essa criança perceba o poder que tem de deixá-los orgulhosos e, pouco a pouco, vá assumindo atitudes cada vez mais ousadas na relação com eles e, consequentemente, com os adultos de modo geral.
A segunda pista está localizada no lugar que muitos pais querem ocupar em relação ao filho. Mais do que pais, querem ser seus amigos. Isso não dá certo, já que amigo ocupa sempre um lugar simétrico ao da criança ou jovem e, nesse caso, não há lugar para autoridade. Os pais podem, isso sim, ser pais amigáveis, mas nunca amigos dos filhos. O comportamento juvenil dos pais, independentemente da idade que tenham, também contribui muito para que os filhos os vejam como seus pares e não como seus pais.
Finalmente, a falta de paciência e disponibilidade para corrigir quantas vezes forem necessárias as atitudes desrespeitosas do filho faz com que pais relevem ou ignorem as pequenas atitudes cotidianas que os filhos têm e que expressam grosseria ou agressividade, quando não violência. O problema é que o crescimento desse tipo de comportamento ocorre em espiral, não é verdade?
Se não cuidarmos para que os mais novos aprendam a valorizar e respeitar a vida familiar, seus pais e os adultos com quem se relacionam, logo teremos notícias de um novo fenômeno: a intimidação, o famoso "bullying", só que as vítimas serão os pais, e os praticantes, os filhos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Como os conceitos de tempo, distância e velocidade desenvolvem-se em nível psicológico? Essa questão foi proposta em 1928 por Albert Einstein a Jean Piaget (1896-1980), quando o pai da relatividade presidia cursos de filosofia e psicologia em Davos, na Suíça, e o jovem psicólogo suíço, já então conhecido por suas pesquisas no campo da inteligência e do desenvolvimento infantil, amadurecia temas científicos para investigar. A provocação de Einstein inspiraria 15 anos mais tarde uma das obras mais conhecidas de Piaget, A noção de tempo na criança, em que o pesquisador explora os significados do tempo e como as crianças os compreendem. Esse pano de fundo inspirou a palestra “Piaget, Einstein e a noção de tempo na criança”, proferida por Lino de Macedo, professor de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), na manhã do dia 22 de novembro.
Ovo ou galinha
Macedo deu início à palestra relembrando as palavras finais de Piaget no seu livro: “O tempo relativista de Einstein expressa um princípio válido da formação do tempo físico e psicológico desde a gênese do tempo nas crianças de tenra idade”. O professor propôs a discussão de problemas sobre a questão do tempo na perspectiva das crianças estudados por Piaget. “Perguntaram para Piaget quem nasceu antes: o ovo ou a galinha? Sabe o que ele respondeu? O pintinho. Não foi a galinha porque a galinha dependia do ovo. Não foi o ovo porque o ovo dependia da galinha. Foi o pintinho. Quando nasce uma criança é o mundo que recomeça. Nesse sentido, somos filhos de uma criança, não pais. Antes de nós, vieram as crianças. As crianças nasceram antes e portanto são mais velhas do que nós, caso se pense como referência o ponto de partida. Nós morremos. As crianças são eternas”, afirmou o professor.
Piaget testou a percepção infantil para uma série de perguntas sobre o tempo, a distância e a velocidade e concluiu que tais conceitos não estão presentes na mente da criança, mas exigem uma construção. A criança de 2 a 6 anos, por exemplo, faz sua avaliação com base no momento presente. Depois começa a levar em conta outros fatores, como o ponto de partida. Só mais tarde vai dominar esses conceitos. “Piaget perguntou a uma criança pequena: ‘Sua mãe nasceu antes ou depois de você?’. Ela respondeu: ‘Não me lembro mais’. Claro que ela não pode se lembrar. A mãe nasceu tanto tempo depois, não é?”, afirmou Macedo.
Crianças um pouco mais velhas já buscam respostas mais elaboradas. “A cada ano você fica mais velho?”, indagou Piaget. Resposta da criança: “Não, eu fico mais novo”. Outra pergunta: “Quando você for moço, qual será a idade da sua irmã?”. A resposta: “Igual à minha”. “Um dia vocês vão ter a mesma idade ou não chegarão nunca a isso?”. Resposta: “Eu vou ficar maior que ela porque os homens são maiores do que as mulheres, aí eu vou ser mais velho”. Segundo Lino de Macedo, a referência da criança sobre o tempo é o tamanho, o crescimento em estatura. Como ainda é pequena, não tem a percepção do envelhecimento. “As crianças acham que os cachorros não envelhecem. Eles morrem, ficam doentes, mas não envelhecem. Também acham que as árvores não têm idade. Por quê? Porque elas não crescem mais”, exemplifica. A noção dos efeitos da passagem do tempo vai sendo construída e, na pré-adolescência, as respostas já se assemelham às dos adultos. Piaget perguntou: “Quem é mais velho: você ou sua mãe?”. Resposta: “Minha mãe”. “E quando você for um homem?”, indagou. “Ah, é sempre a mesma diferença”, disse a criança. “Então não é verdade que todos os homens velhos têm a mesma idade?”. Resposta: “Isso depende de quando eles tiverem nascido, há velhos de 50, 60...”. O professor observou: “Considerem que isso foi na década de 1940. Hoje nós diríamos: há velhos de 80, 90, 100 anos”.
Crianças de até 2 anos de idade não têm memória – falta-lhes a linguagem para fazer os registros. Nessa fase, observa o professor, o tempo da criança é o tempo das ações. “As crianças têm ações, ações sensório-motoras, ações simbólicas. O problema da criança é como coordenar movimentos, a sucessão, a duração, a simultaneidade, como ordenar os acontecimentos”, disse. “O tempo da criança é o tempo do presente. Ela não conhece o passado, não conhece o futuro e não precisa deles. Ela precisa do presente, da presença. É um tempo ocupado, denso, pleno, descontínuo, porque a criança dorme, se cansa, a mãe vai lá e tira ela da brincadeira, daquela magia, daquela felicidade, daquela ocupação, aquilo que é puro prazer e alegria. Esse tempo vivido como presente tem essas qualidades: pleno, descontínuo, finito, não refém de um passado ou de um futuro”, afirma o professor.
O conceito é bem diferente do chamado tempo operatório, que é o tempo das crianças mais velhas e dos adultos. “O tempo torna-se reversível enquanto forma, porque presente, passado e futuro são recortes relativos e variáveis de uma mesma coisa”, explicou.
Lino de Macedo encerrou sua palestra falando de Einstein. Lembrou que o físico criticava a educação precoce – o tempo futuro que rouba o tempo presente das crianças. “Estamos fazendo isso com nossos alunos”, disse o professor. “O estresse infantil hoje é terrível. As crianças não têm tempo para ser crianças, porque somos comprometidos, no melhor dos sentidos, com uma educação precoce, para o bem delas daqui a 20, 30 anos. E o bem delas aqui, agora? Os métodos competitivos de ensino encarnam esse tempo do resultado premente, o tempo do deadline, o tempo do ‘cheguei antes’, do ‘ganhei mais’, do ‘faturei’”, disse o professor da USP.
O gênio da física, afirma Macedo, criticava o tempo externo dominando o tempo interno. “Aquele tempo externo que, pelo medo, pela força, pela violência, pela autoridade artificial ou pela ameaça conseguia as coisas”, definiu. “Quando a gente entra na exposição Einstein, quem nos recebe não é a imagem de um Prêmio Nobel ou do maior cientista do século XX. O que vemos é um homem rindo, andando de bicicleta, juvenil. Aprender tem a ver com felicidade, com satisfação. A questão do conhecimento como alegria e felicidade, a questão da paz como um direito humano e como uma necessidade humana para criar, para inventar, para experimentar, para descobrir, isso só é possível se pudermos não ser apenas reféns do futuro e do passado”, concluiu.
Piaget, Einstein e a noção de tempo na criança
Lino de Macedo, graduado em pedagogia, professor titular do Instituto de Psicologia da USP
Fonte: Revista PESQUISA Fapesp (Suplemento Especial - Especial Einstein) , disponível em: www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3733&bd=1&pg=1&lg=
Se desde que o mundo é mundo há pais e filhos, neste momento particular, a era digital sobrepôs a essa estrutura uma outra divisão: nativos e imigrantes.
Nativos digitais são aqueles que nasceram quando já existia computador, ou seja, a partir da década de 1980. Imigrantes digitais têm mais de 30 anos e se lembram de seu primeiro PC.
Enquanto os imigrantes, ou grosso modo, os pais, não estão muito familiarizados com o ambiente da web, os nativos, ou os filhos, estão no centro daquilo que promete ser uma radical mudança de comportamento. Os nativos digitais prometem uma reorganização na maneira como trabalhamos e até na alteração de conceitos cristalizados, como o do direito autoral."Essa geração está desenvolvendo novas formas de pensar, interagir, trabalhar e se socializar", escreve o pesquisador Don Tapscott, em Grown Up Digital (Crescidos digitais, em inglês), ainda inédito no Brasil.
O mais curioso? Eles fazem tudo isso meio sem perceber.
Se a contracultura dos anos 60 foi criação consciente dos jovens que queriam romper com o passado, as crianças digitais operam uma revolução que é silenciosa. Afinal, elas só estão agindo naturalmente.
"Os nativos digitais são aqueles que já nasceram acostumados à cultura da internet. Acostumadas ao compartilhamento de arquivos, as crianças querem espalhar aquilo com o que elas se importam, o que não raro esbarra em noções anteriores a elas, como o copyright", explica Urs Gasser, autor do livro Born Digital (Nascidos Digitais) e professor do centro de Internet e Sociedade de Harvard. Essa relação tão próxima à tecnologia, segundo ele, afetará questões como segurança, propriedade intelectual, comunicação e aprendizado.
Para a pesquisadora Lúcia Santaella, a mudança começou lá atrás, na década de 1980, quando tecnologias como videocassete, fotocopiadora e controle remoto nos prepararam para deixar a condição de consumidores passivos e exigir produtos personalizados. "Essas tecnologias permitiram que buscássemos o tipo de informação e de entretenimento que se enquadra com nosso perfil. Não passamos direto para a cultura digital". O ápice disso viria com a internet.
Com o crescimento demográfico, os nativos digitais deverão ser 80% da população economicamente ativa em 2020, de acordo com Don Tapscott. Não é exagero, portanto, dizer que essa geração que já nasceu familiarizada com o ciberespaço moldará a sociedade do futuro. "Quem fará as leis de amanhã são justamente as crianças que hoje baixam conteúdo", defende Gasser, que vê na ascensão dos Partidos Piratas na Europa o começo dessa renovação, que não deve ficar só na legislação.
Segundo o Ibope, 29% dos brasileiros urbanos entre 10 e 17 anos preferem conversar pela internet. Para 45% deles, Orkut e Facebook são parte da rotina. "A tecnologia não é só parte do cotidiano, mas integra a biologia dos jovens. Isso parece explicar porque eles já nascem sabendo manipular e viver com essas máquinas que estão ficando cada vez mais sutis", finaliza Santaella.
Para ele, tecnologia é natural
O menino Luca Albano, de 10 anos, pode ser considerado nativo digital não só pela data em que nasceu, mas pela naturalidade que demonstra ao falar sobre tecnologia e ao usá-la. Apesar de ter começado a desenhar usando papel, hoje o menino (cujos pais trabalham como ilustrador e fotógrafa) usa um software - que ele aprendeu a usar sozinho - para produzir animações, desenhadas quadro a quadro. Depois de prontos, ele publica os trabalhos em seu canal no YouTube e em seu blog. Luca diz que já perdeu a conta de quantos vídeos fez. Além dos desenhos animados, que geralmente têm como temas os gêneros aventura e ficção científica (o último, preferido, inspirou o desenho abaixo), ele faz montagens com fotos que acha na internet e baixa músicas para sonorizar e produzir suas próprias versões dos clipes das músicas de que gosta.
Comunicação
Falar e escrever no celular, usar comunicador instântaneo, ler sites e blogs: tudo isso vai contribuir para o desenvolvimento da inteligência comunicacional nas crianças. Apesar de alguns críticos dizerem que o uso de MSN pode afetar negativamente a capacidade dos pequenos de compreender expressões faciais, os educadores concordam que por causa da internet as crianças estão escrevendo e lendo mais. O caráter colaborativo da rede também incentiva a produção de conteúdo multimídia - teremos crianças escrevendo, gravando áudios e falando para a câmera cada vez mais cedo.
Cultura
O acesso a bens culturais, filmes, livros e músicas caminha para se tornar um serviço e não um produto específico. Para variar, é na música que este processo está mais avançado. Em 2008, 95% das músicas baixadas não tiveram direitos autorais pagos. Mas uma mudança na nossa relação com as canções está em curso neste momento. Em 2008, 52% dos jovens norte-americanos, entre 13 e 17 anos, preferiram ouvir músicas em sites de streaming gratuito, como MySpace, Pandora e Spotify, em que não se precisa baixar nada. Tudo é ouvido online.
Direito Autoral
Segundo uma pesquisa do canal Cartoon Network, duas em cada cinco crianças já trocaram arquivos pela web. Claro que isso muitas vezes esbarra na questão do copyright. Mas será que essa é uma noção que ainda será usada quando esses pequenos chegarem à vida adulta? Já nascidos digitais, eles são parte de uma geração acostumada à cultura do remix que foi popularizada com a internet e com sites como o pioneiro Napster. Para o pesquisador Urs Gasser, esse comportamento pode mudar não só as leis de direitos autorais, mas também redefinir o que é, afinal, 'autoria'.
Política
Políticos estão percebendo a eficiência das ferramentas da web 2.0 para fazer campanha de um jeito diferente. Essas plataformas são dominadas pelos jovens, que por causa da troca rápida e multimídia de informações, têm capacidade maior de descobrir verdades e mentiras, se unir contra e a favor daquilo em que acreditam e apoiar candidatos e ideias com os quais se identificam. O primeiro exemplo desse novo engajamento aconteceu nas últimas eleições presidenciais norte-americanas: Barack Obama conseguiu levar às urnas milhões de jovens, num pleito em que o voto é facultativo.
Trabalho
No futuro as empresas serão menores, não existirá mais o conceito de carreira, os empregos vão acabar e o ócio criativo será total: trabalharemos só por prazer. Ao menos é isso que defende o professor Thomas Malone, especialista em trabalho do MIT. Pesquisas já mostram que os jovens estão batendo de frente com seus chefes por causa de diferenças culturais e de comunicação. E diante de funcionários acostumados a opinar livremente, não familiarizados com hierarquias e imposições, as estruturas empresariais serão forçadas a mudar drasticamente.
Cérebro
Pesquisas recentes em neurociência afirmam que a internet está mudando o cérebro das crianças. Apesar de o processo cognitivo que as leva a compreender melhor a linguagem digital ser plenamente entendido (é semelhante ao de aprender a língua mãe), ainda não se sabe exatamente como o uso da web vai mudar a massa cinzenta. De acordo com Gary Small, autor do livro iBrain, sobre as modificações que o cérebro está sofrendo com o uso da internet, fazer buscas no Google ativa uma área mais extensa do cérebro do que os pontos que são estimulados durante a leitura, por exemplo.
veja mais sobre:
A geração que desenha nosso futuro: Link - Estadao.com.br.
Dica do @personalizacao
Já se sabe que hoje em dia o estresse afeta adultos e criança, além de trazer inúmeros prejuízos em todos os aspectos da vida, como saúde e o comportamento social, seja nos pequenos ou nos mais velhos.
O que um estudo americano sugere agora é que filhos de pais estressados são mais vulneráveis a doenças.
O trabalho foi publicado em uma revista americana especializada no assunto chamada "Brain, Behavior and Immunity". Além do estresse, pais deprimidos também têm maiores chances de ter filhos mais propensos a doenças e infecções.
O estudo, realizado na Universidade de Rochester, acompanhou 169 crianças durante anos. Os pais registraram durante esses três anos todas as vezes que as crianças ficaram doentes. Além disso, os pais levavam as crianças de seis em seis meses para consultas com psiquiatras.
A médica Mary Caserta constatou que a ocorrência de doenças nas crianças foi maior naquelas que eram filhos de pais que tinham um alto nível de "estresse emocional".
Já é conhecido que em pessoas estressadas há um alto nível de células imunológicas (aquelas que combatem organismos estranhos presentes no corpo) no sangue e nesse estudo foi comprovado que no sangue de crianças filhos de pais estressados também há um maior índice de células imunológicas, algo totalmente incomum nesta fase de vida.
Lembre-se, mamãe, que o estresse cria maior dificuldade em parar de fumar. Consequentemente, a mamãe fumante tende-se a tornar ainda mais tensa devido ao cigarro, aumentando o estresse, ciclo prejudicial em todos os sentidos.
Amor pra curar o estresse - A criança precisa da ajuda de adultos para que cuide do seu corpo com alimentação e aprendizagem, mas se não houver um ambiente acolhedor e com afeto e amor não é possível se desenvolver plenamente e com saúde. Pais estressados podem deixar de demonstrar carinho aos seus filhos.
Já é sabido que bebês não sobrevivem sem amor. O afeto e o amor na infância e na juventude são tão importantes para a criança quanto uma boa alimentação com as vitaminas e proteínas necessárias que o corpo necessita para funcionar adequadamente.
O estudo sobre estresse dos pais e a saúde das crianças tem uma variável que os pesquisadores apontaram: ao deixar que os pais medissem o grau de doenças dos filhos pode ter mascarado o resultado da pesquisa, já que pais mais ansiosos poderiam ter mais tendência a achar que seus filhos estavam doentes.
Mas mesmo assim, os pesquisadores afirmam e sustentam que os resultados indicam uma forte ligação entre estresse dos pais e saúde das crianças.
Cuide de você, mamãe! Sua saúde mental e física em boa forma é essencial para que seu filho cresça saudável.
Ao entrar em casa, esqueça dos problemas do trabalho e lembre-se que você tem seus pequenos que precisam da sua atenção e amor.
Faça uma atividade que você, mamãe, goste e que lhe dê prazer e um tempo só para você. Ajuda a diminuir o estresse.
http://guiadobebe.uol.com.br
O mundo vive uma época de endeusamento da tecnologia. Nicholas Negroponte, criador do MediaLab e ex-professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), organiza um movimento mundial para dar um laptop a cada criança (Programa OLPC, sigla de One Laptop Per Child), como se o computador pudesse fazer o milagre de melhorar a qualidade da educação.
Com a mesma intenção, pais e professores estimulam o uso da internet por crianças e adolescentes, sem lhes dar qualquer orientação e, em especial, sem vigiá-los no uso da rede. O resultado menos negativo é a pura dispersão e desperdício do tempo dos jovens com joguinhos e sites impróprios sem qualquer valor educativo.
Governos anunciam planos para cobrir o País com a banda larga e levar a internet a todas as salas de aula - muito antes de preparar seus professores, pagar-lhes um salário digno e dar às escolas o mínimo de conforto e segurança. A maioria dos estudantes já faz "pesquisas" no Google, simplesmente colando textos, sem compreendê-los, sem nenhuma leitura atenta, sem reflexão e sem nenhum espírito crítico.
O que acontece no âmbito familiar é ainda mais preocupante. Se o leitor é um dos milhões de pais que não se importam com o que seus filhos estão vendo na internet, não deixe de ler o livro Como proteger seus filhos na internet - tradução do original norte-americano, How to Protect Your Children on the Internet: A Road Map for Parents and Teachers, de Gregory S. Smith, Westport: Praeger Publishers, 2007, que será publicado em 2009 pela Editora Novo Conceito.
Para o professor Valdemar Setzer, do Departamento de Ciências da Computação e do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP), em resenha sobre a obra em seu site, o livro de Gregory Smith "é um apelo aos pais no sentido de tomarem consciência do que é a tecnologia da internet e como restringir seu uso por crianças e adolescentes para que essa rede não seja mal usada por seus filhos.
O LIXO CIBERNÉTICO
É bom lembrar que, por mais benefícios que a internet nos possa trazer, quase metade de seu conteúdo é lixo da pior qualidade, que inclui pedofilia, armadilhas criminosas, propaganda nazista, instruções de como cometer suicídio (com conseqüências trágicas para vários jovens), violência e tentativas de fraude e furto de identidade, assédio e exposição a conteúdo sexual, venda e distribuição de drogas - além da disseminação de vírus e softwares espiões que invadem nossos computadores, furtam nossa identidade e transmitem a terceiros nossos dados pessoais, números de contas e senhas.
O maior perigo para os menores são as armadilhas de pedófilos e predadores, a inadequação de muitos conteúdos da rede mundial e, como diz G. Smith, o fato de todas as crianças e adolescentes serem naturalmente ingênuos, o que muitas vezes não é reconhecido pelos pais.
A propósito, a União Internacional de Telecomunicações (UIT), com sede em Genebra, lançou uma campanha de âmbito mundial, conclamando todos os países a "proteger a população das ameaças cibernéticas, em especial quando elas têm como alvo as crianças". Na realidade, a proteção principal deveria vir dos pais e das escolas.
Mesmo reconhecendo esses perigos, a maioria dos pais quase nada faz para evitar que seus filhos acessem a internet - no lar, na escola, na casa de amigos ou nos cibercafés - e corram os mais sérios riscos de se tornarem vítimas de criminosos de todo tipo.
INTERNET PARA QUÊ?
