
Nações Unidas, 21/09/2007 Os chamados para uma participação maior das mulheres na tomada de decisões políticas aumentam às vésperas de uma importante reunião sobre mudança climática que acontecerá na sede da Organização das Nações Unidas na próxima semana. A maioria dos governos não considera os aspectos de gênero na questão da mudança climática, disseram ontem em entrevista coletiva mulheres que representam numerosos grupos da sociedade civil. “Isso é inaceitável, porque as mulheres estão sofrendo Nações Unidas Os chamados para uma participação maior das mulheres na tomada de decisões políticas aumentam às vésperas de uma importante reunião sobre mudança climática que acontecerá na sede da Organização das Nações Unidas na próxima semana. A maioria dos governos não considera os aspectos de gênero na questão da mudança climática, disseram ontem em entrevista coletiva mulheres que representam numerosos grupos da sociedade civil. “Isso é inaceitável, porque as mulheres estão sofrendo mais do que os homens todas as calamidades”, afirmou Rebecca Pearl, da Organização de Mulheres pelo Ambiente e o Desenvolvimento (Wedo).
Em uma tentativa de influenciar o resultado da reunião de Nova Yorque convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o grupo de Pearl convocou um encontro semelhante que é considerado “a primeira reunião global de organizações governamentais e da sociedade civil de alto nível” sobre a mudança climática. As conversações começam hoje presididas pela ex-presidente irlandesa Mary Robinson e pela ex-primeira-ministro norueguesa Gro Harlem Brundtland. Ambas são muito admiradas pela comunidade internacional devido aos seus esforços na luta pelos direitos humanos e meio ambiente.
“A intenção desta mesa-redonda é garantir que o impacto da mudança climática sobre as mulheres e seu papel na luta contra este problema fiquem refletidos na reunião convocada pelo secretário-geral” das Nações Unidas, explicou June Zeitlin, diretora-executiva da Wedo, uma rede internacional de centenas de grupos de mulheres de todo o mundo que trabalha estreitamente com a ONU. “É parte de nossa campanha garantir que as respostas nacionais e globais à mudança climática levem em conta a perspectiva e as preocupações das mulheres”, acrescentou Zeitlin em uma declaração.
Vários estudos demonstram que quando ocorrem desastres naturais e mudanças no clima isto afeta os homens e as mulheres de maneira diferente porque, na maioria dos casos, seus papeis e responsabilidades são desiguais. Segundo o Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática, da ONU, integrado por mais de mil cientistas, o impacto do aquecimento global “cairá de maneira desproporcional sobre as nações em desenvolvimento e as pessoas mais pobres de todos os países. Mas, os quais são os mais pobres entre estas pessoas? As mulheres”, disse em entrevista coletiva Ulla Strom, representante da Suécia na ONU.
Seria errado assumir que as mulheres nos países pobres são as únicas desproporcionalmente afetadas pelas drásticas mudanças do clima, afirmou Zeitlin. “Isto é verdade inclusive em nações industrializadas. Nos Estados Unidos, o furacão Katrina afetou especialmente mulheres negras pobres, o setor mais pobre do país, nos níveis mais baixos da pobreza”, acrescentou. Um estudo da Escola de Economia de Londres, que no ano passado analisou desastres naturais em 141 países, apresentou a evidencia de que as diferenças de gênero nas mortes por estas catástrofes estão diretamente ligadas com os direitos econômicos e sociais das mulheres. Em outras palavras, as desigualdades de gênero são potencializadas por esses desastres.
Para Zeitlin, as mulheres pobres que vivem em nações em desenvolvimento enfrentam maiores obstáculos ainda. E, apesar de numerosos acordos internacionais que chamam a uma participação eqüitativa de gênero, elas continuam sendo excluídas da tomada de decisões em muitos países. “A participação das mulheres está praticamente ausente”, disse Lorena Aguilar, da União Mundial de Conservação e autora de vários livros sobre gênero e meio ambiente. Citando um recente estudo da ONU sobre os ministérios de Meio Ambiente em diferentes países, Pearl disse que apenas quatro ou cinco nações com iniciativas contra a mudança climática incorporam a perspectiva de gênero em suas projeções. Em dezembro, a ONU realizará uma cúpula sobre mudança climática em Bali, na Indonésia.
Funcionários das Nações Unidas disseram que o motivo de o secretário-geral ter convocado a cúpula da próxima segunda-feira é seu desejo de antecipar um bom resultado da reunião em Bali, com um acordo mais completo sobre reduções nas emissões dos gases causadores do efeito estufa responsáveis pela mudança climática para depois de 2012, quando expirar o Protocolo de Kyoto, único instrumento internacional contra o aquecimento da Terra. Este documento obriga as partes a reduzirem suas emissões desses gases, em média, 5% até 2012, tendo por base os níveis de 1990. No mês passado, a ONU realizou outro encontro internacional sobre mudança climática em Viena, que terminou sem um acordo concreto, já que muitos países mais industrializados evitaram compromissos sobre reduções de emissões.
As organizações de mulheres consideram que as atuais negociações sobre mudança climática estão muito concentradas nas emissões dos gases que provocam o efeito estufa, dando pouca atenção para as preocupações sociais do problema. “Ban Ki-moon deveria enviar uma mensagem clara de que igualdade de gênero deve ser integrada a Bali”, disseram representantes da Wedo, do Conselho de Mulheres Líderes Mundiais e da Fundação Henrich Boll em uma declaração conjunta. “O conhecimento e a contribuição das mulheres tem sido chave para a sobrevivência de comunidades inteiras em situações de desastre”, acrescentaram, exortando os governos a implementarem todos os acordos internacionais relacionados com igualdade de gênero e mudança climática.
(Envolverde/ IPS)