Familias homoparentais

Muito se fala hoje na desagregação familiar, na dissolução das familias pelas separações ou por uniões não formais, ou outras formas de união conjugal como é o caso dos casais homosexuais.
Acontece que muito diferente de extinguir o casamento, ele está mais forte do que parece. Ocorre que novas formas de união conjugal estão surgindo e já estão instituidas em nossa sociedade. O casamento tradicional como viamos no século passado já não é tão comum e vemos surgir novas formas de união mesmo em casais heterosexuais. Existem casais que vivem em casas separadas, ou mesmo dentro da mesma casa mas em quartos separados, respeitando sua individualidade e não deixando de lado a união e a intimidade importante para qualquer casal. Relacionamentos “abertos” com liberdade, sem vinculo formal, etc.

As uniões homoparentais são também cada vez mais frequentes e vemos hoje em dia casais lesbianos podendo constituir sua familia normalmente como um casal tradicional hetero. Essa abertura cultural e social é positiva na medida em que se permite o direito das pessoas em expressar sua autenticidade, sua verdade e ser aceita tal como se é pela sociedade em que vive.

Meu intuito aqui é trazer uma reflexão à respeito da paternidade e maternidade no sentido psicanalítico do termo. Segundo Lacan, devoto de Freud, a paternidade e maternidade são funções e por isso, independe de gênero e sexo. Ou seja, o bebê elege sua mãe pela figura que lhe dá a proteção, o amparo e está com ele durante seus primeiros meses que é onde se constui-se como sujeito. Segundo outro grande psicanalista pós Freud, Winnicott, até esse momento o bebê pensa que a mãe, ele e o mundo são uma coisa só. A partir deste ponto, ele começa a ver que a mãe tem outros interesses e que tem alguém que ela se dirige, e que toma a atenção que antes era só sua, nesse caso o pai, a primeira vista um rival, um legislador, pois se põe entre o bebê e a mãe, mas em outro momento, como amparador e protetor, provedor.

Na medida em que o bebê elege estas pessoas como pais, ao mesmo tempo tem de haver uma eleição interna em cada um destes indivíduos, ou seja, que eles internamente assumam-se com tais funções para que haja a interação na intersubjetividade do grupo e a familia se constitua.

Vemos exemplos de como isso funciona em jovens meninas que engravidam e que por não estarem preparadas para assumirem seus bebês, acabam estes elegendo a avó na função maternal. Neste exemplo, a avó elegeu o bebê internamente e o bebê á ela, e a mãe biológica acaba assumindo um papel mais de irmã que de mãe…

Todos nós já vimos exemplos de pais ou mães que não assumem suas funções apesar de serem pais e mães biológicas…

Desta forma, também, pela maternalidade e paternidade serem funções (e não papeis) não importa quem esteja assumindo tais posições, se mulher ou homem, mas sim a função que estes indivíduos ocupam no psiquismo do bebê, e em seu próprio psiquismo pessoais.

É importante na nossa atual condição e no atual estado de mudanças que a humanidade atravessa, que nós tenhamos uma visão mais aberta á estas novas formas de parentalidade que vêm surgindo, entendendo seus motivos mais profundos e aceitarmos que as pessoas se expressem em suas “verdades pessoais”. Aceitar a verdade dos outros é um pré-requisito para que possamos expressar nossas verdades próprias e sermos aceitos como somos no nosso próprio mundo.

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