O professor Setzer não considera que haja nenhuma necessidade de uma criança ou adolescente usar a internet. "Mas se algum pai achar, erroneamente, que isso é essencial para seus filhos, minha recomendação é que esteja sempre, constantemente, ao lado deles enquanto usam a internet, controlando as páginas acessadas."
A mesma consideração vale para o computador: "Aprender a usá-lo também não é necessário. Certamente todos os adultos de hoje com mais de 30 anos não aprenderam a usar um computador quando crianças, e aprenderam facilmente a fazê-lo quando adultos. Não se pode permitir que uma criança use sozinha um computador, carregando nele, por exemplo, os programas que bem entende (na verdade, não entende)".
Em uma família, um computador deve ser sempre dos pais e nunca de uma criança ou jovem. O maior problema é que muitos garotos têm computador em seu quarto de dormir, totalmente fora do controle dos pais.
"Ora, o projeto Um Laptop por Criança visa justamente dar um computador a cada criança, que o levará a todos os lugares (enquanto não for furtado), podendo naturalmente usá-lo sem nenhum controle" - adverte o professor Setzer.
Uma das principais razões alegadas pelos pais para permitir o acesso das crianças à internet refere-se a trabalhos e projetos escolares. É urgente, portanto, conscientizar os professores do imenso perigo a que lançam as crianças e jovens, sem falar nos prejuízos para a educação.
(Mais informações em meu site: www.ethevaldo.com.br)
ESTADÃO de 23.11.08
Você já deve ter presenciado manifestações agressivas por parte das crianças. Morder, dar tapas, chutes, gritar. Entender esse comportamento requer paciência e sabedoria dos pais e educadores para olhar um pouco para o desenvolvimento da criança e por que se comporta agressivamente. Essa fase é também considerada manipulativa, ou seja, a criança agride para alcançar seus objetivos, como ganhar um brinquedo ou se defender.
É a forma que ela encontra de controlar o ambiente e suprir seus caprichos.
Por mais tolerância que os pais tenham, há dias em que o comportamento do filho parece insuportável, e eles sentem que podem perder o controle da situação. Essa é uma das razões para se dizer que a agressividade infantil ainda é um tema delicado de ser tratado, porque revela o comportamento e a própria personalidade da criança.
De acordo com a psicóloga Patrícia Spada, pode ser difícil para alguns pais que não têm familiaridade ou intimidade com sua própria agressividade. Quando não há causa física (doença, hospitalização, cirurgia) que a justifique, a agressividade da criança aparece como uma reação aos problemas da família.
Antes de tudo, é importante se questionar também a respeito das dificuldades pelas quais a família está passando, como por exemplo problemas financeiros, separação, mudança de casa ou escola, perda de um ente querido, etc.
Isso acaba envolvendo diretamente os pais, pois eles tendem a encarar seus conflitos e os dos filhos como fracasso ou incompetência. "Todos os seres humanos têm um impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade das pessoas, e ela começa no berço, quando ainda se é um bebê. Portanto, é algo natural", explica a psicóloga.
Cada ser humano é singular em seu desenvolvimento e as reações e comportamentos são herdadas geneticamente desde o feto. A psicóloga Patrícia aborda um pouco mais do que pode se considerar as causas desse comportamento:
Como identificar?
A especialista diz que as crianças se machucam muito ou que sofrem "acidentes" com freqüência estão revelando um tipo de comportamento de risco. Este comportamento mostra que algo não está indo bem, seja por desconsiderar situações de perigo ou por envolver-se nelas "sem querer".
A violência doméstica é um dos fatores mais determinantes para o desencadeamento de transtornos mentais na criança, uso de drogas, roubo, furto e transtornos alimentares como, por exemplo, a obesidade.
"Os pais devem ficar muito atentos, pois comportamentos agressivos são voltados para a própria criança. Quando é algo mais explícito e que envolve o meio social, é necessário que eles entendam o que está acontecendo com seu filho e o que o faz reagir ou agir de tal forma", ensina a psicóloga.
Outra maneira é pôr limites bem claros, ensinando a criança a colocar-se no lugar de quem foi machucado por ela e, com isso, desenvolver um sentimento de empatia que a faça administrar melhor os seus impulsos agressivos.
Um recado para os pais e educadores
Nesta jornada, um psicólogo especializado é muito bem capacitado para auxiliar os pais e a criança. O apoio é necessário, pois como os pais estão naturalmente envolvidos, é difícil enxergarem saídas e alternativas por viverem a situação.
Para os pais, o conselho da psicóloga Patrícia é o de acompanhar o desenvolvimento afetivo desde a gestação, fortalecendo o vínculo pai-mãe-filho, que implica num processo de se conhecer para ser capaz de lidar com suas emoções mais difíceis e, a partir daí, saber orientar a criança segundo seus próprios valores de forma justa, equilibrada e sadia.
Consultoria: Dra. Patrícia Spada, psicóloga (Unifesp).
www.jnjbrasil.com.br/noticia_full.asp?in=1¬icia=2066&pos=1
Uma leitora escreveu: "Estive no Shopping Eldorado neste sábado e fiquei muito incomodada com a configuração da loja de brinquedos PBKids, dividida entre "brinquedos de menina", decorada com a cor rosa, e "brinquedos de menino", azul por toda parte. Sou professora de educação infantil e sempre defendi o direito dos meus alunos de brincarem com os objetos que mais lhes interessassem. Quando eu era criança, carrinhos eram apenas carrinhos e ferrinhos de passar apenas ferrinhos de passar. Porém, de tempos para cá, tanto as fábricas quanto as lojas de brinquedos têm buscado demarcar fortemente os territórios das atividades femininas e masculinas, antes por meio das escolhas das cores e personagens da mídia e agora nominalmente. O que está acontecendo?"
Compartilho com o espanto de nossa leitora: muitas vezes, ao observar lojas de brinquedos, programas de televisão dirigidos a crianças e inclusive a orientação que muitos pais dão a seus filhos quando estes brincam, imagino que passei por algum tipo de túnel do tempo e fui parar mais ou menos na segunda metade do século passado.
Sim: já tivemos o tempo da divisão rígida de brinquedos para meninos e para meninas e isso valeu como regra até o fim da década de 50. Depois disso, com a contribuição de novas teorias educacionais e principalmente com a emancipação da mulher, pouco a pouco abandonamos essa atitude e passamos a permitir que as crianças escolhessem seus brinquedos sem grandes preocupações.
E não é que agora parece que estamos em movimento de retrocesso nessa história? Por que será?
Tenho algumas hipóteses. Uma delas é a imensa preocupação de alguns pais com a orientação sexual dos filhos. Sim, caros, muitos pais atualmente pensam desde muito cedo na possibilidade de o filho ou filha ter orientação homossexual no futuro.
Percebo isso ao ouvir perguntas preocupadas de pais e de professores de educação infantil a respeito de comportamentos que consideram "feminino" em meninos ou "masculino" em meninas; além disso, muitos pais perguntam também se o número de pessoas homossexuais tem crescido; finalmente, é cada vez maior a crença de muitos pais de que eles podem e devem determinar o futuro dos filhos por meio de atitudes que tomam quando estes são ainda pequenos.
Resumo da ópera: muitos pais e professores querem saber como evitar que as crianças de hoje se tornem homossexuais na vida adulta e, claro, o mercado de consumo capta esse anseio e transforma em ação. Essa minha conjectura faz sentido, não faz?
O que considero curioso nessa história é que, justamente quando atingimos na vida em sociedade um patamar considerável de luta contra preconceitos, construímos um mundo que pelo menos no discurso respeita a diversidade e incentiva a convivência com a diferença e, principalmente, quando a informação de que a homossexualidade deixou de ser considerada desvio ou doença é amplamente difundida, surge essa reação.
O que mais podemos e devemos fazer para que as crianças brinquem em paz, sem a interferência de nossos medos e preconceitos? A questão está aberta e o convite para a reflexão e sugestões está feito. Participe!
Rosely Sayão
http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/
É alarmante a quantidade de pais que ainda recorrem à palmada como método de "educação" em pleno século vinte e um.
Inseridos na "era da informação", temos acesso facilmente a publicações das mais diversas naturezas, pesquisas e campanhas de toda sorte que claramente expõem o quanto a palmada e outros tipos de castigos físicos são prejudiciais para o desenvolvimento criança não apenas do ponto de vista físico, mas também do moral, social, afetivo, dentre outros.
É lastimável saber que pais "modernos" têm criado seus filhos à luz do autoritarismo, da agressividade e da frieza da educação "tradicional", alegando ser um ato de amor, mesmo sabendo, muitas vezes, que a palmada não se trata de uma prática educativa.
Além de não ser educativa, a palmada é extremamente contraditória. Quem ama, não agride! Quem ama, não bate! Quem ama, educa, mas, infelizmente, bater é muito mais fácil que educar.
Bater em crianças é um atestado de incompetência, desequilíbrio e fracasso do adulto, que culmina em uma descarga de raiva quase sempre seguida por um sentimento de culpa. O ato de bater em crianças reforça a tão criticada relação de submissão do mais fraco ao mais forte, caracterizando um claro exemplo de covardia. Trata-se de um ato estressante para adultos e traumático para crianças. Além disso, não tem nenhuma garantia de eficácia e pode ocasionar dor, medo, ressentimento, rejeição e rebeldia que a curto, médio e longo prazo resultam sérios danos emocionais ao indivíduo agredido.
É preciso que nós, pais, aprendamos a educar nossos filhos de fato e, para isso, é necessário que construamos aos poucos um novo modelo de educação que proporcione às nossas crianças valores sólidos e disciplina sem utilizarmos qualquer tipo de violência física ou psicológica como ameaças, por exemplo, que podem ter um efeito impactante na construção da personalidade da criança.
Uma boa maneira de educar é fortalecer os vínculos e dar novos rumos à relação entre pais e filhos, construindo um ambiente de carinho, confiança e, sobretudo, respeito mútuo.
Elogie as boas condutas do seu filho. Aproxime-se, beije-o, abrace-o. Converse com ele. Pergunte-lhe como foi seu dia. Explique-lhe os porquês da vida. Faça seu filho entender que os direitos dele terminam onde começam os do outro. Diga "sim" quando puder e "não" quando for o caso. Ensine seu filho a lidar com as frustrações do cotidiano. Escute-o com atenção. Dê o exemplo, seja o exemplo. E, sobretudo, ame-o. Eduque-o com carinho e jamais utilize a violência para dar limites ao seu filho porque BATER EM CRIANÇA É COVARDIA! LEI SECA CONTRA A PALMADA JÁ!
Ana Carolina Thompson, 25 anos, professora, MÃE de dois filhos e participante da comunidade Pediatria Radical
Crianças precisam, é claro, ser orientadas na direção do comportamento responsável adulto, mas os pais não devem esperar que elas consigam isso de uma vez só. E não há nenhuma evidência convincente de que possa ser alcançado efetivamente empregando-se o velho ditado "é de pequenino que se torce o pepino". Castigo corporal em qualquer idade confunde e traumatiza a criança, pois ela não consegue entender por que a mãe e o pai que ela ama, e que supostamente a amam, passam repentinamente a ter raiva dela e lhe infligir dor física. Ela pode tornar-se insegura, ressentida e até inútil, e a conseqüência pode ser um dano psicológico.
O impacto do castigo físico no desenvolvimento da criança tem sido estudado exaustivamente, e o consenso é que a violência provoca danos tanto nos pais quanto nas crianças. O castigo não ensina à criança o que fazer e consegue apenas um benefício temporário, se conseguir, em ensinar-lhe o que não fazer. Não nego que, numa ocasião, levantei a mão, com raiva, mas, na maior parte do tempo, tentei conseguir o objetivo desejado com os meus filhos através da utilização do exemplo e da transmissão de encorajamento terno e amoroso. Estou mais do que satisfeito com os resultados. Espero e creio que meus netos, da mesma maneira, raramente experimentarão castigo físico por qualquer motivo.
Trecho do Livro: COMO CRIAR UM FILHO SAUDÁVEL... APESAR DO SEU PEDIATRA, do Dr. Robert Mendelsohn
www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=1651309
Mãe nunca é tão mãe como na hora em que dá de comer ao filho. Contabilize a quantidade de vezes em que você negociou (Só mais um pouquinho, vai!), fez alguma brincadeira (Olha o aviãozinho!) ou lançou mão de uma chantagem 'do bem' (Quem não come o salgado não ganha o doce!) esta semana. De fato, não há tarefa para a qual uma mãe se dedique com mais afinco.
Pode-se atribuir o bom e velho instinto materno, já que alimentação e sobrevivência estão diretamente ligadas. Muitas vezes, no entanto, a relação da mãe com a alimentação do filho é puramente emocional.
'A maioria acha que a criança não come o suficiente', atesta o nutrólogo Mauro Fisberg, chefe do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do Centro de Pesquisas Aplicadas à Saúde e Nutrição da Universidade São Marcos. 'Só que isso, normalmente, não corresponde à realidade. Crescimento e desenvolvimento adequados indicam se a alimentação está correta.' Difícil mesmo é ver uma mãe satisfeita com essa explicação.
Em geral, quando a mãe reclama que o filho não come, está se referindo ao fato de ele rejeitar um grupo de alimentos: frutas, verduras e legumes.
É uma verdadeira queda-de-braço, em que os adultos não conseguem respeitar as vontades da criança, o que leva muitas vezes a criança a comer mal e errado. Se nós trocamos arroz, feijão e bife por um sanduíche, eventualmente, as crianças também têm suas vontades. Só que a capacidade de a mãe tolerar a recusa do filho é muito menor do que a teimosia dele.
E as crianças resistem bem comendo mais ou menos até (acredite!) 15 dias. Haja coração. CRESCER falou com especialistas e selecionou as melhores dicas para lidar com a questão. Bom proveito!
O leite, rico em cálcio, é um dos alimentos mais importantes na vida dos bebês, fundamental para o crescimento e o fortalecimento dos ossos. Mas até completar 1 ano de vida, ele não deve ingerir leite de vaca in natura: além de aumentar a chance de provocar reações alérgicas, esse leite não tem os nutrientes em quantidades adequadas. Os pediatras costumam recomendar os modificados, em pó. Normalmente bem aceito, o leite torna-se um problema quando a criança, maior, não quer experimentar outros alimentos. Ou, ao contrário, se tem aversão a ele.
Crianças que ingerem grandes quantidades de leite tendem a comer menos nas refeições. Procure diminuir o volume e a freqüência. Evite leite após as refeições, pois o cálcio diminui a absorção do ferro.
A recusa do leite pode estar associada com intolerância à lactose, que causa desconforto intestinal. A intolerância pode ter uma característica genética e é mais freqüente em alguns povos, como os orientais. É possível encontrar no mercado até iogurte sem lactose. O cálcio também está presente em alguns peixes, em vegetais como a couve e no tofu.
A partir do sexto mês, a Organização Mundial da Saúde recomenda a introdução de outros alimentos, além do leite materno (dependendo do pediatra, isso pode acontecer a partir do quarto mês). Normalmente, suco, fruta e papinha são dados pela ordem mais aceita. Nesse momento, os estoques de ferro do bebê, provenientes da gestação, já estão em baixa e passam a ser repostos pela ingestão de carnes vermelhas e verduras de folhas verde-escuras, como brócolis, couve, etc. O ferro, aliás, é melhor absorvido se for incluída vitamina C na refeição, em um suco de laranja, por exemplo.
Não se desespere! Se o seu filho não comeu em uma das cinco refeições do dia, mantenha as quantidades habituais na seguinte e evite guloseimas fora de hora. Se a fome apertar, lembre-o de que isso, provavelmente, tem relação com o tal almoço pela metade. Acredite, se eles descobrem que uma mãe aflita abre exceções (às vezes bem mais sedutoras), a história tende a se complicar cada vez mais.
Às vezes, é preciso expor a criança de 10 a 15 vezes ao mesmo alimento até que ela o aceite. É uma espécie de defesa diante de algo que pode fazer-lhe mal. Um dia, ela adora determinado alimento. Depois de um tempo, passa a odiá-lo. E o contrário também acontece.
A criança é muito instável em seus apetites e gostos. Paciência. Jamais tire de vez do cardápio o alimento que foi recusado. Ele pode voltar a ser apreciado quando você menos imagina. Experimente oferecer esses ingredientes em outros formatos.
Que tal um pastel, croquete ou sanduíche com recheio de verduras e legumes? Cheeseburger com alface e cenoura ralada? Omelete com escarola, queijo e peito de peru? Substitua a massa da lasanha por abobrinha fatiada. Sucos podem mesclar frutas e hortaliças, como o de goiaba com agrião e melão.
Não torne o horário da refeição um tormento.
Evite frases do tipo: Se comer tudo, mamãe vai ficar feliz, Se não comer, vai para a cama agora, Só sairá da mesa se comer tudo. Prefira dizer: Nem vou lhe dizer que comer verdura é importante para você crescer porque é inteligente e sabe disso ou Você não é obrigado a comer, mas um bifinho ajuda a crescer, ficar forte e saudável. Quando seu filho comer de forma equilibrada e saudável, não deixe de elogiar.
Quem começa fazendo aviãozinho pode se ver obrigado a construir até nave espacial para o filho comer! Essas atitudes desviam a atenção e comprometem a percepção dos alimentos. Saiba que, nos primeiros meses de vida, o bebê tem um reflexo de cuspir o alimento que encosta na ponta da língua. A dica é colocar o alimento no canto da boca com uma colher pequena.
Depende. Alimentos enriquecidos com vitaminas e minerais podem ser úteis em casos de deficiência nutricional. Mas é preciso escolher bem. Muitos deles não passam de um monte de açúcar, gordura, corantes e aromas artificiais, adicionados de vitaminas e minerais.
Quando a criança começa a se mover com mais desenvoltura - entre 3 e 5 anos -, diminui o seu interesse pela comida, que até então era uma grande fonte de prazer. Tente se conformar. Nessa fase, elas estão muito mais preocupadas em explorar o mundo! Uma dica é deixar seu filho, literalmente, pôr a mão na massa. Ele vai adorar!
Numa dieta saudável, não podem faltar carboidratos (encontrados nos cereais, macarrão, batata, mandioca, pães e farinhas), gorduras (óleos vegetais, azeite, manteiga), proteínas (carnes, frango, peixes e ovos - antes dos 10 meses, use apenas a gema), vitaminas e minerais.
As mães tendem a desprezar os carboidratos e as gorduras por acreditar que eles 'só' fornecem calorias. Um engano. As proteínas - importantes no crescimento - são como os tijolos de uma casa, mas os carboidratos e gorduras são a argamassa, fixam os tijolos. Não exclua nenhum grupo. O ideal é equilibrar a alimentação.
Falta de carboidrato, por exemplo, causa desânimo e dor de cabeça. Gorduras ajudam na absorção de algumas vitaminas, mas com a epidemia de obesidade, é preciso maneirar. Asse em vez de fritar, tire a pele das aves.
Se no café-da-manhã ele só tomou leite (proteína) com cereais (carboidratos), significa que estão faltando vitaminas e minerais. Então, no lanche da manhã, ofereça sucos, por exemplo.
A carência desse grupo faz com que a criança se canse com mais facilidade e fique suscetível a doenças.
Falta de vitaminas B1 (fígado, leite, aves, peixes, leguminosas, grãos integrais), B12 (carne, fígado, ovos, leite e derivados), C (limão, laranja, tomate, folhas verdes), ácido fólico (miúdos, folhas verde-escuras, abacate, damasco), ferro, zinco (carnes, grãos integrais, fígado), cobre (grãos integrais, legumes, nozes) e magnésio (cereais integrais, pipoca, germe de trigo) pode levar à falta de apetite.
Respeite o tempo do seu filho: ele é diferente do seu. Reserve um intervalo para que a refeição transcorra sem pressa. Não demonstre irritação ou ansiedade no momento da recusa. A criança deve se sentir confortável e tranqüila no momento da refeição.
Ofereça os alimentos em quantidades pequenas para encorajar a criança a comer. Muitas mães se baseiam no tamanho do prato ou da mamadeira na hora de estimar se o filho está comendo bem. Mas esses utensílios não devem ser usados como referência, pois em sua maioria são feitos por designers, que raramente fazem pesquisas com uma amostragem significativa de crianças. Além do mais, os tamanhos variam conforme a indústria e a época.
Os valores diários de nutrientes para cada faixa etária são úteis para os especialistas como um parâmetro da necessidade média da população. Dificilmente um leigo consegue equacionar todas as necessidades do filho sem causar algum desequilíbrio. Exemplo: se ficar atento só à quantidade de cálcio, acabará se esquecendo do ferro, fósforo, sódio, cobre, etc.
São muitas variáveis! De acordo com especialistas, 30 variedades de alimentos por dia, incluindo azeite, sal e temperos como salsinha, são suficientes para fornecer todos os nutrientes. Em uma sopa de legumes, podem ser incluídos até dez ingredientes. O que também vale para a necessidade calórica, que varia conforme a atividade do bebê. Só para ter uma idéia, veja a média de calorias diárias para cada faixa etária:
- 6 a 12 meses - 900 calorias
- 1 a 3 anos - 1.300
- 4 a 6 anos - 1.800
- 7 a 10 anos - 2.000
Quando chegar a hora de passar do leite para a fruta, apresente as novidades separadamente, para que a criança identifique os sabores. As papinhas devem ser amassadas com o garfo (jamais no liquidificador) para estimular a mastigação. Não se esqueça de condimentos, como azeite, cebola, alho e sal. Um prato bonito e variado estimula o apetite. Se for divertido, mais ainda.
