Sedução ou Inconveniência?

Há alguns dias eu venho pensando em como é fina e tênue a linha que separa os homens com relação ao status de sedutor e inconveniente, conquistador e porco chauvinista!

O fator motivador foi a abordagem que recebi numa das minhas raras excursões ao centro dessa roça iluminada que habito. Encaminhava-me tranquilamente para o ponto de ônibus quando um carro emparelhou ao meu lado e o seu ocupante começou a questionar para onde eu ia e me convidou a entrar no carro dizendo que me levaria ao paraíso ou onde mais eu quisesse ir! Enquanto ouvia minhas negativas e vendo a minha total falta de interesse ignorando sua investida, o mesmo não se sentia convencido de que eu realmente não estava com a menor disposição para ser assediada! Procurei ser educada a princípio, incisiva num segundo instante e como já estava “puta da vida” com a insistência chata e indiscreta, apelei e fui direta!

Sempre concordei com a premissa de que todos têm o direito de se insinuar, demonstrar o interesse por algo ou alguém. Muitas vezes a abordagem é algo até mesmo esperado, tanto por homens quanto por mulheres. Uma massagem no ego de vez em quando faz um bem danado à alma e auto-estima! Mas esse mesmo direito não permite, em hipótese alguma, ultrapassar a linha da falta de respeito! A diferença entre fazer charme e rejeitar uma cantada é clara, e qualquer ser humano com um pouco de bom senso que seja, pode sim, se tiver realmente interesse, perceber, em poucos segundos, depois de ter lançado o gracejo.

No entanto a inconveniência não está apenas no campo direto, numa abordagem clássica frente a frente. Ela pode vir na seqüência de conversas até então amistosas, mas que têm um desenrolar muitas vezes pra lá de desastroso. A internet está recheada de tipos assim, que se insinuam e quando são repelidos pela primeira vez, vestem o disfarce de cordeiros amigos e continuam gracejando; e quando, muitas vezes, são cortados com uma rispidez inesperada, por eles, claro, partem para a defesa usando o mais machista de todos os argumentos: “Foi você quem provocou!” ou então algo do tipo: “Se não quer ser assediada, não faça por onde!”.

É esse tipo de argumento que me leva a pensar: Onde está o autocontrole de cada indivíduo, o livre arbítrio? Seguindo por essa linha de raciocínio, poderia dizer que toda mulher que se depara com um rapaz que lhe chame a atenção e sem pensar tasca-lhe um beijo, no susto, ou então lhe aperta a bunda, pode simplesmente dizer que a boca e a bunda do cidadão eram irresistíveis, e pelo simples fato dela ali estar “à disposição” ela fez o que fez. Ou o que é pior: um cara estupra uma menina e para se safar às penas alega que foi ela quem provocou, abusando de roupas provocativas. Isso é o cúmulo do absurdo! Não há nada mais machista, preconceituoso e cruel do que o uso desse tipo de argumento. E, infelizmente, ainda há muita gente que o dissemina. Se eu saio com meus vestidos decotados, ou com minha saia curta, eu estou pedindo para alguém me estuprar? Se um homem bonito e charmoso sai à rua sem camisa está pedindo para ser atacado? Não, esse tipo de discurso nunca deveria ser aceito em nenhum tipo de discussão, muito menos ser levado a cabo em casos penais!

Mas nada me incomoda mais do que aquela cantada que vem de onde menos esperamos: das pessoas em quem depositamos toda a confiança e que chamamos de amigos. Há as pessoas que se aproveitam de momentos em que o outro está fragilizado, para atacar, como se fosse uma cobra. Abusam da confiança e dão, literalmente, o bote, visando tirarem todo o proveito em causa própria. A meu ver, algumas pessoas podem até ceder a essas investidas, mas acho que acabam se rendendo por serem ainda mais fracas que o(a) “oponente”. Não imagino como poderia ser possível a manutenção de uma relação de confiança depois de uma situação como essa. Porque, se há mesmo um interesse genuíno, o outro saberá conduzir a situação para uma futura aproximação mais íntima. Quem considera e respeita não se aproveita.

Com certeza há muitas pessoas que acreditam que o assédio se dá por provocação de uma parte -o que pra mim é um disparate-, mas enfim, essa é apenas a minha opinião e quem quiser contestar, fique à vontade, desde que saiba respeitá-la!

Patrícia Gomes
Imagem: Stanley Martucci

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