O poder da birra

Acho que todos já testemunhamos a cena de pais desnorteados, envergonhados, sentindo-se julgados por quem observa e sem saber o que fazer com o filho que se joga no chão, bate os pés e chora como se tivesse sido machucado ou magoado seriamente.

EXISTEM MUITAS DIFERENÇAS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

Acho que todos já testemunhamos a cena de pais desnorteados, envergonhados, sentindo-se julgados por quem observa e sem saber o que fazer com o filho que se joga no chão, bate os pés e chora como se tivesse sido machucado ou magoado seriamente.

Ele está, simplesmente, xingando e demonstrando sua raiva porque os pais “ousaram” lhe negar a compra de um caríssimo brinquedo (que, por sinal, ele já tem em casa).

Os observadores dividem-se entre os que afirmam que seus filhos jamais fariam algo assim e os que acham que, se porventura isso viesse a acontecer, a cena acabaria rapidamente, com um par de palmadas. Com certeza, essas pessoas não têm filhos e nunca se defrontaram com essa situação.

Outra parcela dos espectadores tomará o partido da coitadinha da criança; achará que não pode ser traumatizada. Pode se tratar de uma doce vovozinha ou de pais com enormes dificuldades de colocar limites ou provocar a necessária frustração aos filhos, já que o mundo não vai lhes fazer todas as vontades. Chamamos “compensadores” os pais que conseguem isso.

A cena descrita pode se repetir muitas vezes em outros contextos do cotidiano, sem testemunhas, porém provocando a mesma reação dos pais.

Entre mais ou menos os 15 e os 30 meses, a criança passa pela chamada fase do negativismo ou da oposição. É fundamental que assim aconteça, já que está desenvolvendo sua personalidade, diferenciando-se dos pais e contrapondo seus desejos aos deles. Testa as pessoas e também sua capacidade de persuasão.

Essas cenas, as famosas birras, são provocadas pelo conflito criado entre o desejo e a intolerância à frustração de não ver satisfeito esse desejo. Podem ser desencadeadas também pelo fato de a criança não conseguir acabar com uma tarefa (encaixar algo etc.) ou quando tem de cumprir com alguma norma familiar que atrapalha sua brincadeira. A criança tem um objetivo claro: obter a qualquer custo a satisfação do desejo.

PARECE CLARO QUE NÃO SE TRATA DE COMBATER A BIRRA COM GRITOS OU TAPAS POR SER ALGO “FEIO”. O QUE ESTÁ EM JOGO É QUE O FILHO APRENDA COM A EXPERIÊNCIA QUE A BIRRA NÃO É O MELHOR CAMINHO PARA CONSEGUIR O QUE QUER. ASSIM, O MELHOR “CASTIGO”, QUE POR SINAL SEMPRE É SIMBÓLICO E NÃO REAL, É QUE ELE SAIBA QUE SUA BIRRA ACABA, SEUS PAIS NUNCA PERDEM A CALMA E QUE A FRUSTRAÇÃO (QUANDO PEDAGÓGICA) “NÃO MATA”.

O recado é: “Você está bravo, tem direito de demonstrar isso, porém, quando seus pais falam ‘não’ é ‘não’ até você ficar tranqüilo”.

Outra inadequação é oferecer aquilo que foi negado para acabar com a chateação do filho birrento. Assim só se reforça o poder da birra.

O que podemos esperar da educação que queremos dar aos nossos filhos? O que queremos lhes transmitir? Acho que concordamos que queremos, no mínimo, transmitir-lhes as condições básicas e suficientes de sua socialização. Ou seja, transmitir-lhes uma cidadania possível.

Às vezes, para não ser incomodados ou pela culpa por nossa ausência (sendo pior quando ficamos ausentes ainda que presentes), introduzimos imprudentemente os princípios da Revolução Francesa na educação dos filhos: igualdade, liberdade e fraternidade.

A família tem de ter níveis saudavelmente assimétricos, papéis bem definidos e normas a serem cumpridas. Se não se consegue entender e agir adequadamente, nos arriscamos a transformar um suposto escravo aborrecido em um tirano aborrecido.

DR. LEONARDO POSTERNAK É PEDIATRA E PRESIDENTE DO IFA (INSTITUTO DA FAMÍLIA)

3 comentários em “O poder da birra

  1. ai meu deus,estas criancinhas
    nos viram pelo avesso!tenho 5 filhos,de idades de19 anos a 1 aninho.abracos

  2. Prezado, Boa Noite!
    Tenho um bebe de 20 meses e estou com muita dificuldade para lidar com suas birras, peço a gentileza de obter uma ajuda caso seja possivel, de como devo agir nos exemplos que seguem:
    1) Quando vou troca-lo é o pior momento do dia (várias vezes ao dia), pois ele simplesmente começa a bater as duas pernas bem forte(a ponto de me machucar), para que eu não consiga limpá-lo e colocar a fralda (já tentei de tudo, segurar as pernas até cansar, dar umas palmadas, falar bem brava); a impressão que tenho é que quanto mais brava fico, mas ele acha que esta sendo engraçado.
    2) Chora sem parar quando não consegue colocar o sapato dele nos meus pés, ou ainda quando não consegue encaixar um determinado brinquedo, etc…
    3) Quando vai ao mercado pede absolutamente tudo que vê pela frente, e se negado chora até me fazer perder a vontade de fazer a compra.
    Por favor me ajude, pois não sei como lidar com essas situações, se devo simplesmente dizer não (explicar o porque) e ignorar seu choro ou devo dar umas palmadas (vale ressaltar que uma vez ele aprontou uma arte daquelas e eu dei umas palmadas no seu bumbum, foi a pior coisa que fiz, pois ele ficou muito pior, começou a jogar tudo, almofada, controle da tv, etc…
    Caso prefira meu celular é(19) 8154.9422.
    Grata pela atenção
    Karina.

  3. Tenho 4 filhos ,68 anos.certa vez um deles gritou ,esperneou,chorou porque queria uma coisa que não podia comprar no momento.Expliquei ,conversei e nada.Então sentei no meio fio e esperei deixei ela colocar tudo pra fora.quando ela cansou levantei e fui embora,todos olhavam ,comentavam que eu devia dar umas palmadas.Porem como eu aprendi com uma grande psicologa IRMÃ DULCE MOREIRA do Colégio de Santa Marcelina .Hoje já bisavó sei que fiz o certo pois são todos GENTE não perfeitos, mas pessoas de bem!!!E os melhores filhos do mundo !!!Pai e mãe recebe o troco daquilo que da !!!

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