De vez em quando, vale fazer junto com o filho desenhos com a comida, como carinhas, barquinhos, etc. O arroz pode ser misturado com beterraba ou cenoura, ou purê de folhas como almeirão ou agrião cozidos e batidos no liquidificador. Assim os alimentos ficam diferentes e não perdem as vitaminas pelo cozimento. Outra idéia é cozinhar o espinafre e batê-lo junto à massa da panqueca ou do nhoque.
Os salgadinhos do tipo chips e isotônicos têm alto teor de sódio. Em excesso, elevam a pressão arterial. Modere. Para hidratar, prefira água-de-coco ou sucos naturais. Diet ou light não são necessários, a não ser em casos em que há prescrição médica.
Os alimentos integrais, ao contrário dos refinados, mantêm nutrientes importantes para a saúde, como fibras, vitaminas e minerais.
Dizer que só ganha sobremesa quem come todo o prato ensina apenas que a refeição é um meio para chegar a algo realmente desejado. Se você quer afastar seu filho da obesidade, não supervalorize os doces. Caso contrário, você pode estar condicionando seu filho a buscar premiação na comida. Dê-lhe abraços, beijos e muita atenção. Sem açúcar, mas com afeto.
Isadora, 6 anos, tem suas preferências e aversões. Não gosta de alface e tomate, mas adora arroz, feijão, bife, batata e brócolis. Ok. Hoje em dia tem mais paciência à mesa e domina bem o garfo e a faca, conta a mãe, Amanda Cimarys Camargo
Você é quem decide o que comprar e servir aos seus filhos. Apesar dos clamores pelo que é menos nutritivo, quando a criança tiver fome, vai comer o que estiver na geladeira. Evite ter em casa salgadinhos, refrigerantes, chocolates, biscoitos. Quando oferecer, separe uma porção, jamais entregue o pacote inteiro.
Apesar de não haver estudos que relacionem o aparecimento de doenças ao consumo de alimentos não-orgânicos, pois isso depende de vários fatores, entre eles os genéticos, o bom senso recomenda que menos química é melhor. O fato de não conterem agrotóxicos também não os torna a única opção no mercado para quem se preocupa com a saúde, já que uma boa higiene dos vegetais é capaz de retirar quase todos os resíduos. Lavar os morangos com água, por exemplo, elimina 90% do agrotóxico da fruta. É bom colocar os vegetais de molho durante 15 minutos, de preferência no bicarbonato de sódio ou solução clorada.
Se você faz careta para fígado, espinafre, jiló ou qualquer outro alimento, saiba que as chances de o seu filho comer essas coisas são mínimas. Se você come em frente da TV, não espere que o seu filho sente à mesa com prazer! Alimentar não é apenas nutrir. É ensinar a comer, uma relação que vai repercutir para sempre em sua saúde e seu estilo de vida.
Aproxime seu filho dos vegetais. Se tiver um quintal, convide-o a plantar. Pode ser até mesmo em vasos. Na impossibilidade, leve-o à feira ou ao supermercado. Mostre cada alimento e deixe-o escolher.
Fontes: Mauro Fisberg, nutrólogo, autor de Atualização em Obesidade na Infância e Adolescência (Editora Atheneu); nutricionistas Camila Leonel Mendes de Abreu, Cristina Teruko Kariya (Instituto da Criança); Hellen Daniela de Souza Coelho (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo); Jocelem Mastrodi Salgado, professora da Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP) e autora de A Alimentação Que Previne Doenças do Pré-Natal ao 2º Ano de Vida
Orientar os filhos a não aceitarem doces, presentes, ou qualquer outro objeto de estranhos, podendo aceitá-los de conhecidos e parentes, somente com prévio consentimento dos responsáveis.
Manter bom relacionamento com a vizinhança.
Procurar conhecer as pessoas que convivem com seu filho.
Participar ativamente dos eventos envolvendo o seu filho, como aqueles ocorridos em escolas e aniversários.
Ensinar ao seu filho o seu nome completo, endereço e telefone e os nomes dos pais e irmãos.
Não autorizar o seu filho a brincar na rua sem a supervisão de um adulto conhecido.
Evite deixar o seu filho em casa sozinho.
Providenciar a carteira de identidade do seu filho, através do Instituto de Identificação.
Faça com que as pessoas, que necessitam de atenção especial, que vivem sob sua responsabilidade tenham sempre consigo (no bolso ou gravado em uma medalha) seus dados de identificação.
Observe o comportamento do seu filho, ficando atento às possíveis mudanças.
Conheça o tipo sangüíneo e o fator RH da criança.
Seja amigo do seu filho, deixando-o à vontade para confidenciar-lhe os seus problemas ou vitórias.
Não permita a saída de criança com pessoa não autorizada pelos responsáveis.
Observar o ambiente nas proximidades da escola, comunicando qualquer fato suspeito, imediatamente, à Polícia.
Observar, durante o atendimento, o comportamento dos responsáveis pelas crianças e, caso percebam alguma coisa estranha e dificuldades deles em prestar informações sobre o próprio filho, comunicar a suspeita à Polícia.
Registrar os dados do menor ou adulto quando eles derem entrada na instituição. Quando tratar-se de pessos sem identificação ou que, por algum motivo, pareça ser uma pessoa desaparecida entre em contato com a Polícia Civil.
Nos passeios manter-se atento e não descuidar das crianças;
Procurar conversar todos os dias com os filhos, observar a roupa que vestem e se apresentam comportamento diferente;
Fique atento à mudança de comportamento de seu filho, pois isto pode indicar que o mesmo poderá fugir de casa;
Uma boa conversa com seu filho, pode livrar você de momentos de angústia e desespero;
Procurar conhecer todos os amigos do seu filho, onde moram e com quem moram;
Acompanhá-los a escola, na ida e na volta, e avisar o responsável da escola quem irá retirar a criança;
Colocar na criança bilhetes ou cartões de identificação com nome da criança e dos pais, endereço e telefone, orientar a criança quanto ao uso do cartão telefônico, bem como fazer chamadas a cobrar para pelo menos três números de parentes, e avisá-los desta orientação;
Não deixar as crianças com pessoas desconhecidas, nem que seja por um breve período de tempo, pois muitos casos de desaparecimento ocorrem nestas circunstâncias;
Fazer o mais cedo o possível a carteira de identidade no Instituto de Identificação do seu Estado;
Manter em local seguro, trancado e distante do alcance das crianças arma de fogo, facas, qualquer objeto ou produto que possa colocar a vida delas ou outras pessoas em risco;
Orientar as crianças a não se afastar dos pais e fiscalizá-las constantemente;
Ensiná-las a sempre que estiverem em dificuldade a procurar uma viatura policial, ou um policial fardado (PM ou Guarda Municipal), e pedir ajuda;
Evitar lugares com aglomeração de pessoas;
Perdendo a criança de vista, pedir imediatamente ajuda a populares para auxiliar nas buscas e avisar a polícia.
Em primeiro lugar, manter a calma;
Caso esteja sozinho, peça auxilio para que acionem imediatamente a polícia. Não existe prazo para comunicar o desaparecimento, faça-o imediatamente;
Manter alguém no local onde a criança foi vista pela última vez, pois ela poderá retornar ao local;
Deixar alguém no telefone indicado no cartão de identificação da criança, até para centralizar informações;
Avisar amigos e parentes, o mais rápido possível, principalmente os de endereço conhecido da criança, para onde ela possa se dirigir;
Percorrer os locais de preferência da criança;
Ter sempre a mão foto da criança;
Ter sempre em mente a vestimenta da criança para descrevê-la, procurando vesti-la com roupas detalhadas, de fácil visualização e identificação (cores berrantes, desenhos, etc
);
Procurar a Delegacia e Conselho Tutelar e pedir auxílio.
Repressão excessiva, excesso de controle;
Castigos excessivos e exagerados, desproporcionais ao fato. Ex: a criança comete uma pequena falta e leva uma surra;
Desleixo dos pais, a criança sente-se rejeitada e desprezada e foge para chamar a atenção;
Muitas das fugas do lar têm por motivos o mau desempenho escolar, as responsabilidades domésticas que são atribuídas a elas e até mesmo pequenos ofícios, como venda de doces e salgados;
O espírito aventureiro também é um dos grandes responsáveis pela fuga de crianças.
Subtração de incapaz (A criança é raptada para viver em outro lar)
Rapto consensual
Rapto por estranhos
Observar o comportamento de novos vizinhos em relação ao tratamento dispensado ao menores que com eles convivem, comunicando à Polícia qualquer fato suspeito.
Observar, em via pública, o trânsito de menores desacompanhados, idosos e portadores de necessidades especiais, caso apresentem desorientação, possibilidade de extravio ou mesmo dificuldade de expressão, comunique o fato à Polícia para queprestem a devida assistência antes que ocorra o seu paradeiro. O ideal é que você possa levar a pessoa até o posto policial mais próximo.
Comunicar e registrar o desaparecimento do menor ou do adulto imediatamente após constatada a sua ausência, na Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida. Deve-se apresentar fotografia e documentação do ausente, caso existente, para início da busca. Para o menor, é necessária a apresentação da cópia da certidão de nascimento. No entanto, a ausência do documento não impede o registro e a busca.
Caso ocorra o retorno voluntário do desaparecido ao lar, contatar a Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, comunicando o fato.
Ministério da Justiça
www.desaparecidos.mj.gov.br
Crianças desaparecidas em SP
www.policia-civ.sp.gov.br/desap/desap_lista.asp?tipo=1&pagenumber=1
Crianças desaparecidas - RJ
www.fia.rj.gov.br/SOS.htm
Minas Gerais
www.desaparecidos.mg.gov.br
Paraná
www.pr.gov.br/policiacivil/sicride/criancas_desaparecidas.shtml
Rio Grande do Sul
www.desaparecidos.rs.gov.br/
Goiânia-GO
www.goiania.go.gov.br/html/sosdesaparecidas/sos.htm
O número nacional para informações sobre crianças desaparecidas é o Disque 100.
FONTE: SICRIDE E POLÍCIA DE MG, COM ADAPTAÇÕES DO BLOG DIGA NÃO À EROTIZAÇÃO INFANTIL
O trabalho do Departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária da Uerj analisou 260 alunos de 10 a 19 anos de uma escola pública no Rio de Janeiro e verificou que 15,6% estavam acima do peso recomendado para a sua faixa etária e 11,7% já poderiam ser consideradas obesos. Nos Estados Unidos, 17% estão nessa situação, embora essa categoria não seja adotada.
"Em uma geração, essa situação já pode estar muito parecida com a dos Estados Unidos", afirma a médica de família Débora Teixeira, uma das autoras do estudo. "Nossos padrões alimentares copiam muito o dos americanos: muito açúcar, muito carboidrato."
No Brasil, uma criança tem excesso de peso quando está acima do percentil 85 da curva de índice de massa corporal ideal (IMC) para a sua faixa etária; para ser considerado obeso, é preciso ultrapassar o percentil 95.
O IMC é calculado pela divisão do peso em quilos pela altura da pessoa ao quadrado. No caso de adultos, uma pessoa é considerada acima do peso quando tem um IMC acima de um número determinado.
Para as crianças, foi desenvolvido um gráfico em curva com base em IMCs de crianças do mundo todo. Dessa forma, o índice é inserido em uma faixa mais flexível do que a tabela utilizada para adultos.
"Se uma criança estiver no percentil 85, significa que ela está acima de 85% das crianças daquela faixa etária. Por isso, ela é considerada acima do peso."
Nos Estados Unidos, o Centro para Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) só considera acima do peso quem estiver no percentil 95.
Mas especialistas como o pediatra Mark Jacobson, da Associação Americana de Pediatria, já consideram a saúde de uma criança comprometida no percentil 85.
Segundo Jacobson, se o cálculo incluísse o percentil 85, no Estado de Nova York, por exemplo, 42% das crianças já poderiam ser consideradas com "excesso de peso". No caso da escola de Vila Isabel analisada pela Uerj, por exemplo, crianças acima do peso e obesas somam 27,3%.
Teixeira diz que o estudo da Uerj retrata uma realidade específica, de uma escola urbana freqüentada por alunos da classe C, mas indica um quadro observado com cada vez mais freqüência no país.
"A gente sabe que o problema está piorando, esse estudo ajuda a gente a ter uma noção se essas pessoas vão melhorar ou não."
O endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade, ressalta que, embora o Brasil esteja atrás dos Estados Unidos, o problema tem piorado tanto que, se nada for feito, o país pode caminhar para uma situação "até mais grave" do que a americana.
"Nós ainda estamos passando por uma mudança, com aumento do acesso a TV, automóvel e telefone. Nos Estados Unidos, eles já passaram por isso há 40 anos."
Jacobson também vê o risco de o Brasil seguir o caminho dos seus compatriotas. "Há semelhanças: as crianças estão mais urbanas, há menos oportunidades para atividades físicas, o fast-food está se disseminando", diz o pediatra, que já fez diversas palestras sobre o assunto no Brasil.
Uma criança obesa não só tem mais chances de se tornar um adulto obeso como aumenta as suas chances de desenvolver doenças como diabetes, hipertensão e problemas cardíacos.
"É muito assustador porque a quantidade de pessoas que têm já problema de pressão, obesidade, diabetes é muito grande", afirma a médica Maria Inez Padula Anderson, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e uma das autoras do estudo.
"Isso (o estudo) faz a gente imaginar que a criança vai estar na mesma situação em uma idade anterior", acrescenta.
Além dos problemas físicos, a criança tende a enfrentar problemas de auto-estima que podem dificultar os seus relacionamentos e aprendizado escolar, acrescenta Débora Teixeira.
Com base em estudos recentes que indicam que a obesidade dos pais é o maior fator de risco para uma criança se tornar obesa, as pesquisadoras da Uerj também avaliaram a relação entre a silhueta dos pais e a dos filhos.
De acordo com os resultados, 37,9% dos meninos acima do peso relataram ter pais com esse problema; entre os jovens com peso normal, esse índice foi de 28,7%.
O fato de as crianças que participaram do estudo serem de classe média/classe média baixa também é interpretado pelos pesquisadores como um sinal de que pelo menos hoje no Brasil não é preciso ser rico para comer demais.
Na realidade, segundo Teixeira, a pobreza pode ser "um fator de risco" para a obesidade, já que os alimentos mais baratos hoje em dia são os industrializados, com alto índice de açúcar e gordura.
Para a médica, mais acostumado a debater problemas como a fome e a desnutrição, o Brasil ainda precisa acordar para a complexidade do problema de obesidade.
"A consciência de que a obesidade é uma doença, um problema de saúde grave, é recente, não tem mais de dez, 15 anos", diz a pesquisadora. "O povo brasileiro tem uma preocupação grande com a estética, mas falta compreender o problema do ponto de vista da saúde."
Uma pesquisa feita pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, concluiu que corantes e conservantes encontrados em alimentos infantis e refrigerantes podem ser relacionados a hiperatividade e distúrbios de concentração em crianças.
O estudo - encomendado pela Food Standards Agency, a Vigilância Sanitária da Grã-Bretanha, e publicado na revista científica Lancet - oferecia três tipos diferentes de bebidas a um grupo de 300 crianças de três, oito e nove anos de idade.
Uma das bebidas continha uma forte mistura de corantes e conservantes, outra tinha a quantidade média de aditivos que as crianças ingerem por dia, e a última era um placebo, sem nenhum aditivo.
Os níveis de hiperatividade foram medidos antes e depois de as crianças beberem um dos líquidos aleatoriamente.
Coquetel de aditivos
O grupo que ingeriu a mistura A, com alto nível de aditivos, teve "efeitos adversos significativos" em comparação com o que bebeu o placebo.
O pesquisador responsável pelo estudo, Jim Stevenson, defendeu que algumas misturas de corantes artificiais e benzoato de sódio, um conservante usado em sorvetes e doces, estavam ligadas a um aumento de hiperatividade.
"No entanto, os pais não devem achar que é possível prevenir problemas de hiperatividade completamente apenas retirando esses aditivos da comida", explicou ele.
"Sabemos que há muitos outros fatores nessa questão, mas pelo menos este (a ingestão de aditivos) é um que a criança pode evitar."
Hiperatividade
Entre 5% e 10% das crianças em idade escolar sofrem algum tipo de desordem de atenção, com sintomas como impulsividade, dificuldade de concentração e atividade excessiva.
Mais meninos que meninas são diagnosticados com o problema e as crianças afetadas pela condição geralmente tem dificuldades acadêmicas, com um desempenho fraco na escola.
Médicos dizem que fatores como a genética, o nascimento prematuro, o ambiente e a criação também podem ser associados à hiperatividade.
"O ABC deve ser apresentado como um enigma a ser desvendado. Um jogo no qual as peças se encaixam formando a compreensão do todo. E a ilustração é um recurso que deve ser muito explorado". A análise é da escritora e ilustradora Angela Lago, que discutiu a importância da construção da imagem na literatura infantil durante seminário sobre o tema.
Para ela, a imagem encaminha a criança para a leitura do texto e a narrativa passa a ser apropriada a partir da utilização de alguns elementos chave, que partem muitas vezes da própria forma da criança ver o mundo. "Os recursos que as crianças utilizam em seus desenhos são fundamentais para que o escritor e o ilustrador se comuniquem com elas", disse.
Lago pontuou que a criança precisa encontrar nas imagens a expressividade que a ajude a compreender o texto. "O ilustrador precisa se valer de artimanhas para ir além do considerado 'normal'. Ele precisa entender que existem mil possibilidades para se contar uma história", contou, incluindo nessas técnicas a possibilidade de se rebater (virar) a perspectiva, fazer desenhos em "raios-X", modificar proporções, entre outras. "A ilustração não é necessariamente fotográfica, ela é realista de acordo com aquilo que a história propõe", explicou.
Para a ilustradora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Graça Lima, é preciso ponderar o problema do culto à imagem. "A criança convive o tempo todo com estímulos imagéticos muito voltados ao consumo, à propaganda. Fora que devemos lembrar que as imagens são a Xuxa, Rebeldes, enfim. É preciso entender o que essas crianças estão vendo para entender com o que se relacionam", pontuou.
Para ela não é possível fazer leitores por imposição. Ao invés disso, é preciso realizar um movimento de apropriação do texto, tanto verbal quanto imagético. "Não dá para ensinar sem motivar a paixão por algo. É preciso se apaixonar pela arte", pontuou. A professora retomou a idéia de uma alfabetização visual que seja capaz de dar conta de novas oportunidades de imagem, rompendo com os paradigmas e ícones atuais. "Para isso precisamos cada vez mais pensar na nossa cultura local e quais símbolos traduzem a infância", lembrando da possibilidade de fugir de figuras como os Menudos e apresentadoras de televisão.
Segundo Lima, há ainda a importância de ver a ilustração como algo além do bonitinho. "Há um grande trabalho de pesquisa por trás de cada ilustração. É preciso trazer novas influências e pensar constantemente a imagem, pois só assim estaremos dando uma formação pedagógica do olhar", ponderou.
Lago completou a questão ao insistir que o prazer em ler da criança está justamente na constatação da sua autonomia. "Ela fica orgulhosa quando vai virando as páginas do livro e percebendo que está entendendo a leitura e vai fazendo as relações entre realidade e fantasia. Ela tem consciência da importância dessas relações", observou.
Para Lago, a literatura possibilita esse encontro, trazendo a fantasia como parte integrante do cotidiano. "É a partir daí que a criança faz do livro uma obra de arte ou não. Está nela a beleza de ler", ponderou.
Lago disse que se fosse professora começaria todas as aulas com um conto de fadas. "Eles são a entrada mais linda para a literatura. Prazer rima com saber e quer algo mais divertido que saber sobre si mesmo?", se perguntou, incentivando que as professoras ouçam mais o alunado e que, entre outras inúmeras possibilidades, o trabalho com os contos de fadas e fábulas abre portas e janelas para a apropriação da alteridade. "As histórias, além de muito ricas, permitem inúmeras discussões interessantes", disse.
Para a ilustradora o único problema está no fato de com o passar dos anos as ilustrações perderem espaço nos livros. "A ilustração também pode ser e deve ser apreciada por um adulto", reclamou, concluindo que os desenhos podem ser mais que acessórios do texto, assumindo em si uma linguagem ou uma história paralela.
(Envolverde/Aprendiz)
Não vale manter os filhos na barra da saia e, mais tarde, reclamar que eles não sabem cuidar da própria vida. A independência é construída passo a passo e o cotidiano está cheio de oportunidades para incentivá-la.
Seria ótimo se a autonomia dos filhos acontecesse naturalmente com o passar do tempo. Mas, no fundo, a gente sabe que depende de educação e de um exercício de paciência e coragem dos pais. "Autonomia tem a ver com liberdade, e liberdade é competência", afirma a psicoterapeuta Lidia Aratangy, autora de vários livros, sendo o mais recente Pais Que Educam Filhos Que Educam Pais (Celebris). Em cada fase, a criança desenvolve uma habilidade, novos riscos se apresentam e, com eles, novos treinos - até que ela domine várias competências", explica. Cabe à família estimular o processo, que ocorre por meio de acertos e erros. O mesmo raciocínio vale para o momento de tirar a fralda, andar, comer, guardar os brinquedos, aprender a ler, fazer a lição, tomar banho sozinho e por aí vai, até a hora de alçar vôos maiores.
O valor das conquistas
Cada etapa vencida alimenta a autoconfiança. Leonardo, por exemplo, aos 5 anos se acha o máximo porque toma banho e escova os dentes sozinho. A mãe, a artista plástica Gabriela Galizia, comemora suas façanhas sem nunca abandonar a supervisão. "Para se trocar, Léo sempre embroma. Tem preguiça e fica pelado pulando pelo quarto", revela. Ela insiste porque sabe que ele pode dar conta do recado - a partir dos 2 anos os pequenos já começam a tentar se vestir. Aos 3, alguns, como a irmã de Léo, Catarina, nem precisam mais de ajuda.
O momento de dormir é outro desafio. Como à noite os temores afloram, a maioria reclama a companhia dos pais no quarto ou logo pula para a cama deles. Gabriela combate manhas e medos com um ritual à base de leite quente e histórias. Lidia, a psicoterapeuta, afirma que o segredo é esse mesmo - estabelecer rotinas aconchegantes e combinar antes quantas histórias serão contadas. Para os menorzinhos, ela não condena a chupeta desde que seja usada só à noite. Todos os esforços para que a criança vá se acostumando a dormir sozinha valem a pena, pois, dessa forma, na adolescência terá condições de regular o repouso. "Aí o foco deve ser o cumprimento dos compromissos", define Lidia. "Não interessa se o garoto passou a noite inteira ouvindo música. O importante é que ele não deixe de lado as responsabilidades da manhã seguinte, já que tem idade para arcar com as conseqüências de suas escolhas." Se não consegue, tudo indica que sua educação deixou a desejar e então vai ser necessário reparar o prejuízo.
"A autonomia é um processo, uma construção gradual, da qual muitos pais não têm consciência", diz a especialista. Às vezes o alarme só dispara na puberdade. "Nesse caso, ainda que a mãe reconheça a dependência do filho, com freqüência não percebe que o nó está relacionado ao fato de ela ter feito as lições por ele. Ou ao fato de protegê-lo demais: se ele não queria acordar cedo, ela o vestia e só o acordava na porta da escola para que dormisse mais um pouquinho..." Tais atitudes impedem o crescimento e, sorrateiramente, enviam a mensagem de que ele pode fazer o que bem entender. "É assim que se criam crianças chatas, birrentas e dependentes", alerta Lidia. A educação voltada para a autonomia não significa liberar geral. Ao contrário, a noção de limite é indispensável e, segundo a psicoterapeuta, não é transmitida apenas oralmente, incluindo também intricados códigos de afeto. "Se a criança associar que amar é ouvir sim o tempo todo, está perdida. Reproduzirá esse padrão no futuro, reagindo mal a qualquer tipo de negativa, e não vai adquirir jogo de cintura para negociações." Sua capacidade de tomar decisões acertadas será afetada e terá dificuldade para fazer uma dieta ou recusar drogas, por exemplo, já que nunca experimentou frustrações na infância nem aceitou restrições aos prazeres imediatos.
Liberdade se aprende
As irmãs Marcella, 15 anos, e Beatriz, 13, começaram a freqüentar acampamentos infantis quando estavam respectivamente com 6 e 4 anos. "A Marcella era mais tímida e me preocupava, mas no fim ela ficou eufórica com o troféu de melhor campista do grupo!", conta a mãe, a produtora de eventos Maria Regina Grilli. Propiciar situações em que as crianças terão chance de se virar sem o auxílio familiar é uma ótima pedida - mas dá trabalho.
Antes da aventura, Regina enfrentou uma verdadeira maratona a fim de selecionar uma empresa de confiança. Tudo acertado, as garotas fizeram as malas com a mãe, receberam algumas instruções, como guardar a roupa suja em um saco separado, e partiram. Voltaram felizes e amadurecidas. Há dois anos, novo treinamento, dessa vez para ir à escola de ônibus. "Quem mora em São Paulo tem medo, mas não quero que isso atrapalhe o desenvolvimento delas. Comemorei cada conquista e me sinto pronta para as próximas.
Meu marido fica enciumado desde já, mas eu estou curiosa para conhecer os futuros namorados. Também quero que elas participem de intercâmbios, estudando fora do país durante uma temporada. Confio que estarão preparadas. Desde pequenas, precisam saber que o mundo não é só pai e mãe e que vale a pena conhecê-lo", afirma Regina. Ela mesma não teve essa formação. Única mulher entre dois irmãos, construiu a própria autonomia com luta e amargou sérios embates com a mãe. "Tive que vencer a repressão familiar. Bati a cabeça, mas aprendi muito. Hoje posso apontar algumas trilhas para minhas filhas." Ponto para Regina, porque segundo Lidia, uma criança só admite palpites na sua vida quando o interlocutor demonstra orgulho das próprias escolhas. Só não faz sentido posar de infalível. É mais sincero - e pedagógico - revelar que, às vezes, foi obrigada a corrigir as rotas na vida familiar ou profissional. Assim, ficará mais fácil para todos lidar com as falhas do percurso. Sim, os vôos desastrados dos filhos estão no programa. Marcella, lá pelos 7 anos, foi para a praia com a família de uma amiga e voltou roxa - passaram o dia todo sob o sol e ninguém se lembrou de reaplicar o protetor. Beatriz dormiu na casa de uma colega de escola - os adultos foram deitar e a garotada extrapolou vendo TV até as 4 horas da manhã. Os riscos de tragédia não são tão altos como nos nossos pesadelos, no entanto nunca deixarão de existir. Por isso, quanto mais próximo o acompanhamento dos pais, melhor: é preciso se informar e conversar com os adultos responsáveis pelos filhos no período em que estão longe de casa.
Não somos donas da verdade
"Ao fazer o acompanhamento, porém, fique atenta para não pensar que você é a única capaz de cuidar direito deles", diz Lidia. Eventuais erros - de pais ou filhos - devem ser incorporados à dinâmica e corrigidos. Sem dramas nem culpas. "Só é muito culpado quem se acha poderoso e se dá exagerada importância. Pais que, por sua vez, também aprenderam noções de limite sabem que fazem o que podem, percebem logo que não dá para controlar tudo", conclui. Para Lidia, a ilusão de que o filho é nosso se desfaz a cada dia e, na adolescência, acaba de vez. Portanto, melhor educá-los para a vida. A vida deles.
Crédito: revista Cláudia
Brincar de geografia, brincar de pensar, brincar de criar, brincar de olhar, brincar de colecionar, brincar de sensações e brincar de segredo eram as sete artes do brincar segundo João Guimarães Rosa. Inspirada na vida e na obra do escritor, a arte-educadora Selma Maria resgata brinquedos e brincadeiras do sertão mineiro e encontra na infância e nos personagens de Guimarães Rosa um outro olhar sobre a infância.
Desde criança, Selma Maria gostava de inventar brinquedos. Quando cresceu, virou professora e não largou mais a brincadeira: trabalha como arte-educadora e, desde 1996, há mais de uma década, coleciona tudo que diz respeito a essa atividade que marca o homem para sempre, o brincar.
Foi também por conta desse trabalho que Selma conheceu a obra de um dos maiores escritores brasileiros: João Guimarães Rosa. Em 1956, dez anos antes de Selma nascer, ele lançava a novela Campo Geral, na qual o tema central era a infância de um menino chamado Miguelim. Paixão à primeira vista.
Em 2000, ela seguiu para o sertão rosiano e começou a recolher brinquedos e brincadeiras de vilarejos da região de Cordisburgo, pequena cidade a 120 quilômetros de Belo Horizonte (MG), terra natal de Rosa e onde ele viveu parte de sua infância. Recolheu mais de 200 brinquedos e centenas de brincadeiras, ora presentes no jeito espontâneo das crianças, ora guardados na sabedoria e na memória dos idosos.
Reuniu sabugos que viram bonecas, latas que se transformam em telefone, sementes que passam a ser bois, cabaças que se convertem em piões, caixas que se transmutam em carros, madeiras que se metamorfoseiam em ônibus, cascas de árvore que viram máscaras e mais uma infinidade de cantos e poemas repetidos onde quer que haja crianças brincando.
"Fui encontrando muitas pessoas que poderiam facilmente figurar na obra de Rosa, como o menino Paulinho, de Morro da Garça, que tem 10 anos e é um grande criador de brinquedos, muito talentoso. É um menino quieto, que gosta de conversar com adultos, como Rosa", explica Selma.
No município de Três Marias, em um centenário armazém da zona rural, Selma encontrou um brinquedo cuja genialidade a impressionou: "Sobre o balcão, um trator de madeira feito com restos de pneu e pedaços de material de construção me chamou a atenção."
Resolveu ir atrás de seu criador e encontrou Gecismar, garoto de 10 anos que mora numa casa às margens do Rio De-Janeiro, afluente do São Francisco. "Quando vi, estava bem no local citado em Grande Sertão: Veredas, onde ocorre o primeiro encontro entre os personagens Riobaldo e Diadorim, quando crianças. Coincidência?", indaga Selma.
Os meninos quietos
Enquanto ia mais a fundo em sua pesquisa, foi descobrindo o quanto a infância de João Guimarães Rosa tinha moldado o artista libertário presente em suas obras. Desde criança, adorava armar alçapões apenas para ter o prazer de soltar os pássaros logo em seguida. Outra diversão era colocar formiguinhas em ilhas feitas de pedras, empilhadas em poças de água, só para fazer pontes com gravetos e vê-las atravessar.
Como ele mesmo confidenciou em uma de suas entrevistas, também gostava de "imaginar histórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas". Deu no que deu: o menino Joãozito, como era conhecido na infância, virou João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores da literatura brasileira.
Avançando em sua pesquisa, Selma descobriu uma entrevista dada pelo escritor em 1946, na ocasião do lançamento de seu primeiro livro, Sagarana: "Um dia, hei de escrever um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos", disse ao jornalista paraibano Ascendino Leite. Seria, quem sabe, uma forma de entender o universo de crianças que, como ele, preferiam as brincadeiras com mais concentração, silêncio e paciência.
Conta-se que Rosa nunca foi de fazer estripulias, de subir em árvore, de falar muito, mas que se refugiava nos livros, nas histórias dos mais velhos, no brincar quieto nos cantinhos do quintal. Embora a infância seja um tema recorrente em sua obra, o "pequeno tratado" nunca chegou a ser escrito.
No entanto, a frase dita pelo escritor serviu de inspiração para que Selma desenvolvesse um projeto com o tema. A partir de algumas pistas deixadas por Rosa em declarações e em sua própria obra, ela reuniu brinquedos e brincadeiras que diziam respeito a tais "meninos quietos".
Sua idéia e sua coleção de brinquedos tornaram-se então a exposição Meninos Quietos, realizada em 2006, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, e também estão se transformando num livro, no qual Selma conta suas experiências ao adentrar o universo infantil do escritor. O lançamento deve ocorrer ainda este ano.
Com base em sua pesquisa, Selma divide o universo rosiano em sete brincares: brincar de geografia, brincar de pensar, brincar de criar, brincar de olhar, brincar de colecionar, brincar de sensações e brincar de segredo.
O brincar de geografia, que tanto encantava o escritor brasileiro, foi levado para a vida toda - cruzaria o sertão como médico rural no interior de Minas Gerais e depois se tornaria diplomata, vivendo em diferentes países.
O brincar de pensar está explícito nas páginas do livro Campo Geral, quando Miguelim sobe nas árvores com seu irmão Dito para observar a vida lá de cima. Em Grande Sertão: Veredas, a narrativa de Riobaldo Tatarana transfigura-se num grande repensar de toda a sua trajetória como jagunço e herói do sertão, em mais de 500 páginas de um monólogo intenso, repleto de grandes reflexões.
No terceiro, brincar de criar, tal como um menino que inventa brinquedos juntando pedaços de coisas sem valor, temos Rosa como um grande criador de palavras, que fez do neologismo uma arma poderosa na renovação da própria língua e no nascimento de um idioma próprio. Já o quarto brincar traz o olhar atento do menino de Cordisburgo, que se tornaria um escritor capaz de descrever cada lugar, cada pessoa com minúcias que impressionam até os mais vorazes leitores.
O quinto brincar resgata o Joãozito que gostava de colecionar insetos em caixas de papelão, pregando-os delicadamente com alfinetes de costura e decorando seus nomes. "Há quem diga que, já nessa época, sabia de cor o nome científico de cada bichinho guardado", completa Selma. O brincar de sensações aflora em cada descoberta de Miguelim, de seu irmão Dito, de sua irmã Drelina e de tantos outros personagens que cruzam as veredas do sertão rosiano.
Por fim, estão os segredos, tão presentes nas narrativas de Guimarães Rosa e que tiveram o seu ápice em Grande Sertão: Veredas, no qual reside o grande mistério de Diadorim, o segredo maior de sua vida, que se revela apenas nas últimas páginas do livro. Aliás, um segredo que não se deve contar, para que você também entre nessa grande brincadeira.
Histórias do velho Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais. Foi ali que também nasceu seu prazer por ouvir e contar histórias. O menino Joãozito vivia na venda de seu pai, Florduardo Pinto Rosa, sempre a ouvir histórias dos tropeiros que por ali passavam. O fato é que Joãozito se tornou um grande contador de histórias e um exímio artesão da palavra.
Em 1946, aos 38 anos, lança o seu primeiro livro - Sagarana que, por muitos, é aclamado como uma das mais importantes obras surgidas na segunda metade do século 20. Em 1956, publica duas grandes obras: em janeiro, Corpo de Baile (que mais tarde seria dividido em três volumes: Manuelzão e Miguelim, No Urubuquaquá, no Pinhém, e Noites do Sertão), e Grande Sertão: Veredas, em maio.
Em 1962, lança Primeiras Estórias, uma união de contos que fascina críticos e público. Narrativas como "A Terceira Margem do Rio" e "Soroco sua Mãe sua Filha" ganham projeção mundial e traduções em vários idiomas. Em 1967, publica Tutaméia, seu último livro ainda em vida.
Nessa ocasião, a sua paixão por idiomas chega a extremos - contase que ele tinha fluência em português, espanhol, francês, inglês, alemão e italiano, além de bons conhecimentos de latim, grego, sueco, dinamarquês, servo-croata, russo, húngaro, persa, chinês, japonês, hindu, árabe e malaio.
Místico e muito religioso, Rosa acumulou uma série de histórias acerca de sua personalidade. Uma delas diz que a paixão por idiomas o teria levado a seguir alguns ciganos para aprender o idioma deles. Nessa oportunidade, uma cigana teria lhe dito que morreria assim que alcançasse algo que desejava muito. Verdade ou mera invencionice, o fato é que no dia 16 de novembro toma posse da Academia Brasileira de Letras. No dia 19 do mesmo mês, falece vítima de um enfarto no escritório de sua casa, enquanto escrevia.
Após a sua morte, ainda são lançados Estas Estórias e Ave, Palavra, que reúne contos e outros textos publicados pelo escritor na imprensa, ainda em vida, além de algumas narrativas inéditas.
Serviço Mais informações sobre o projeto "Meninos Quietos": Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. Telefone (11) 5181 3497, com Selma Maria.
Revista Planeta
Fui ao salão do livro encontrar Walcyr Carrasco há algum tempo, além de gentilíssimo me presenteou com seu delicado "Meus dois pais", comprei os outros dois, sua delicadeza foi além, deu seu autógrafo com uma dedicatória linda, carinhosa e pessoal…
Walcyr fala comigo sempre via Twitter, demonstra a todos ser uma pessoa sensível e pessoal. Apesar de ser um novelista famoso, não deixa de ser extremamente simples e próxima ao seu público. Gosta de debates e um bom papo, por isso me aproximei. Já nos conhecíamos desde 2005 do Orkut, onde debatíamos cada capítulo de "Xica da Silva" que foi reapresentada na época no SBT, da extinta Manchete. Ele não se recorda, mas eu sim, de sua proximidade e atenção, não posso deixar de ser grata.
Li os títulos na viagem de volta para casa.
Percebi a sutileza como foi tratado cada tema de cada livro, e indico a leitura, acredito que inclusive, apesar de serem livros de leitura, possam ser utilizados como material extra-classe, em projetos paralelos ligados à Ética, Cidadania, Moral, esses tipos de questões são geradoras de problemáticas ricas e debates que devem ser travados e não fugidos na Escola.
Portanto, fica a dica de leitura para seus filhos e alunos.
Walcyr Carrasco (@WalcyrCarrasco) é novelista da Rede Globo de Televisão, está hoje na Bienal como curador do evento, em diversas atividades, além de estar escrevendo a próxima novela das 19 h, é autor de diversas peças de teatro e membro da APL (Academia Paulista de Letras).
A conexão entre mãe e filho durante a gestação e amamentação transforma a mulher em um porto seguro. "A figura masculina, em contrapartida, provoca uma ruptura nesse relacionamento, e isso não é nada ruim", afirma a psicóloga Melina Blanco Amarins (SP). O pai é a primeira pessoa que mostra à criança que ela pode confiar em mais alguém, além da mãe. Assim, a relação de total dependência materna é amenizada e os pequenos começam a encarar o mundo e a se entrosar na sociedade. "A forma como a criança percebe a família nos primeiros anos de vida é simples: a mãe representa o conforto e o cuidado e o pai, as leis e a castração", explica a psicóloga Márcia Stanzione (RJ). É o convívio com essa autoridade que faz o pequeno perceber os seus limites. Mas isso não quer dizer não dar carinho nem proteção. Pelo contrário! Quanto mais presente for a figura paterna, mais seguro o filho vai se sentir.
Quando o convívio com um homem não acontece, largar a barra da saia da mãe pode se tornar uma tarefa difícil. "Cada criança reagirá de um modo diferente, no entanto é comum identificar traços de introspecção e dependência naquelas que não tiveram um modelo masculino", diz Melina. A tendência é a filha ou o filho se tornarem mais fechados e medrosos. Isso também reflete na adolescência e na vida adulta. Muitas vezes intempestivos, os jovens, além de buscar o acolhimento materno, desejam se deparar com os limites impostos pelo pai, que os direciona e ajuda a formar valores.
No caso dos meninos, a presença do homem é ainda mais fundamental. "O ser humano precisa de alguém para se espelhar e, no caso dos garotos, a figura masculina mostra que a mãe não é a única referência", explica o psicanalista Paulo Giraldes (SP). O homem contribui para a introdução da criança no mundo das diferenças, nos âmbitos social e sexual, o que favorece a construção de relacionamentos e a confiança nos outros.
Nem sempre pai e mãe criam juntos os filhos. O importante é fazer a criança se sentir segura nas mais variadas situações
1. Em caso de morte, mudança de cidade, adoção independente ou qualquer situação em que o convívio com o pai não é possível, a mãe não pode ceder demais e tentar compensar essa ausência. É preciso fazer o papel de pai e mãe. Dar carinho ao mesmo tempo que estabelece limites.
2. Na ausência do pai, é saudável que as crianças adotem outro modelo masculino. Pode ser o avô, o tio, o irmão, o padrinho, um amigo chegado... No entanto, deixe claro para o seu filho quem é essa pessoa na dinâmica familiar para evitar confusões na cabeça do pequeno.
3. Quando o casamento acaba, o pai deve continuar presente na rotina do filho. Lembre-se que não ter sido a pessoa certa para você não significa que ele não é essencial para a criança. O afastamento gera dificuldades para se relacionar em sociedade.
Empurrãozinho de mãe
Dicas práticas que vão ajudar você a harmonizar a relação entre pai e filho
Dê espaço
É importante permitir que a figura masculina participe da rotina, assumindo tarefas, como ninar, contar histórias, passear, buscar na escola...
Conceda poder de decisão
Não é só a mãe que sabe o que é melhor para a criança. O homem da casa também deve colaborar nas escolhas.
Tenha pulso firme
Não vale deixar o pai bancar o chato enquanto você oferece colo. Mãe também dá bronca.
Confie
Quando o pai leva a criança para passear, evite ficar ligando a toda hora para checar se está tudo bem. Já que você liberou, precisa mesmo confiar, ok?
Delegue
Peça para o pai dar colo e mamadeira, trocar as fraldas... Cuidados que envolvem contato físico criam laços. Aproveite a participação dele para retomar a sua vida de mulher. Faça as unhas, vá ao cinema, reúna as amigas!
Fonte: Máxima
Ser mãe ou não ser? :: GOSTO DE LER :: http://bit.ly/jObU1
Augusto Cury, o famoso psiquiatra que tem livros publicados em mais de 70 países e dá palestras para multidões no Brasil e lá fora, lançou recentemente uma versão para crianças e adolescentes do seu best-seller Ansiedade - Como Enfrentar o Mal do Século. O autor conversou com a gente sobre os desafios de se criar os filhos hoje e não poupou críticas à maneira como a família e a escola têm educado os pequenos. Confira!
“Estamos assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças e da juventude dos adolescentes no mundo todo. Nós alteramos o ritmo de construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos, sejam presentes a todo momento, seja acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos de videogame ou excesso de TV. Eles estão perdendo as habilidades sócio-emocionais mais importantes: se colocar no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias, aprender a arte de agradecer. É preciso ensiná-los a proteger a emoção para que fiquem livres de transtornos psíquicos. Eles necessitam gerenciar os pensamentos para prevenir a ansiedade. Ter consciência crítica e desenvolver a concentração. Aprender a não agir pela reação, no esquema 'bateu, levou', e a desenvolver altruísmo e generosidade.”
“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O resultado: são intolerantes e superficiais. O índice de suicídio tem aumentado. A família precisa se lembrar de que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam ser estimulados a se aventurar, a ter contato com a natureza, se encantar com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da natureza que não são rápidos como as redes sociais.”
“É fundamental que as crianças aprendam a elaborar as experiências. Por exemplo, diante de uma perda ou dificuldade, é necessário que tenham uma assimilação profunda do que houve e aprender com aquilo. Como ajudá-las nesse processo? Os pais precisam falar de suas lágrimas, suas dificuldades, seus fracassos. Em vez disso, pai e mãe deixam os filhos no tablet, no smartphone, e os colocam em escolas de tempo integral. Pais que só dão produtos para os seus filhos, mas são incapazes de transmitir sua história, transformam seres humanos em consumidores. É preciso sentar e conversar: ‘Filho, eu também fracassei, também passei por dores, também fui rejeitado. Houve momentos em que chorei’. Quando os pais cruzam seu mundo com os dos filhos, formam-se arquivos saudáveis poderosos em sua mente, que eu chamo de janelas light: memórias capazes de levar crianças e adolescentes a trabalhar dores perdas e frustrações.”
“Pais que não cruzam seu mundo com o dos filhos e só atuam como manuais de regras estão aptos a lidar com máquinas. É preciso criar uma intimidade real com os pequenos, uma empatia verdadeira. A família não pode só criticar comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser transmitida na relação. Os pais devem ser os melhores brinquedos dos seus filhos. A nutrição emocional é importante mesmo que não se tenha tempo, o tempo precisa ser qualitativo. Quinze minutos na semana podem valer por um ano. Pais têm que ser mestres da vida dos filhos. As escolas também precisam mudar. São muito cartesianas, ensinam raciocínio e pensamento lógico, mas se esquecem das habilidades sócio-emocionais.”
“Criança tem que ter infância. Precisa brincar, e não ficar com uma agenda pré-estabelecida o tempo todo, com aulas variadas. É importante que criem brincadeiras, desenvolvendo a criatividade. Hoje, uma criança de sete anos tem mais informação do que um imperador romano. São informações desacompanhadas de conhecimento. Os pais podem e devem impor limites ao tempo que os filhos passam em frente às telas. Sugiro duas horas por dia. Se você não colocar limite, eles vão desenvolver uma emoção viciante, precisando de cada vez mais para sentir cada vez menos: vão deixar de refletir, se interiorizar, brincar e contemplar o belo.”
“Em vez de apontar falhas, os pais devem promover os acertos. Todos os dias, filhos e alunos têm pequenos acertos e atitudes inteligentes. Pais que só criticam e educadores que só constrangem provocam timidez, insegurança, dificuldade em empreender. Os educadores precisam ser carismáticos, promover os seus educandos. Assim, o filho e o aluno vão ter o prazer de receber o elogio. Isso não tem ocorrido. O ser humano tem apontado comportamentos errados e não promovido características saudáveis.”
“Vejo pais que reclamam de tudo e de todos, não sabem ouvir não, não sabem trabalhar as perdas. São adultos, mas com idade emocional não desenvolvida. Para atuar como verdadeiros mestres, pai e mãe precisam estar equilibrados emocionalmente. Devem desligar o celular no fim de semana e ser pais. Muitos são viciados em smartphones, não conseguem se desconectar. Como vão ensinar os seus filhos e fazer pausas e contemplar a vida? Se os adultos têm o que eu chamo de síndrome do pensamento acelerado, que é viver sem conseguir aquietar e mente, como vão ajudar seus filhos a diminuírem a ansiedade?”
Fonte: Claudia
Quando nasce um bebê, nasce também uma nova mãe.
Durante a gravidez ela trabalha a possível realização de infinitas fantasias a respeito do filho: um filho perfeito… amoroso… e bem melhor que os filhos “dos outros”. Lógico, tem que ser assim.
Porém, alguns dias depois do nascimento e quando a aparente rotina começa a tomar conta da vida e dos espaços, aquele bebê, filho perfeito, começa a pedir, demandar, procurar, necessitar coisas que essa mãe tem dificuldade em decodificar e disponibilizar; mesmo estando disposta para niná-lo, sustentá-lo, amamentá-lo e acolhê-lo, surge uma questão e ela sente um medo atroz: “Será que ele vai ficar mal acostumado se eu atender a todas as suas necessidades?”
Esse pânico aguarda escondido bem no fundo. É uma sensação nítida de que ele (o bebê) vai nos dominar, que tem a capacidade de roubar toda a nossa energia, toda a nossa maneira de ser no mundo… Claro, não estamos conscientes disso… Nem temos palavras para defini-lo.
As mulheres e as pessoas que estão perto de nós entram numa guerra contra o bebê e todos seus misteriosos desejos, que não são os nossos. Temos a fantasia de que se o desejo do bebê se manifestar, automaticamente nossos desejos sucumbirão.
E é inevitável! Quando surgem dois desejos simultaneamente, vivenciamos um conflito.
Aparece muito no discurso das mães essa sensação de “que tenho que ter o bebê o tempo todo no colo” e parece que não podemos… é verdade que a mulher hoje tem outras dinâmicas, outras necessidades, porém o bebê não nasce pronto; ele nasce feto e o processo de criação extra-uterina demora outros nove meses, ao contrário do resto dos mamíferos (ou seja, o bebê necessita do contato permanente fora do útero materno). Muito pouco se fala às gestantes sobre isso… Nos cursos de preparação omite-se a informação sobre as necessidades BÁSICAS dos bebês e há todo um mito de amor romântico, em que a partir da chegada deles se construirão bases sólidas, porém na maioria das vezes o que se observa é a desestruturação.
Os bebês, quando nascem, precisam estar em contato permanente com a mãe ou alguém maternal. O leite materno, além de ser o melhor e o mais rico nutriente para o bebê – o que já está cientificamente comprovado –, é a justificativa perfeita para ele entrar em contato profundo e se vincular com a mãe.
Acontece que é muito difícil para a mãe conviver ao mesmo tempo com o desejo do bebê e o seu próprio. A criança aprenderá que só existe espaço para um desejo: ou impera o desejo da mãe e o da criança fica insatisfeito, ou vence a necessidade da criança e a mãe sente raiva e rejeição. Nessa guerra já declarada quem ganha é obviamente o adulto.
Como em toda guerra, começam as estratégias para conquistar territórios, e essa será uma maneira de VÍNCULO. A criança precisará satisfazer suas necessidades básicas e para isso fará uso de todas as habilidades e ferramentas para sobreviver física e emocionalmente.
É nesse âmbito do físico que começam o enfraquecimento e a sintomatologia das primeiras doenças.
Assim, a criança verifica que ante o surgimento desses sintomas, a mãe se ocupa de levá-la ao médico e atender suas diferentes demandas. Quando a criança sara, a mãe, cansada, precisa retomar a liberdade e um pouco mais de espaço próprio.
A guerra pelo “desejo pessoal” continuará com mais força e cada vez que a criança-bebê demandar algo que o adulto não compreenda ou não tolere, o adulto contará com um sem-número de recursos psicológicos, filosóficos e médicos que justificarão que ele, como adulto, está certo.
Todo pedido manifestado pelo bebê será imenso se o adulto que materna não tolerar um desejo diferente do seu; ou se não tolerar a integração e o convívio de dois desejos.Surgem, assim, os primeiros vestígios da violência emocional, em que a mensagem é: “Não existe lugar para dois”.
É importante reconhecer esse mecanismo porque ele é muito recorrente nas sessões de terapia e no discurso dessa mãe impossibilitada de aceitar as demandas do bebê. Ela padeceu o mesmo tipo de violência invisível durante sua primeira infância, aprendeu que no intercâmbio afetivo só há lugar para um. Afirmar isso é admitir que o outro tem que deixar de existir (como sujeito do desejo).
Toda essa teoria a respeito da violência sustenta-se na observação de mulheres que não tiveram, na maioria das vezes, uma vivência infantil de amparo e cuidado maternais.
Para finalizar gostaria de me solidarizar com as mães que cuidam dos bebês solitariamente e sem contenção. A maternidade é um ciclo da vida ao mesmo tempo maravilhoso e espinhoso, porque nos conduz inevitavelmente a vivenciar o encontro silencioso e sombrio com nós mesmas, remete-nos a um jejum espiritual se nos dermos permissão para descer às nossas obscuras profundezas em busca da cura e do crescimento emocional.
Alejandra Soto Payva-Borgström
Pessoa - Mulher - Mãe parideira
Psicoterapeuta - Doula - Terapeuta Floral
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Uma pesquisa americana de sete anos, feita com mais de 1.000 crianças, sugere que, ao contrário do que se pensava, mães com empregos de tempo integral não prejudicam o desenvolvimento de seus filhos
Há seis anos, quando nasceu Mateus, primogênito da vendedora carioca Vanessa Moura, de 29 anos, ela resolveu ficar em casa. Durante os primeiros dois anos de vida do menino, largou o trabalho e se dedicou apenas a ele. Com Lucas, o segundo, que agora tem 10 meses, a história não se repetiu. Em janeiro deste ano, antes que ele completasse 4 meses, a mãe voltou à loja onde trabalha, num shopping da Zona Sul do Rio de Janeiro. A rotina é agitada: das 9 às 16 horas todos os dias, com o horário se estendendo até as 22 horas no período próximo às grandes datas comerciais, além de todos os sábados e de domingos alternados. Vanessa sente culpa. “É ruim saber que não estou podendo dar ao Lucas a mesma atenção que dei ao Mateus”, diz. Quem toma conta do bebê é a avó paterna, mas logo ele deverá ir para a creche. Nas folgas, a vendedora tenta compensar o tempo perdido dedicando a maior parte de sua atenção ao caçula. “Apesar da saudade e do remorso, admito que gosto de trabalhar”, afirma ela. “Quando fiquei em casa com meu filho mais velho, me sentia entediada sem as relações sociais fora de casa. A verdade é que ser mãe e trabalhar significa estar sempre dividida.”
Uma pesquisa divulgada na semana passada pode aliviar o sentimento de culpa de Vanessa. De acordo com um estudo da Universidade Colúmbia, de Nova York, divulgado na semana passada, o trabalho materno no primeiro ano de vida da criança não afeta significativamente seu desenvolvimento emocional ou sua capacidade de aprendizado no futuro. Três pesquisadores acompanharam 1.000 crianças em várias regiões do país por sete anos. Além do tempo e do universo pesquisado, o trunfo do estudo foi dar peso a aspectos que não foram considerados em avaliações anteriores, cujo resultado foi sempre negativo para o trabalho materno.
Desta vez, foram considerados o tipo de cuidado que a criança recebe na ausência da mãe, o ambiente familiar, as consequências de um orçamento maior na casa e o que o estudo chama de disponibilidade materna – o estado de espírito da mãe combinado à qualidade da atenção que ela dá ao filho quando estão juntos. O trabalho materno, concluíram os pesquisadores, tem desvantagens, mas também vantagens. Quando elas são consideradas em conjunto, o resultado é claro: mesmo quando a mãe trabalha em tempo integral, o desenvolvimento geral da criança não é comprometido. No Brasil, 76% das mulheres trabalham fora – e 43% delas são chefes de família.
No caso de Vanessa, seu salário garante uma renda familiar maior. Isso significa alimentação mais rica, conforto adicional, passeios nos fins de semana e viagens eventuais. Enquanto os pais trabalham, Lucas e Mateus ficam com a avó, que cuida também de outros dois netos, maiores. Vanessa elogia a sogra. “Ela sabe tudo de criança e brinca muito com eles. A própria convivência com os primos estimula o Lucas”, diz. Além disso, a independência financeira da mãe de Mateus e Lucas equilibra sua relação com o marido, que é comerciante e garante a maior renda da casa. O tempo ao lado dos filhos, por ser curto, ganha mais prazer e paciência, ela diz. “É raro eu descontar o estresse do trabalho neles. São momentos especiais.” Esse contexto equilibrado da vida de Vanessa pode, de acordo com a pesquisa da Colúmbia, compensar o convívio restrito com seu bebê.
Estudiosos do desenvolvimento dos bebês dizem que a pesquisa da Colúmbia é bem-vinda, por ajudar a inserir um novo cenário na questão da maternidade. “O trabalho da mãe não pode ser a única variável para medir o desempenho futuro da criança”, diz a psicanalista Isabel Kahn, professora da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Associação de Estudos sobre o Bebê (Abebê).
Na semana passada, o Senado brasileiro aprovou a lei que torna obrigatória a licença-maternidade de seis meses. De acordo com o projeto, que ainda vai passar pela Câmara, os dois meses adicionais em relação à lei antiga passam a ser obrigatórios também para a iniciativa privada – para quem os dois meses adicionais eram facultativos. O principal argumento dos defensores da licença-maternidade de seis meses é a saúde do bebê: o aleitamento materno prolongado nutre melhor a criança e a protege de doenças. Não se trata de uma preocupação com o desenvolvimento intelectual e emocional da criança. A psicóloga Clotilde Rossetti-Ferreira, presidente do Centro de Investigação sobre Desenvolvimento e Educação Infantil da USP, é a favor da ampliação da licença. “A ausência da mãe trabalhadora pode ser compensada por várias coisas, mas existe um momento em que não se podem substituir os benefícios maternos: o aleitamento.” O risco é que a legislação protetora prejudique as mulheres no mercado de trabalho.
Embora enfatizem que o trabalho de tempo integral no primeiro ano de vida não atrapalha o desenvolvimento posterior da criança, os autores do estudo americano reconhecem que há risco de “perdas cognitivas suaves”. Em oito medidas de evolução de aprendizado tomadas entre os 3 e os 7 anos, as crianças de mães que trabalham fora o dia todo ficaram atrás em quatro delas. A defasagem é pequena, compensada por outros fatores, mas existe. A situação ideal, dizem os especialistas, é que a mãe trabalhe meio período no primeiro ano de vida do bebê – um ideal difícil de alcançar.
A enfermeira Melina Alves conseguiu um acordo no hospital em que trabalha para ficar com o filho até ele completar 6 meses. Hoje, Gustavo, de 1 ano e 4 meses, fica com sua avó materna enquanto a mãe trabalha. Melina é mãe solteira. “Quando se é mãe e pai ao mesmo tempo, a culpa é ainda maior”, afirma Melina. Abdicar do trabalho nunca foi uma opção. Seu dia a dia inclui plantões de 24 horas no hospital e outros em um posto de saúde.
A ênfase na qualidade do tempo passado com os filhos andava em baixa desde os anos 1980. Naquela época, quando a mulher entrou em massa no mercado de trabalho, as pesquisas sugeriam que o tempo com os filhos era menos importante do que a qualidade da troca afetiva. Foi a senha para as mulheres se dedicarem a suas carreiras. Nos anos 1990, porém, os estudos se voltaram para o outro lado. Métodos de avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil – a capacidade da criança de aprender, memorizar e se relacionar com as pessoas e com o mundo – sugeriam que, longe da mãe, elas não alcançavam o mesmo desempenho. Trabalhar sem prejuízo para o bebê só depois dos 4 anos, afirmavam. A pressão sobre o trabalho “precoce” das mulheres que tinham filhos continuou até recentemente.
A pesquisa divulgada na semana passada confirma trabalhos que vinham sendo apresentados ao longo desta década. Em 2005, um estudo da Universidade do Texas já levava em conta a personalidade da mãe, a qualidade da paternidade e o ambiente familiar geral ao analisar o desenvolvimento da criança cuja mãe trabalha fora. Concluiu que a existência ou não de prejuízo dependia de todos esses fatores. Desta vez, o estudo da Colúmbia foi feito com 900 crianças de famílias brancas (não hispânicas) e apenas 113 crianças de famílias negras. O resultado, dizem os especialistas, aponta para a realidade da classe média – um universo social no qual o trabalho está mais relacionado ao prazer e à realização da mulher. A satisfação da mãe, diz o estudo, é influência importante na qualidade de seu relacionamento com o filho. Sempre se soube disso. Agora ficou mais claro.
OS RESULTADOS
Bebês cujas mães trabalham durante seu primeiro ano de vida em meio período não apresentam diferenças de desenvolvimento cognitivo ou emocional em relação aos bebês de mães que não trabalham.
Bebês cujas mães trabalham em tempo integral durante seu primeiro ano de vida correm risco de apresentar diferenças de desenvolvimento pequenas em relação aos bebês de mães que não trabalham ou que trabalham em meio período.
Os pesquisadores acreditam que essa defasagem é compensada por fatores como:
Trabalho materno no segundo e terceiro ano de vida já não afeta o desenvolvimento da criança.
Mães reclamam do cansaço que provoca a dedicação ao trabalho e o cuidado com os filhos. Elas querem férias deles também.
Conversei com a mãe de uma garotinha que completa três anos neste semestre e que foi matriculada na escola pela primeira vez no início do ano. O problema, segundo a mãe, é que a menina fica desesperada na hora de ir para a escola e chora o tempo todo que lá fica.
Durante nossa conversa, essa jovem mulher disse que está esgotada porque preferiria não levar a filha para a escola, mas não tem escolha por causa do horário de trabalho e da indisponibilidade de sua mãe, que, até então, dera conta de ficar com a neta. Essa mãe não está sozinha ao viver esse dilema, não é verdade?
Uma pesquisa recente apontou que bebês de até quatro meses têm sido alimentados com comida industrializada com frequência. Que tal uma lasanha congelada no almoço e umas bolachas recheadas para o lanche dessas crianças? Mães de todas as classes sociais têm feito isso e um dos motivos é que não sabem cozinhar.
Um número enorme de mães reclama do cansaço que provoca a dedicação ao trabalho e o cuidado com os filhos. Elas querem férias deles também, como têm no trabalho. Babás trabalham diuturnamente para muitas mulheres que não dispensam folguistas nem nos feriados. Alguns pediatras informam que muitos bebês e crianças vão ao consultório acompanhados apenas de suas babás.
Em salões de beleza, é comum encontrar mulheres acompanhadas das filhas pequenas que se inquietam, choram, fazem birra. O mesmo ocorre em restaurantes, shoppings, aeroportos etc.
Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, esses dados e outros devem nos fazer refletir sobre a liberdade da mulher no mundo atual.
Em tempos em que a mulher pode marcar presença em quase todos os segmentos profissionais, pode ter filhos casada ou não, com parceiro ou não, pode estabelecer e romper relações amorosas quando quiser, pode cultivar sua aparência de acordo com seus anseios e disponibilidade financeira, ter autonomia econômica etc., parece que desfruta de uma liberdade sem fronteiras.
O problema é que nem sempre a mulher reconhece que muito do que faz não é por escolha. Sim. Na atualidade, ela está submetida às mais variadas pressões, muitas delas tão sutis que se travestem de seus propósitos pessoais. Conhece o ditado popular "o que não tem remédio, remediado está"? Podemos transformar em "o que não tem escolha, escolhido está" no caso das mulheres.
Como liberdade é poder escolher, conseguir realizar sua opção e abdicar das outras, podemos dizer que a liberdade feminina anda plena de restrições. E, depois da fase "mulher maravilha", o cansaço bateu.
O que fazer com os filhos que precisam da disponibilidade (não da presença física) em tempo integral da mãe, com os anos que passam e com a aparência física que perde o frescor, com os embates competitivos no campo profissional que desgastam e sugam energia, com as obrigações sociais, com a solidão habitada por multidões de "amigos"?
E agora, Maria?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
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Contrariando o livro francês que dá 40 razões para não ter filhos, dizemos por que achamos que ter filho hoje é melhor do que nunca
Na França, a escritora Corinne Maier lançou um livro enumerando as 40 razões para NÃO ter filhos. Virou best-seller. A onda nesse sentido é tão forte que até um insólito movimento pela extinção voluntária da humanidade anda ganhando espaço. Como eles, a gente também acha que não ter filho é o fim do mundo, mas por razões beeeeeeem diferentes...
Podemos dizer, sem medo, que filho, hoje em dia, é escolha. Escolha porque a gente tem mil recursos anticoncepcionais para evitá-los, porque as técnicas de reprodução assistida estão aí, poderosas, ajudando muito quem tem dificuldades fisiológicas, porque sempre existe a opção superbacana de adotar uma criança.
É óbvio que ter filho não é uma obrigação. Muitas vezes, não rola mesmo. Faltam condições financeiras, físicas ou emocionais – e é isso aí, a vida é assim.
Mas o que a gente vem observando é que as famílias estão cada vez menores e muitos casais simplesmente optam por não ter filhos e ponto.
Há 40 anos, as mulheres queriam casar logo, antes dos 21 anos, e ter pelo menos três filhos. A média de filhos por família chegava a seis! Hoje, está na casa dos 2,4.
Na França, acaba de sair este livro defendendo o direito de não ter filhos: No Kid, Quarante Raisons de Nes Pas Avoir d’Enfant, da franco-suíça Corinne Maier. O que ela basicamente diz é que a sociedade atual espera muito dos pais. E questiona: “Não há outros meios de dar sentido à vida?”
Se a gente levar essa conversa ao extremo, vamos dar de cara até com o Movimento de Extinção Voluntária da Humanidade, que existe sim, é real, e anda convocando os seres humanos a parar de se reproduzir, causando a extinção gradual da espécie. A gente aqui na Pais e Filhos acha isso tudo uma loucura.
Para nós, não ter filhos é desperdiçar uma oportunidade luxuosa de nos tornarmos seres humanos melhores. Listar 40 razões para ter filhos foi tarefa fácil demais. Elas estão aí. Poderíamos fazer mais 40 e ainda outras 40, mas este já é um bom começo.
1. Por que você quer. E muito
A gente não acha que ninguém é obrigado a ter filho, claro. Só tem de ter mesmo quem quer de verdade. E hoje isso é mais do que possível. A pílula é um pouco mais velha que a Pais e Filhos – chegou ao Brasil em 1962. Mesmo com todos os recursos que existem, 20% dos bebês no país nascem de mães com menos de 20 anos, e tem coisa errada aí. A gravidez nasce de um desejo (pode ser o de ter um lugar dentro da sociedade), e, para muitas jovens, acaba sendo o de ser mãe. O que a gente defende é que esse desejo seja consciente e venha na hora certa. Filho só pode ter a função de ser filho.
2. Para deixar de ser só filho
E crescer! Básico: se você não tem filho, nunca deixa de ser filho. E aí, o seu crescimento é mais lento e mais difícil. Claro ue a gente não deixa de ser filho nunca, mas deixar de ser SÓ filho amplia, abre possibilidades novas, importantes, ricas. Filho nos traz essa oportunidade de nos tornarmos adultos de verdade.
3. Para entender melhor seus pais
Paul Reiser, da série Mad About You, tem um livro sensacional sobre a paternidade, chamado Vida de Bebê. Na dedicatória, ele entrega: “Para meus pais, com todo o amor do mundo. Acho que agora eu entendi”.
4. Para descobrir uma imensa e surpreendente capacidade de amar
Quando temos filho, somos apresentados a esse tal de amor incondicional. “Passamos por uma renovação e ampliação do repertório emocional, que é o que faz a vida interessante”, diz a psicoterapeuta Lidia Aratangy, mãe de Claudia, Silvia, Ucha e Sergio.
5. Para incluir mais gente numa história de amor que dá certo
Ser casado sem filho é quase como ser solteiro: pode não fazer almoço um dia e tudo bem etc. etc. etc. Com criança no pedaço, a casa tem de ser reorganizada, não dá mais pra ter só água na geladeira... O mais importante: você precisa dividir e respeitar as decisões do parceiro sobre o filho também. Se tiver bases sólidas, a união pode ficar mais forte com tudo isso. Vocês deixaram de ser casal para ser família. Um grande e maravilhoso passo! E mesmo quem tem filho sozinho: o filho traz esse sentido de família e a gente valoriza isso demais.
6. Para deixar de ser adolescente
Hoje, a gente vive mais e tem gente dizendo que os 30 são os novos 20, mas não dá para usar isso como desculpa para não amadurecer. Na adolescência, alguns de nós juramos que nunca vamos ter filhos, coisa da fase mesmo. O escritor britânico Ian Sansom, autor do livro De A a Z, A Verdade Sobre os Bebês, escreve: “Existe algo esquisito nas famílias. Existe algo triste nas famílias. Existe algo tão triste nas famílias que nos faz sair correndo para formar outras famílias.” É meio dramático, mas mostra que é possível reinventar a nossa história, outra lição que os filhos nos dão...
7. Para sentir o poder de gerar outra pessoa
Saber que você pode gerar um novo ser é mágico. Não é à toa que as mulheres sempre foram vistas assim meio como bruxas, exatamente por causa disso. Ver a barriga crescer, sentir os primeiros movimentos da criança, é incrível. Apesar de a gente achar que, no fundo, no fundo, gravidez não faz ninguém ser mãe de verdade. É uma delícia e tal, mas, na hora que o bebê nasce é que começa a história pra valer.
8. Para aprender a respeitar as diferenças
Por mais que você seja rígido na educação, é bom baixar a bola: seu filho nunca vai ser exatamente da forma como você imagina – e ainda bem, aleluia! Se você prestar bem atenção, vai perceber isso desde o primeiro momento: na primeira hora em que pegamos a criança no colo, já vem a sensação meio estranha: “Nossa, ele é outra pessoa!”. Que bom que é. E perceber quem é essa pessoa é o melhor da história toda, é o grande lance. Descobrir o temperamento do seu filho, ir sacando como ele funciona, como reage, o que gosta, o que não gosta... Junto com isso, aprender a respeitar e ajudá-lo a ser do jeito dele é maravilhoso. E, se a gente conseguir levar um pouco dessa experiência pras outras relações que temos na vida, então... Nossa! Melhor ainda!
9. Pra se emocionar com as conquistas dele
A primeira vez que ele consegue engatinhar, andar... Quando escreve o nome, com as letras ao contrário ainda... Desde os anos 60, muita coisa mudou, somos a geração do “muito bem!” a cada passo da criança. Mas é importante saber que ele não vai ser o campeão sempre, claro. Então, deixe seu filho tentar, testar, errar. Acertar vai ser conseqüência. E o que importa é o processo, não esqueça que isso vale pros filhos também...
10. Para aprender que as coisas são como são, nem tudo é perfeito. E tudo bem!
Ter filhos é golpe mortal no perfeccionismo, não tem jeito. As coisas vivem fugindo do roteiro o tempo todo. Você planeja dar a papinha ao meio-dia, ele cai no sono. Vai dar banho às 19h, ele já dormiu. Claro, a gente precisa ter organização, um mínimo de estrutura, mas também precisa aprender a se adaptar rapidinho, senão aí é que dança.
11. Para tomar mais cuidado com você mesmo
Não é à toa que quem tem filho pequeno paga menos na hora de fazer o seguro do carro! As seguradoras sabem muito bem que esse público tem menos tendência a se acidentar, porque é mais cuidadoso mesmo. Quando recebemos o resultado positivo já cai a ficha de que, dali pra frente, você não está mais sozinho...
12. Aceitar a maturidade com tranqüilidade
A expectativa de vida cresce a passos largos. Hoje, é de 71,7 anos no Brasil. Em 1960, ficava na casa dos 50,4. Por outro lado, vivemos numa sociedade que supervaloriza a juventude. Mas a gente envelhece mesmo, e isso é muito bom, cada fase da vida tem sua beleza. Com os filhos, isso fica mais claro. A gente não precisa ser eternamente jovem, podemos curtir a juventude deles. A passagem do tempo ganha um outro sentido.
13. Para poder, um dia, ser avó ou avô
Claro que ser avó ou avô não depende da gente, depende de os filhos quererem ser pais. Mas, se a gente fizer a nossa parte direitinho, as chances crescem. Se não tivermos filhos, por exemplo... A chance fica nula de verdade.
14. Para cuidar de alguém
“Um dia, há muitos anos, encontrei uma garotinha de 3 anos que me perguntou: ‘Você tem filhos?’. ‘Não’, respondi. ‘Você tem cachorro?’ ‘Não’, disse. E ela: ′Então, afinal, do que você cuida?′”, nos conta o psicólogo André Trindade, pai de criação de Gabriel e Laura. Ele diz que criar, cuidar, fazer crescer, acompanhar, proteger e se responsabilizar por alguém alimentam a criatividade em nós. A gente concorda total.
15. Para deixar de ser o centro da própria vida
A criança é egocêntrica por definição. No começo, acha que o mundo e ela são a mesma coisa. Depois, acredita que o mundo gira em torno dela. Demora pra perceber que não é bem assim. Tem uns que não percebem nunca, aliás... Nem depois de grandes! Ter filho ajuda a fazer essa ficha cair.
16. Para rever suas prioridades
Segundo pesquisa feita pela psicóloga Cecília Russo Troiano, mãe de Beatriz e Gabriel, publicada no livro Vida de Equilibrista – Dores e Delícias da Mãe que Trabalha (ed. Cultrix), 30% das mães dizem que adiaram o plano de ter filhos por causa da carreira. O mundo mudou, as mulheres não trabalham só por escolha, mas por necessidade. Porém, como diz uma das entrevistadas de Cecilia, uma mãe do Rio Grande do Sul, “não ter filho por causa do trabalho não tem sentido”.
17. Ter um bom motivo para chegar mais cedo em casa
Filho gosta de quantidade e qualidade. Aquele papo do “fico pouco tempo com meu filho, mas funciona” a gente sabe que não cola. É preciso estar esperto e não bobear: quanto mais tempo com eles, melhor. Férias juntos, então... Fundamental! Ou seja, o tempo passado junto é que é o grande luxo. E para ficar mais tempo com os filhos, temos de nos organizar no trabalho e fazer as coisas funcionarem melhor. É duro, mas... A verdade é que estamos bem no meio de uma transição. Se em 1976, só 20% das mulheres estavam no mercado de trabalho, hoje as trabalhadoras são mais da metade da população feminina no Brasil. Ainda são poucas as empresas que adotam horários flexíveis e programas de home office, mas elas começam a existir.
18. Ficar um tempo sem trabalhar
Pra quem não pára nunca, é uma experiência única. A licença-maternidade obrigatória no Brasil tem quatro meses desde a Constituição de 1988. Está em tramitação um projeto de lei estendendo a licença para seis meses, desde que a companhia decida aderir voluntariamente ao esquema em troca de isenção fiscal. Cerca de 40 municípios já adotam a licença maior. A licença paternidade, hoje de cinco dias, seria de 15.
19. Sentir o prazer de amamentar
Em 1975, aqui no Brasil, uma a cada duas mulheres amamentava o filho apenas até o segundo ou terceiro mês de vida. Hoje sabemos todos dos enormes benefícios do leite materno para a criança. E sentir que seu corpo é capaz de produzir o alimento de seu filho é uma experiência fantástica.
20. Sentir o prazer de dar de mamar
Se não puder amamentar, não estresse, pelo amor de Deus. Não tem de ter culpa de nada, culpa só estraga. Faça da hora da mamadeira uma hora especial, gostosa, única, de intimidade e cumplicidade.
21. Para passar pela experiência do parto
Foi durante os anos 70 que o índice de cesarianas no Brasil começou a viver este boom. Pra equilibrar o jogo, nos últimos anos vem crescendo o movimento pelo parto humanizado, com o mínimo de intervenção médica. De novo, não precisa radicalizar: anestesia está aí para ser usada sempre que necessário e ninguém aqui está defendendo sofrimento. O que a gente sabe é que, com ou sem ela, o parto é um daqueles momentos fundadores, em que a vida se renova e a gente nasce de novo, junto com o filho.
22. Para conhecer a pessoa mais linda do mundo
O poeta alemão Hölderin dizia sobre a infância: "É integralmente aquilo que é e, portanto, é bela". Filho é sempre lindo. O nosso, muito mais que o dos outros, sempre. E tem de ser assim.
23. Para ouvir alguém te chamar de mãe ou pai
Pode parecer a coisa mais babaca do universo, mas que é demais, é. Não tem o que falar. Você sabe o que é isso...
24. Reviver um pouco da sua própria infância, ou tirar uma casquinha da infância deles...
“Lembro das primeiras férias de verão com meus filhos, relembrei das minhas. São lembranças que voltam, deliciosamente”, conta nossa colunista Patrícia Broggi, mãe de Luca e Tiago. Ter de brincar com eles, desenhar, cantar, esperar o Papai Noel, a fada do Dente, ler histórias, ver filmes maravilhosos... Ah, que alegria! Você só tem a ganhar!
25. Comprar brinquedos incríveis para eles e para você
Em 1894, um tal dr. L.E. Holt dizia, com a maior autoridade: “Com crianças de menos de 6 meses de idade não se deve brincar jamais. Nas idades posteriores, quanto menos se brincar, melhor”. Ainda bem que, hoje, a gente sabe que brincar é fundamental para eles. Volta e meia a gente usa isso como desculpa pra comprar aquele carrinho de controle remoto que eles vão adorar. E que você já adorou. Tudo bem, tá tudo certo. Afinal, esses brinquedos maravilhosos não existiam quando a gente era criança, certo? Então, por que não aproveitar também?
26. Para se renovar e rejuvenescer
Ter filho é comprovar a validade da lei do eterno retorno. “Acompanhar uma criança permite retomar em nós aquilo que fomos. Há uma sabedoria infantil que conta com a espontaneidade, com a vontade de descobrir o mundo e com a capacidade de brincar. Quando o adulto consegue recuperar em si essas atitudes, ele se beneficia enormemente”, diz o psicólogo André Trindade.
27. Para entender de uma vez que preocupação com ambiente não é coisa de ecochato
A gente sabe: as previsões são catastróficas. Metade da Amazônia pode dançar até 2030, temperatura subindo, calotas derretendo... Ter filho torna a coisa ainda mais urgente, porque a gente quer que o mundo exista pra eles, certo? O que não dá é para acreditar em tudo, se imobilizar e resolver que já acabou e não tem mais o que fazer. Tem, sim, e muito. Pra começar, dentro da sua casa mesmo, na sua vida cotidiana. As próprias crianças estão nos ensinando que tem de cuidar pra ter.
28. Para adquirir hábitos mais saudáveis
Com criança em casa a gente revê tudo. Aprendemos, ou reaprendemos e confirmamos, que não precisa de açúcar porque fruta já é doce, que sal tem de ser bem pouquinho, trocamos fritura por grelhado, porque o médico falou, porque a gente leu que é bom. Hoje, estudando o histórico familiar, os pediatras conseguem prevenir uma série de problemas, fazendo ajustes na dieta: se há tendência a alergias, certos alimentos podem ser evitados etc. E, quando a gente vê, está comendo direito esse cuidando mais, junto com eles. A teoria tem muito mais chance de virar prática.
29. Para descobrir seu lado meio médico
Sabe aquele talento que mãe tem pra saber o que a criança tem só de olhar e a gente acha impressionante? Logo logo você também passa a ter, você vai ver. Ninguém aqui está falando de se automedicar ou sair usando remédio que nem louca, a torto e a direito, nada disso. Tem de ligar pro médico sempre, isso é básico. Mas ao menos você fica conhecendo os sintomas e já passa o serviço mais completo. E, logo, você vai ser aquela pessoa no trabalho pra quem a colega pede pra ver se está com febre mesmo. Coisa de mãe. Ou pai.
30. Pra sentir um certo gostinho de continuidade
O comediante norte-americano Jerry Seinfeld, que a gente adora, disse uma vez: “Já sei o que esses bebês estão fazendo aí. Eles estão aí pra nos substituir”. É piada, óbvio, mas ter filhos, de certa forma, é apostar numa sucessão, em uma continuidade. Você assistiu ao filme Rei Leão? Sabe aquela coisa de pertencer, de estar dentro do ciclo da vida, de ser elo de uma cadeia? É por aí, e é bacana....
31. Descobrir que você sabe contar histórias
A escritora e tradutora Lya Luft descobriu que sabia contar histórias para crianças depois que se tornou avó, e até já escreveu dois livros para crianças, em que a personagem principal é ela mesma, uma bruxa boa. Claro que não é todo mundo que tem o talento dela, mas, quando temos filho, parece que é quase natural: a gente se vê relembrando histórias da infância, inventando a partir do nada ou do mote que eles nos dão... E solta um pouco a imaginação, a fantasia... Lidar com o lúdico, né? Coisas que só fazem bem.
32. Para olhar para as coisas de novo, como pela primeira vez
“Aprendi com meu filho de dez anos/que a poesia é a descoberta/das coisas que eu nunca vi”. Esses versos de Oswald de Andrade (1890-1954) resumem tudo o que a gente quer dizer. É fácil cair nessa cilada de crescer e ir deixando de se surpreender com as coisas e ligar um tipo de piloto-automático – tudo em nome de, sei lá, um suposto “facilitar a vida”, que, no final das contas, é perder o milagre que a vida é. O filho nos ajuda a trazer tudo isso de volta. O mundo ganha novos sentidos e tudo começa outra vez a cada nova descoberta dele e sua...
33. Ter um motivo para aprender a cozinhar
Há 40 anos, a frase “já pode casar”, quando alguma mulher servia um prato saboroso, não era pejorativa, não. Mulher tinha de saber pilotar forno e fogão, era uma espécie de pré-requisito. Hoje a gente pira na hora que tem de fazer a primeira papinha do filho, é ou não é? Acontece que cozinhar pode ser uma enorme delícia e nunca é tarde pra aprender.
34. Porque o pai hoje participa de tudo
Nos anos 70, o pai ficava fora da sala de parto, não chegava nem perto de uma mamadeira, não pegava em fralda de jeito nenhum e era “chamado” só na hora de uma bronca mais pesada. Estranho? Na sua casa não é assim? Ainda bem! A pesquisa de Cecília Russo Troiano mostra que a coisa foi mudando aos poucos, sim, mas as mulheres ainda realizam a maior parte das tarefas. Por exemplo: enquanto 91% das mães levam o filho ao médico, só 4% dos pais fazem o mesmo!!! Ok, ok, falta bastante para as coisas se equilibrarem mais, mas o espaço foi aberto e isso é um ganho enorme.
35. Porque a medicina evoluiu muito
E isso é muito mais importante do que a gente pensa à primeira vista. Hoje é possível prevenir um monte de doenças, tem vacina contra gripe, rotavírus, hepatite... Se no final dos anos 60 os primeiros aparelhos de ultrasom ainda estavam chegando ao Brasil, hoje temos ultra-som 4D, os avanços das pesquisas de células-tronco não param de nos surpreender e se fala em terapias genéticas para parar doenças como o câncer. Temos mais é que comemorar, e muito.
36. Para sentir o que é ter alguém que confia 100% em você
O que é confiar, o que é confiança? Você sabe direitinho a resposta – e sente o que é isso ali, na pele – quando tem uma criança dormindo no seu colo, totalmente entregue. É maravilhoso, assim como a responsabilidade, que até pode assustar, mas faz parte: ter filho é também aprender a lidar com isso.
37. Encarar o futuro de uma nova maneira
Sim, porque, quando os filhos chegam, esse conceito deixa de ser uma abstração. A gente não pode mais só esperar que ele chegue; a gente tem de prepará-lo a cada dia. Pode ser nas coisas mais concretas, como se programando financeiramente, fazendo previdência, essas coisas. E também se preocupando em votar em políticos bacanas, entrando pra uma ONG, separando o lixo, o que for.
38. Para ter a enorme chance de se tornar um ser humano melhor
Não adianta fazer discurso: criança se espelha no exemplo, não tem jeito. É como você é e como se comporta que vai fazer diferença. É no seu comportamento que seu filho está ligado e é o que ele vai registrando, não tem conversa nenhuma. Falar uma coisa e fazer outra não dá. Ter filho é agüentar a barra do que a gente é, as conseqüências de ser quem somos e das escolhas que fazemos.
39. Ter filho não é dar à luz, é receber iluminação diária
Foi nossa colunista Tetê Pacheco, mãe de Bento e Otto, quem escreveu isso, aqui na Pais e Filhos. A gente assina embaixo. O tanto que se aprende, que nos modificamos e crescemos... É pra agradecer todo dia!
40. Porque seu filho é único e tudo que você sente em relação a ele é intraduzível...
Tem gente que diz que a escolha de ter filhos é difícil porque é definitiva... Bem, definitivo, para nós, é não ter filhos! E cada um vai descobrir seu jeito de ser pai e mãe, não tem uma receita. Cada universo único que uma vida é. Nós, aqui da Pais e Filhos, só podemos mais uma vez dizer o que a gente vem falando desde sempre, até na missão da nossa revista: aproveite tudo que a maternidade ou a paternidade está te trazendo!
CONSULTORIA: * ANDRÉ TRINDADE, PAI DE CRIAÇÃO DE GABRIEL E LAURA, É PSICÓLOGO E PSICOMOTRISTA, TEL.: (11) 3063-2987, WWW.NUCLEODOMOVIMENTO.COM.BR *
* BERENICE GEHLEN ADAMS, MÃE DE ALICE, ELMA E ARTUR, É AUTORA DE AQUECIMENTO GLOBAL, O QUE É ISSO, AFINAL?, ED. APOEMA
* CLAUDIA WERNECK, MÃE DE DIEGO E TALITA, É JORNALISTA, ESCRITORA E CRIADORA DA ONG ESCOLA DE GENTE, TEL.: (21) 2483-1780
* DEBORAH VALENTINI, MÃE DE RENATO E GUSTAVO, É PSICANALISTA, TEL.: (11) 3817-5652
* ELIANA POMMÉ, MÃE DE LUANA, NAILA E PETRUS, É PSICÓLOGA ESPECIALISTA EM PARTO E PÓS-PARTO, TEL.: (11) 3862-1420
* ELIANA SALCEDO, MÃE DE DANIEL, RICARDO E THIAGO, É PRESIDENTE DA ONG RECRIAR, WWW.RECRIAR.ORG.BR
* LIDIA ARATANGY, MÃE DE CLAUDIA, SILVIA, UCHA E SERGIO, É PSICOTERAPEUTA, TEL.: (11) 3873-6812
* PATRICIA BROGGI, MÃE DE LUCA E TIAGO, É JORNALISTA
* TETÊ PACHECO, MÃE DE OTTO E BENTO, É PUBLICITÁRIA
A tendendo a pedidos, levo meu filho de quatro anos para sua cama e fico lá deitada até que ele adormeça. Por mais que o banho seja recente, o menininho sua horrores, sobretudo ao adormecer, e logo tem a face e o pescoço encharcados. O sabonete não resiste e é rapidamente sobrepujado pelo cheiro natural do meu filho, que eu acho... absoluta e deliciosamente inebriante. Afundo meu nariz em seu cangotinho adormecido e penso que poderia ficar lá para sempre, desfrutando da sensação de conforto, paz e completude que o cheiro do meu filho suado a milímetros do meu nariz me dá. Passo na cama ao lado e constato que o cheiro da testa suada de minha filha tem igual efeito sobre mim.
O mesmo cheiro não funciona para todo mundo, é claro - e a idéia é justamente essa. O sistema que lida com cheiros no cérebro da mãe é modificado no parto, quando o bulbo olfatório aprende a dar atenção especial à combinação específica de moléculas desprendidas pelo filho. Como essas moléculas incluem peptídeos indicadores de nossa identidade genômica, o cheiro de uma criança pode ser considerado uma forma de análise genética feita pelo nariz da mãe, que identifica aquela criança como sua. O cérebro da criança faz o mesmo, aprendendo a responder de forma especial aos cheiros da mãe - e, assim, tem início no parto o romance mais forte que se conhece: a relação amorosa entre mãe e filho.
A informação é passada à amígdala do cérebro, que dá início a um conjunto todo especial de respostas fisiológicas e comportamentais que são a base dos efeitos sociais do cheiro de um filho. Parte desses efeitos sociais envolve a ativação do sistema de recompensa, que associa àquele cheiro particular uma sensação ímpar de prazer que, quando evocada por antecipação, serve como motivação para fazermos o necessário para estarmos na presença daquele cheiro de novo -ou seja, de nossos filhos.
O valor do cheiro das crianças para a formação de elos afetivos, porém, não é exclusivo às mães e pode ser desenvolvido também por quem não as deu à luz pessoalmente, mas se afeiçoa às crianças assim mesmo. Como parte de minhas investigações informais, ligo para meu pai e interrompo seu trabalho com uma pergunta meio insólita: o cheiro dos seus netos suados é para ele: a) neutro, b) maravilhoso ou c) fedido? Ele ri e responde na lata, enfático: "É absolutamente delicioso..."
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Fique de bem com o seu cérebro" (Editora Sextante) e do site O Cérebro Nosso de Cada Dia (www.cerebronosso.bio.br).
Uma pesquisa da Universidade do Kentucky, Estados Unidos, diz que a amamentação não aumenta a flacidez dos seios.
Entre os principais fatores causadores da flacidez, segundo os médicos, estariam a idade, o número de gestações e o fumo.
Os cientistas conduziram a pesquisa com mulheres que se submeterem a cirurgias plásticas no hospital da universidade e descobriram que outros fatores são responsáveis pela flacidez, incluindo o tabagismo.
"Muitas vezes, se uma mulher aparece (no hospital) pedindo cirurgia para levantar ou aumentar os seios, ela diz: 'Quero consertar o que a amamentação fez com meus seios'", disse o autor do estudo, o cirurgião plástico Brian Rinker.
O médico apresentou os resultados de seu estudo esta semana na conferência da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos em Baltimore.
Rinker e sua equipe entrevistaram 132 mulheres que foram até o hospital da universidade para uma cirurgia plástica nos seios entre 1998 e 2006.
Em média, as mulheres tinham 39 anos e 93% delas já tinham passado por pelo menos uma gravidez. A maioria das mães, 58%, tinha amamentado pelo menos um filho.
A equipe de pesquisa também avaliou o histórico médico da paciente, índice de massa corporal, tamanho do sutiã usado antes da gravidez e se a paciente fumava.
Os resultados não mostraram diferença no grau de flacidez dos seios entre as mulheres que amamentaram e as que não amamentaram.
Mas os pesquisadores descobriram que outros fatores afetavam a firmeza dos seios, incluindo idade, número de gestações e se a paciente fumava ou não.
Rinker afirma que o fumo pode gerar um efeito decisivo para a flacidez.
"O fumo quebra uma proteína da pele chamada elastina, que dá à pele uma aparência jovem e flexível e dá apoio aos seios... então faz sentido o fato de que (o fumo) tenha um efeito adverso nos seios", disse.
A gerente de marketing Cíntia*, 30 anos, de São Paulo, solteira e sem filhos, comanda um grupo de seis mulheres. Ela está aflita para fechar um projeto que será implementado na semana seguinte. Uma de suas subordinadas, Carolina*, não poderá ficar até mais tarde, pois avisou que precisa levar o filho ao pediatra. Cíntia tem consciência da dedicação da funcionária, mas não deixa de pensar: Puxa, as coisas aqui estão pegando fogo e ela sai bem agora? Não poderia pedir a alguém para levar o bebê?" Em outra companhia, Alessandra*, gerente de logística, grávida de cinco meses, fica sabendo que a empresa oferecerá um curso de uma semana num hotel fora de São Paulo e enxerga aí uma oportunidade de aprimorar seus conhecimentos. Quando seu chefe se dirige à equipe para decidir de quem é a vaga, uma colega já dispara: "Não manda a Alê, porque ela está grávida". Furiosa e frustrada, ela chega em casa e cai em prantos. "Essa não foi a primeira vez em que fui tirada de algum projeto ou de um curso por causa da minha gravidez. Não sei se querem me proteger ou pegar o meu lugar. Fico superinsegura. O que acontecerá então quando eu sair de licença?"
Um embate, na maioria das vezes velado, está em curso entre profissionais com e sem filhos. De um lado do ringue, estão mães exaustas, se desdobrando para dar conta da família e do trabalho, cheias de culpa. Do outro, mulheres sem filhos, disponíveis para focar todo o tempo e a energia na carreira e alheias aos dilemas das mães que trabalham fora. Será que a ascensão profissional nos próximos tempos será determinada pelo fato de a mulher ter ou não ter filhos? A questão é polêmica e divide quem trabalha com recrutamento. "Vai depender da posição da empresa em relação a essas duas profissionais e da estrutura que a própria mãe vai montar para manter o ritmo de trabalho", afirma Patrícia Epperlein, sócia e diretora-geral da Mariaca/InterSearch, empresa de recrutamento de executivos.
A gerente de controladoria Mariana*, 41 anos, acredita nessa competição. Quando não tinha filhos, ela cansou de ouvir críticas dos colegas ao comportamento das mães em relação ao trabalho. Hoje, uma vez por mês, ela sai meia hora mais cedo para levar a filha, de 8 meses, ao médico. "Pelas conversas paralelas, sei que sou criticada pelos meus pares, mas acho injusto. Eu não fumo e produzo o dia inteiro, enquanto meus colegas fumantes acabam matando uma hora por dia só nessas escapadas. Afinal, estou saindo por um motivo sério", desabafa. A relações-públicas Vanessa*, 28 anos, solteira, sem filhos, reclama dos privilégios que as casadas desfrutam, como tirar férias em janeiro e julho junto com os pequenos em idade escolar. Cheguei a perder dinheiro com passagem por que priorizaram uma colega com filhos. Eu também tenho meus motivos. Por que não posso folgar nesses meses?" Em compensação, acha que leva vantagem numa possível promoção. "Percebi a irritação da chefia em relação a funcionários - na maioria mães - que batem o ponto no horário certo." Será? "Não concordo. As grandes empresas levam em consideração a competência em primeiro lugar e não fazem esse tipo de discriminação. Minha consultoria, por exemplo, nunca deixou de recrutar uma mulher por esse motivo", afirma Gutemberg de Macedo, presidente da Gutemberg Consultores, empresa especializada em recolocação e aconselhamento de carreira. José Augusto Minarelli, presidente da consultoria de carreira Lens & Minarelli, admite que, numa disputa entre duas profissionais com a mesma competência, é possível que quem não tem filhos saia na dianteira."Eles podem ser uma restrição. Se a concorrente com a mesma competência não tem um impedimento como esse, ela é quem leva a promoção." Na contratação de executivas, também há uma predileção pelas sem filhos. Segundo a consultora Zenilda Castilho, da RH Internacional, empresa da área de recursos humanos, elas levam vantagem. "Para alguns cargos, meus clientes pedem para não selecionar profissionais com crianças menores de 7 anos. A idade dos filhos é uma barreira e um ponto a ser levado em consideração. A idéia é que a mulher, para cumprir todas as demandas domésticas, não conseguirá dispor de todo o tempo que a companhia lhe exigirá."
Fernanda*, 38 anos, executiva da área de telefonia, sentiu isso na pele recentemente, quando foi sondada pela chefia para uma possível promoção. Enquanto seus filhos eram muito pequenos, tinha receio de ser preterida por causa da suposta falta de disponibilidade das mães. "Há pouco, meu chefe me perguntou sutilmente se eu tinha intenção de ficar grávida outra vez. Disse que não e, naquele momento, senti que já não corria mais o risco de ser jogada para escanteio. Afinal, agora as crianças estão com 5 e 8 anos", conta. Para a secretária Andréa Marquardt, 36 anos, o fato de ser mãe só trouxe vantagens. Ela acredita que conquistou o emprego em uma multinacional ao revelar que estava se separando e tinha um filho de 2 anos para sustentar. "Na época, o chefe sentiu meu real comprometimento com a empresa quando percebeu que o meu filho dependeria financeiramente apenas de mim." A gerente titular do banco Itaú Personnalité, Léa Soler, 40 anos, também acha que as casadas se empenham mais. "Lidero seis gerentes, duas com filhos pequenos, e as mães são as melhores da equipe. Elas têm maturidade, foco e sempre superam os resultados." Léa admite que há competição, mas a culpa, afirma, é da imaturidade das sem filhos. "Eu mesma, antes de ter os meus, olhava torto para as mães que colocavam a carreira em segundo plano", confessa. Para ela, cabe à empresa evitar essa rixa avaliando seus subordinados pela competência. No caso de férias, por exemplo, dou prioridade para quem supera as metas e apresenta os melhores resultados durante o ano. Ou seja, é por mérito", explica.
A maioria dos especialistas ouvidos nesta reportagem concorda que a rixa se resolveria facilmente se as empresas oferecessem às mulheres mais condições de conciliar carreira e família. Em vários países, o apoio às mães começa no governo, que propõe leis claras e concede benefícios fiscais a companhias que dão suporte aos pais. Na Inglaterra, mães com filhos menores de 6 anos têm o direito de exigir redução da jornada ou de sair mais cedo até duas vezes na semana. Na Alemanha, o empenho do governo é maior ainda por uma questão econômica. Caso a taxa de natalidade continue a despencar, não haverá mão-de-obra qualificada para manter a produção e a prestação de serviços no país. Por isso, neste ano o governo passou a conceder uma ajuda financeira correspondente a 67% do salário líquido dos pais, desde que os dois se licenciem para cuidar do filho - a mulher por dez meses e o homem por dois.
O dilema é antigo e está longe de ser resolvido no Brasil, segundo Iaci Rios, consultora da DBM, empresa especializada em recursos humanos. Algumas companhias oferecem creches e horário mais flexível, o que facilita e muito a vida da mulher com filhos. Mas ainda são poucas", afirma. A farmacêutica Merck Sharp & Dohme é uma delas. A coordenadora de relacionamento com clientes, Lilian Sato, 32 anos, tem a opção de entrar entre 7 e 9 horas da manhã e sair às 15 horas às sextas-feiras. "Assim, posso levar meu filho, de 2 anos, à escolinha e pegá-lo no final do dia. É uma vantagem, pois a maioria das minhas amigas não consegue", garante. Enquanto isso, as mulheres vão fazendo o que podem para dar conta dos múltiplos papéis sem muita perspectiva. Na opinião de Patrícia Epperlein, um futuro melhor está por vir. "As empresas ainda enxergam as mães de forma diferente, mas isso está mudando, embora haja um caminho longo pela frente. Tenho certeza de que em breve as companhias serão obrigadas a rever a questão. Em muitas áreas, as mulheres estão dominando o mercado e já são maioria nas escolas em busca de aperfeiçoamento. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de desperdiçar tanta mão-de-obra especializada", finaliza ela.
Se você tem filhos e não quer ser vista de maneira diferente pela empresa, siga as orientações dos consultores:
Deixe claro na entrevista que você mantém uma estrutura organizada em casa. Tenha sempre na manga o telefone de uma segunda babá em caso de imprevisto.
Evite ao máximo sair no horário de trabalho para levar o filho ao pediatra. Caso não haja alternativa, converse com seu chefe para achar uma boa solução para as duas partes. Uma opção é dividir a tarefa com o marido.
Planeje sua saída na licença-maternidade e mantenha contato na sua ausência.
Seja discreta ao ligar para casa para saber das crianças. Esse telefonema é visto com naturalidade pela maioria dos chefes, mas não abuse e seja breve.
Não banque a supermãe e dedique um pouco de tempo a si mesma. Afinal, o equilíbrio reflete num bom desempenho no trabalho.
* Nomes trocados para preservar a identidade das entrevistadas
Mais uma vez uma história de infanticídio choca a todos nós**. O caso Paraná causou revolta, indignação, perguntas sem respostas. Como uma mãe que deve proteger o filho é capaz de praticar ato tão absurdo? Mas, não temos interesse aqui em julgar as atitudes dessa mãe, já que ainda não se sabe como realmente as coisas aconteceram.
Fazemos parte de uma comunidade do Orkut de Mulheres atingidas pela Depressão pós-parto. A nossa preocupação é informar que a DPP é uma doença real e que causa sofrimento em inúmeras mães e famílias. E, ainda sim é vista de forma preconceituosa, não sendo discutida abertamente e não se provendo políticas públicas que orientem as futuras mães e ofereça tratamento às atingidas.
Pesquisas mostram que de cada 10 mulheres, 1 é atingida pela depressão pós-parto, sem contar as mulheres que não se pronunciam por vergonha e por não entender o que acontece com ela.
O fato é que a Depressão pós-parto é uma doença totalmente tratável. Sendo assim, casos de tragédia como a do Paraná, poderiam ser perfeitamente evitados, caso o sistema de saúde oferecesse um apoio psicológico durante a gestação e o pós-parto imediato para todas as gestantes como programa obrigatório de prevenção e cuidado com a futura mãe. Porém, o que percebemos é que a Depressão pós-parto só é discutida na mídia quando fatos extremos acontecem. Assim a grande maioria das mulheres continua sem saber realmente o que é Depressão, quais os seus sintomas, onde e como procurar ajuda.
A Depressão pós-parto pode ter início ainda no período gestacional ou aparecer até dois anos após o nascimento da criança. Os sintomas se manifestam em graus leves e moderados e em casos extremos a mulher pode a vir a desenvolver psicose puerperal que é um estado avançado da depressão pós-parto, nestes casos a mulher precisa ter um acompanhamento assistido de perto e muitas das vezes necessita de internação, pois pode oferecer risco a si própria e ao bebê.
Diferentemente da Tristeza pós-parto, que é comum em 80% das mulheres e que ocorre apenas nas primeiras semanas após o nascimento do bebê, ocorrendo por influencia dos hormônios, a DPP se manifesta com sintomas constantes como: irritabilidade, mudanças freqüentes de humor, crises de choro, tristeza sem motivo aparente, sendo comum à mulher passar a não querer sair de casa, não querer ver ninguém, não ter interesse em fazer as coisas que antes gostava, coisas corriqueiras como as tarefas do dia-a-dia, sentir-se incapacitada para cuidar do bebe , as vezes demonstrando desinteresse por ele ou excesso de proteção e dependência do bebe, apresentando pensamentos a todo instante de que algo ruim pode acontecer com ambos, e por vezes chegando ao extremo de pensamento suicidas e homicidas em relação ao bebê.
Infelizmente muitas mulheres que apresentam sintomas da DPP não recorrem ao médico e não buscam ajuda. O tratamento é feito à base de medicamentos e com intervenção terapêutica quando possível. Percebe-se que muitas mulheres se recusam a procurar ajuda médica por estarem amamentando e por este motivo têm medo dos medicamentos fazer algum mal para o bebê. Porém, o tratamento medicamentoso é necessário e não interfere na amamentação.
Quando uma mulher engravida, ela realiza o pré-natal, e muitas recorrem aos cursinhos de gestantes que oferecem informações sobre alimentação, tipos de parto, cuidados com o bebê, amamentação, mas em nada se orienta sobre a DPP. Ainda na maternidade essa mesma mulher não recebe nenhum tipo de orientação psicológica, nenhuma avaliação e nenhuma orientação sobre a doença. Ao chegar em casa com o seu bebê no colo, e diante de tantas mudanças bruscas em seu cotidiano, a mulher não entende porque aquele momento tão esperado e planejado nos seus mínimos detalhes se transformou em um momento de pesadelo, angústia, desespero, medo e arrependimento. Ela não sabe se precisa buscar ajuda, nem onde consegui-la. Na maioria das vezes a mulher não pode contar nem com a própria família, tem medo das reações e do preconceito que certamente virá acompanhado de críticas e de conselhos contraproducentes.
A verdade é que a Depressão pós-parto não é brincadeira, frescura, maldade...A DPP é uma doença como todas as outras, que precisa ser tratada adequadamente e o mais cedo possível para que as conseqüências para a mãe, à criança e a família sejam as menores possíveis.
A DPP não escolhe suas vítimas por condições sócio-econômicas ou culturais. Ela pode bater na porta de qualquer mulher que sonha com a maternidade. E a única forma de serem combatidas essas situações extremas e tristes para as famílias, é lutarmos para que seja oferecida uma assistência psicológica para todas as mulheres, cuja próxima etapa da vida, influenciará o futuro de todas essas crianças e, por conseguinte, de toda sociedade.
Portanto, reiteramos que é de extrema importância que a DPP seja discutida com seriedade e não só em momentos trágicos, é fato que se existir um trabalho de orientação ainda no pré-natal aumenta-se a possibilidade de prevenção contra uma depressão pós-parto. Cabe ao meio político providenciar meios para que seja oferecido o acesso a informação sobre a doença e o devido acompanhamento às futuras mães para que todas tenham a possibilidade de vivenciar o momento da maternidade de forma plena e saudável.
* Angela Edilaine, professora de Bauru, São Paulo, é uma das moderadoras da comunidade do Orkut "Depressão Pós-parto ", que visa esclarecer e ajudar mães e gestantes que passam ou passaram por um período de Depressão pós parto.
** Refere-se a um caso ocorrido no final do mês de maio, no Paraná. Uma jovem mãe acionou a polícia alegando que teve a filha, de 40 dias, roubada de seus braços. Dois dias depois a criança é encontrada morta, em uma vala próxima à sua casa. A mãe, de apenas 19 anos, sofria de depressão pós-parto. A notícia completa pode ser lida aqui: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL45429-5598,00.html
Se você ainda acredita em sacrifícios incondicionais, é bom descer logo desse altar. Quem faz apenas o possível respira mais aliviada - e cria filhos mais felizes.
Não, doutor Freud não tinha razão quando dizia que somos "por natureza" masoquistas. Não somos capazes de encontrar prazer na dedicação absoluta aos filhos, consagrando todas as horas do dia a limpar, aquecer, distrair, alimentar e fazer dormir. Hoje sabemos disso, mas, algumas gerações atrás, as mulheres descontentes com esse esquema eram tachadas de "anormais".
Como foi ficando cada vez mais difícil corresponder aos modelos de perfeição ou de "normalidade", a raiva tomou conta de muitas de nós. Mas senti-la provocava mais culpa. Não é à toa que às vezes sucumbimos, odiando os filhos e a nós mesmas por não sermos um exemplo de benevolência - ao contrário, não raro perdemos a paciência por problemas prosaicos, que nos testam todo dia.
O maior desafio da mulher ainda é conseguir aceitar os próprios limites. "O que sempre dificultou nossa vida foi o fato de termos assumido muitos papéis", frisa a psicoterapeuta junguiana Lucia Rosenberg. "Como esses papéis são muito recentes, a culpa nos acompanha no horário comercial e nas happy hours. Pelos padrões seculares, deveríamos estar vendo a lição ou assando bolo..."
Mas nós mudamos e, graças às feministas, que chamaram o instinto materno de "enorme pilhéria", pudemos respirar mais aliviadas, reconhecendo que o amor de mãe é apenas um sentimento humano e, como todo sentimento, incerto, frágil e imperfeito. Ah, que alívio poder existir fora da fôrma, desenvolvendo relações mais transparentes com nossos filhos, sujeitas a altos e baixos, como todo vínculo humano honesto e verdadeiro.
Foi assim que conseguimos virar a página e deixar de viver a maternidade como obrigação, sabendo que não há comportamento materno suficientemente unificado que permita falar de instinto ou atitude universal. "As mulheres que se recusam a sacrificar ambições e desejos ao maior bem-estar do filho são demasiado numerosas para ser classificadas como exceções patológicas que confirmariam a regra", diz a escritora francesa Elisabeth Badinter em seu livro Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno (Nova Fronteira), em que joga a pá de cal definitiva sobre a idéia da mulher "anormal", ou seja, aquela que escapa ao molde da santa senhora.
Desdobráveis, sim, heroínas, não Claro que algumas de nós conseguem desempenhar com certo talento e sem muito stress a dupla jornada de trabalho. Afinal, a maternidade é um dom, e não um instinto, e como tal há quem o possua - ou não. No rol das bem-dotadas está a mineira Ana Cecília Carvalho, 52 anos. Psicanalista, escritora, professora universitária e mãe de dois filhos, ela credita o sucesso da sua empreitada à mãe, seu grande exemplo. "Só me dei conta de que minha mãe não era igual às outras quando passei a freqüentar a escola, em meados dos anos 50. Descobri, então, que ela era a única, entre as mães da turma, que trabalhava fora e tinha uma carreira. Isso passou a ser motivo de orgulho para mim. Dela herdei a idéia de que ser mãe é nutrir com amor. Mais do que uma memória, essa é a base da minha identidade e é também o que me inspira no dia-a-dia na sala de aula, no trabalho no consultório, em cada texto que escrevo."
Ana Cecília reconhece que nem sempre a situação é amena e sem sacrifícios. "Todas as mães vivem algum sentimento de culpa, porque, embora tenham capacidade de se desdobrar, não conseguem evitar os conflitos com os filhos." Desdobráveis, sim, mas não heroínas a ponto de dar conta de tudo ao mesmo tempo e sempre. Há momentos em que a gente entra em parafuso mesmo. Foi o que aconteceu com Juçara Costta, 52 anos, artista plástica, dois filhos, que em meio a uma grande crise depressiva resolveu entregar Décio, 3 anos, e Gustavo, 1 ano e meio, ao pai, de quem já havia se separado. "Não quis mais que as pessoas interferissem no meu encontro com a arte, que todos consideravam uma bobagem. Diziam que eu deveria me contentar com o marido maravilhoso e os dois filhos lindos. A repressão à minha carreira e a culpa por eu não estar agradecida a tudo o que a vida tinha me dado me levaram ao desespero."
Juçara tomou essa medida com a certeza de que tanto a família de seu ex-marido quanto a sua teriam estrutura para acolher as crianças. "Não abandonei meus filhos. Ao contrário: achei que eles não mereciam viver a dor daquele momento. Preferi ficar sozinha, mas sabia que, um dia, eles voltariam e me encontrariam pronta para dar a eles o que mereciam. Foi o que aconteceu."
Com a ajuda da psicanálise, Juçara conseguiu se aprumar. "Décio já estava com 13 anos quando começou a ir aos meus vernissages e às peças de teatro em que eu atuava como atriz. Um dia, pediu para voltar a morar comigo. Mudei toda a minha vida para recebê-lo. Logo depois veio o Gustavo. Aos poucos, fui reconstruindo a relação com os dois - hoje ela é amorosa e sem traumas. Considero-me amiga dos meus filhos. Tenho um profundo respeito por eles. Estou certa de que valeu muito mais ser uma mulher verdadeira do que uma mãe perfeita."
Que tal chamar o pai? Livres do script viciado, podemos recusar a vida de sacrifício. Ainda bem, porque quem entra nessa pelos filhos cobra no fim, com juros e correções, toda a energia gasta. Afinal, ninguém é santa. A salvo desse engano, precisamos ainda corrigir outro pequeno desvio comum em nosso caminho: a mania de achar que, instintivamente, sabemos cuidar melhor das crianças do que os homens. E já não é sem tempo de mudar, pois, nesse item, muitas mulheres desafinam. "Desde bebê, a mãe desautoriza o pai com frases do tipo 'dá que eu carrego; você não tem jeito pra dar comida; olha como segura o nenê no banho'", diz Lucia Rosenberg. "Se, em vez de estragar a relação dos filhos com o pai, as mulheres ajudassem a fortalecê-la, bingo! As crianças com certeza ganhariam com isso - e a mãe também, pois acabaria economizando tempo e dinheiro. A intimidade e o amor entre eles não seriam afetados desde que tivessem base sólida", afirma a psicoterapeuta.
A secretária Jogma Ribeiro Fernandes, 35 anos, dois filhos, dá a prova de que a coisa funciona - ela conta tanto com o apoio do marido como dos filhos. Jogma não se cobra o papel de ser a "sábia" da casa nem vê problema em não se dedicar inteiramente à maternidade. "Independentemente de ter filhos, eu sou mulher. Há momentos para ser mãe, profissional, esposa e amante. Vivo cada um deles, sem dramas, pois tenho dois filhos saudáveis e responsáveis e um marido presente, o que me libera para exercer todos os outros papéis." Ela diz que Olbe, seu segundo marido, pai de Victor, "sempre trocou fralda, levantou de madrugada, deu banho, comida. Nos finais de semana, por exemplo, é ele quem vai para a cozinha fazer pratos deliciosos. Vivemos um novo modelo de família, com os meus, os seus e os nossos filhos."
Assim, vemos que o amor não é mais privilégio das mulheres e que os novos pais podem se dar aos filhos com a mesma intensidade, ajudando efetivamente na sua criação. "Acredito que as atuais formatações familiares auxiliam ao oferecer pluralidade de modelos às crianças", comenta Lucia. "Hoje existem pais que ficam em casa enquanto as mães saem para o trabalho; namorados ou novos maridos que ocupam o lugar de modelos masculinos alternativos para os filhos; madrastas que mudaram de cara e podem ser grandes aliadas. Quanto menos rígido e cristalizado for o padrão familiar, mais possibilidades de gingar teremos todos." Então, como o balanço é brusco, diário e exige jogo de cintura, como você anda de suingue, mamãe?
Com amor e sem receita
A jornalista Déa Januzzi, 51 anos, conta neste artigo exclusivo a sua experiência de maternidade. Autora do livro Coração de Mãe (Editora Leitura), ela assina todo domingo uma coluna sobre o tema no jornal Estado de Minas
Não tenho receita nem fórmula mágica para educar filho. Tem dias que quero fugir para bem longe. Sou canceriana, signo da Lua e das águas profundas, mas, às vezes, queria estar em Marte. Em outros dias, o sol brilha - e a mesma mãe que esbraveja também dança ao som de Bob Marley quando o filho chega inteiro da rua e liga o som. Aí, é dia de calmaria, pois a mesma mãe que sofre porque o filho atravessa a madrugada sabe também que é cheia de falhas e se lembra de quantas vezes deixou de telefonar para a própria mãe quando era adolescente. Essa mãe que se descabela com a violência nas ruas, com as drogas, com o perigo na esquina, que se culpa por ter se separado do marido quando o filho ainda era pequeno é a mesma que exorciza os seus demônios, que tem imenso prazer de ver o garoto buscar o próprio caminho. É a mãe que vê no filho a esperança de um mundo melhor. Nessas horas, vejo que não existe fórmula. Que o meu filho tem muitas mães; que ele aprende o melhor com a avó, com as tias, as primas, as minhas amigas e as dele. Que tem respeito pelas mulheres, porque eu o criei com toda a delicadeza e poesia que existem dentro de mim. E que ele também pode ter muitos pais para se identificar. Pode ser o avô, que continua vivo em seu coração apesar de ter partido há mais de 20 anos; seu professor de biodança; ou mesmo o pai, que, apesar da falta da convivência diária, está presente em algum canto secreto do seu coração. Ser mãe do Gabriel é um aprendizado diário. Aprendo coisas que não encontrei em livro nenhum. Pratico a maternidade como um exercício de liberdade. Somos amigos, acima de qualquer definição. Não imponho regras, tenho a liberdade de dizer o que penso. E ele faz o mesmo. Às vezes, gritamos um com o outro, trocamos palavras ásperas, afiadas, porque não vivemos num paraíso. Mas como é mágica essa relação! Ser mãe me redimiu, exorcizou os meus fantasmas, descortinou a janela secreta da minha alma feminina, por onde entram os ventos curativos da maternidade.
Crédito: revista Cláudia
Quando o pai dele ligou para dizer que precisávamos conversar pessoalmente, já intuía o assunto. O encontro aconteceu há pouco mais de quatro meses, num restaurante perto de onde moro, na Zona Sul de São Paulo. Mal começamos a comer, e ele disse: “Quero que o João venha morar comigo”. Fiquei paralisada. Gelada. João é nosso filho. Desde que Marcos e eu nos separamos, há três anos e meio, esperava esse dia chegar. A vida de Marcos estava estável financeiramente, ele se casara de novo, e a mulher dele também queria que João fosse morar lá. Não havia motivos para dizer não. Afinal, por que ele teria de morar comigo? Por que sou a mãe? Sim, sou só a mãe. E Marcos é o pai. Ele tem o mesmo direito e a mesma vontade de exercer a paternidade que tenho de ser mãe. Amamos João igualmente. Naquele momento, na mesa do restaurante, tomei a decisão: era a hora de João se mudar. Alguns filhos vão embora aos 18 anos. Outros depois. João foi aos 5.
A mudança ainda é recente. Faz algumas semanas que João deixou minha casa, tempo suficiente para sentir sua falta. A casa arrumada pede uma baguncinha. Há um silêncio estranho no ar, de uma calma que chega a incomodar. Parece um descanso merecido, mas que traz culpa. Às vezes, dói como um abandono, mesmo sabendo racionalmente que ninguém foi abandonado. Só queremos o melhor para ele. João terá a oportunidade de experimentar outro lado da própria vida. Não cabe a mim ser egoísta e negar isso a ele. Na casa de Marcos, ele estreitará os laços com o pai, conviverá com Pedro, enteado do pai que ele considera um irmão. E ainda acompanhará o nascimento de novos irmãos. Marcos descobriu há pouco tempo que será pai novamente. Desta vez, são gêmeos. João participará dessa experiência, algo que não pretendo repetir.
Nem todos esses argumentos me ajudaram, a princípio, a atenuar a culpa por deixar João ir. A sensação de ser a pior mãe do mundo me assolou durante semanas. Não conseguia encontrar sentido na vida se meu filho não estivesse comigo. Levou um certo tempo para perceber que essa culpa não era minha, me fora imposta. Ela vem de uma cultura ultrapassada que paira sobre as mulheres. Para sermos completas, temos de ser mães. É o que chamo de maternidade compulsória. Além de mãe, temos de ser perfeitas. Cabe a nós dar conta de absolutamente tudo: da casa, do trabalho, de cuidar do marido e do corpo. Ainda temos de fazer com que nossos filhos sejam mais inteligentes que os dos outros. Será que precisamos mesmo dar conta de tudo? Queremos mesmo fazer tudo isso? Muita gente fica chocada quando digo que não pretendo ter mais filhos. Queria muito ser mãe. Fui mãe. Para mim, bastou. Fiquei mal-humorada os nove meses de gestação, me sentia indisposta. Só que as mulheres não podem falar sobre isso. Você tem de ser uma grávida linda, plena, adorar as modificações em seu corpo.
Minha decisão de permitir que João more com o pai não significa de forma alguma que queira me desfazer de meu filho. Não sou uma mãe desnaturada, não estou louca nem quero férias – ainda que muitos achem que esses são os motivos reais. Muitos conhecidos entendem a decisão e até admiram. Mas críticas também apareceram. As reações vão de “nossa, mas que coragem!” – algo que já denuncia uma reprovação sutil à ideia – a manifestações mais elaboradas de censura. Alguns comentários que recebi em meu blog são bastante explícitos: “Você só pensa no seu bem-estar. Vai deixar o filho morar com o pai para poder dormir até meio-dia”.
Já estava preparada para esse tipo de crítica. Faz parte de nossa cultura patriarcal atribuir todo cuidado dos filhos à mãe. Quando um casal se separa, fica automaticamente entendido que as crianças ficarão com a mulher. Ninguém acha que o homem tenta transferir sua responsabilidade de pai. Criar um filho é uma carga muito grande. No dia a dia, você está sozinha. Não tenho familiares por perto, que possam ajudar quando a babá falta e preciso ir cedo ao trabalho. Esses anos em que João morou comigo foram intensos – tanto em aprendizado quanto em excesso de trabalho e responsabilidade. A mudança traz um pouquinho de alívio e descanso, apesar da saudade.
Agora, poderei fazer um happy hour com os amigos do trabalho de vez em quando, voltarei para minhas aulas de dança e, finalmente, dormirei bem. Apesar de João já ter 5 anos, ainda hoje não dormimos direito. A mudança também será uma oportunidade para pôr em dia minha situação financeira. Não terei mais de pagar a babá que cuidava dele enquanto eu estava no trabalho. Estou numa empresa há cinco meses, depois de dois anos trabalhando em casa por conta própria. Esse período foi maravilhoso para ficar mais próxima de João: eu o levava e buscava todos os dias na escola, participava das reuniões, conseguia levar aos médicos. O preço foi ter uma renda variável, que me deixou numa situação financeira complicada.
Outro motivo muito forte me fez aceitar a proposta de Marcos. Ele foi o porto seguro da família quando tive depressão pós-parto, logo após o nascimento do João. Foi o melhor pai que nosso filho poderia ter naquele momento delicado. Foi o amigo que eu precisava para conseguir superar esse obstáculo. Sou eternamente grata a ele. Sei quanto sofreu de saudades de João quando nos separamos. Merece ficar mais próximo do filho que ama tanto. Cheguei a me perguntar se ter tido depressão pós-parto não influenciou minha decisão. Será que sou menos apegada a meu filho do que deveria ser? Hoje, tenho certeza de que não. Existe um estigma de que as mães sofrem com esse transtorno porque não suportaram o peso da maternidade. Não é verdade. Há causas biológicas, como mudanças hormonais ou predisposição genética. Quatro dias depois de voltar do hospital, após uma cesárea complicada, tive crises de choro, suava frio quando João mamava no peito, sentia-me mal. Amigas que me visitaram lembram que eu não conseguia me referir a João pelo nome ou chamá-lo de filho. Era “aquele moleque”. Estava tão doente que mal me lembro. Nesse período, quem nos ajudou a cuidar dele foram minha irmã e duas babás, uma durante o dia e outra à noite. Eu não podia ficar sozinha com João. Havia a possibilidade de pôr nossas vidas em risco.
O tratamento médico surtiu efeito relativamente rápido. Foram cerca de sete meses, até que conseguisse me vincular emocionalmente a João. Desde então, recuperei o tempo perdido de afeto. Os anos em que moramos só ele e eu, após a separação, ajudaram-me a entender que mãe eu poderia ser para o João e que mãe ele precisava que eu fosse. Talvez nunca seja aquela que faz um grande almoço de domingo, passa a roupa e cobra a lição de casa. Sou do tipo que joga bola, quer saber como foi o dia e dá conselho. Olho no olho e sei o que meu filho está sentindo. Sou a mãe que leva para experiências novas e faz pensar de maneira diferente. Para João, isso basta.
Um estudo realizado na Alemanha sugere que crianças que moram em regiões de trânsito movimentado aumentam em 50% as chances de desenvolver doenças alérgicas como asma e infecções de pele.
Os pesquisadores do Instituto de Epidemiologia do Centro Helmholtz para Pesquisa de Infecções analisaram 3 mil crianças em dois grupos o primeiro residia no centro da cidade de Munique, no sul da Alemanha, e o segundo era composto por crianças que viviam em áreas de menos trânsito em outros pontos da cidade.
A pesquisa observou as crianças durante seis anos. Todas elas moravam no mesmo local desde o nascimento.
Segundo o estudo, quanto mais longe do trânsito as crianças moravam, menor era o risco de desenvolver doenças respiratórias e alergias.
De acordo com os pesquisadores, trata-se do primeiro estudo epidemológico controlado em laboratório que comprova os efeitos já conhecidos da poluição do trânsito na saúde das crianças.
Impacto
Para chegar aos resultados, a equipe considerou a distância da casa ao trânsito e a contaminação do ar registrada no endereço das crianças - a partir da concentração de partículas finas e gases resultantes da queima dos motores dos carros.
Segundo a pesquisa, a incidência de doenças respiratórias nas crianças, como asma alérgica e alergias ao pólen, aumentou proporcionalmente ao nível de partículas finas no ar.
Já a elevação da presença de gases poluentes na atmosfera, como o dióxido de nitrogênio, contribuiu para elevar os casos de alergias de pele nas crianças.
Os resultados indicaram ainda que as crianças que viviam a menos de 50 metros de uma via principal desenvolveram alergias com uma freqüência até 50% maior em relação às crianças de mesma idade, mas residentes em áreas afastadas do trânsito.
Para avaliar as condições de saúde dos participantes, a equipe de cientistas analisou exames de sangue para constatar a presença de anticorpos dos tipos mais comuns de alergia e realizou questionários freqüentes com os pais das crianças.
Depois de um dia difícil no trabalho, você volta para casa e é recebido pelo seu filho. Como poucos acontecimentos passam despercebidos pelas crianças, ele não demora a lançar a pergunta: “Você está triste?” Nesse momento, boa parte dos pais tenta engolir o choro, mudar a expressão, colocando um sorriso no rosto, e deixa as lamentações para mais tarde. “Não, filho. Está tudo bem. Como foi o seu dia?” ou, em alguns casos, partem até para o “Que tal tomarmos um sorvete hoje?”.
Se você se reconheceu na cena, saiba que é isso mesmo o que faz a maior parte dos adultos, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Toronto, no Canadá, e publicado na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin. Os pesquisadores, liderados pela especialista em psicologia social, Bonnie Le, descobriram que mascarar os sentimentos ruins diante das crianças tem um custo emocional alto para os pais.
Para chegar a esse resultado, os cientistas entrevistaram 162 pais e, posteriormente, acompanharam outros 118 durante dez dias em uma rotina de cuidados com as crianças. Além de perceber que eles realmente reprimem as emoções negativas e amplificam as positivas, os pesquisadores puderam notar o quanto isso faz mal para eles. “Os pais experimentaram custos ao regular as emoções deles dessa maneira porque se sentiram menos autênticos ou verdadeiros com eles mesmos”, disse Le.
As crianças costumam notar, desde muito cedo, quando algo não vai bem com os adultos, ainda que não consigam entender muito bem as razões e nem sempre captem a intensidade do sentimento. Por isso, fingir que nada está acontecendo não costuma ser uma boa estratégia. “Quando a criança percebe uma emoção nos pais, ela usou diversos recursos cognitivos e de inteligência emocional para ‘captar’ o outro. Ao negar a verdade, os pais descredenciam a criança. É como se dissessem: ‘Você está errado no que percebeu’. Mas a criança estava certa!”, explica a psicóloga Rita Calegari, coordenadora psicossocial do Hospital São Camilo (SP). De acordo com ela, essa situação gera um conflito, que pode deixar a criança insegura no futuro, duvidando de si mesma. “Ao agir assim, os pais perdem a grande chance de dialogar com seus filhos e dar exemplos reais de como se sentem e como agem com o que sentem. Isso ajuda a criança a nomear as emoções e a lidar com elas”, completa.
A psicóloga e psicanalista Carmen Alcântara, de São Paulo (SP), concorda. “O que faz mal para a criança é quando o adulto nega sua percepção. Se a mãe está triste, a criança percebe, questiona e a mãe diz que ‘não é nada’”, exemplifica. “Isso gera na criança uma crença de que sentimentos de tristeza e negativos devem ser escondidos sempre. Por sua vez, a mãe também não se sentirá melhor negando completamente para o filho o seu real estado de espírito”, afirma.
Além disso, mascarar completamente os sentimentos negativos pode deixar a situação ainda pior. “Represar uma preocupação em um ambiente como o da família pode, em algum momento, ser quebrado por uma emoção mais forte. Até porque as crianças podem fazer algum comentário e nos pegar desprevenidos e aí a máscara cai. Então, a emoção vem sem filtro, forte, intensa e sem controle – e expõe ainda mais a fragilidade”, diz Rita.
As crianças não costumam ter maturidade o suficiente para lidar com toda a intensidade de alguns sentimentos negativos. Portanto, é possível compreender a atitude dos pais que tentam suprimir as emoções para tentar protegê-las. No entanto, dá para ser sincero, sem, contudo, exagerar e aprofundar assuntos que os filhos ainda não possuem capacidade para lidar.
Para Rita, não há problema em confirmar que está triste e dar uma explicação rápida, dizendo como a criança pode ajudar: “Não se preocupe, já vai passar. Preciso que você me ajude concentrando-se no seu dever de casa hoje, OK?”. No entanto, ela ressalta que a sinceridade é muito diferente de desabafar com a criança. “Ela não poderá resolver e ainda ficará preocupada. Quanto menor a criança, maior deve ser o filtro”, orienta. A psicóloga lembra ainda que as crianças menores são egocêntricas e tendem a achar que, se os pais estão tristes, a culpa é delas. “Portanto, é bom frisar que não é com ela”, indica.
Nesse sentido, analisar o que vai ser repassado à criança é realmente necessário. “Os pais precisam filtrar suas sensações negativas. Situações muito complexas e nebulosas podem gerar nos filhos insegurança e desconfiança de que os adultos não conseguirão protegê-las”, pontua Carmen.
Da mesma maneira que faz mal reprimir os sentimentos negativos, ressaltar em excesso os positivos, passando para a criança a impressão de que o acontecimento é maior do que ele, de fato, é também pode trazer prejuízos emocionais aos pais. “O exagero e a exaltação de tudo o que a criança faz gera nela a sensação de que, por menor esforço que tenha, sempre merece aplausos para qualquer conquista. Isso também colabora para que ela não consiga lidar com as frustrações e insucessos”, lembra Carmen. E, bem sabemos, que eles fazem parte da vida inteira.
Fonte: Crescer
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