Sexo depois dos 30

Cinco décadas depois da revolução feminina, a eterna pergunta ainda faz sentido para muita gente e virou até mote de um seriado americano. Afinal, adiar a transa para fazer um homem casar é uma estratégia eficaz ou não passa de insegurança e só serve para deixar você morrendo de vontade? Várias mulheres, uma psicanalista e um sexólogo discutem esse jogo polêmico de poder

Em pleno século 21, e quase 50 anos depois da revolução feminina deflagrada pela invenção da pílula anticoncepcional, a velha tática de recusar o sexo promete voltar à cena. Pelo menos foi o que aconteceu no seriado americano DESPERATE HOUSEWIVES (retransmitido aqui pela Sony). Bree, uma das donas-de-casa desesperadas, fisgou um marido com esse estratagema. Num episódio emblemático, ela chocou as amigas ao revelar que ainda não havia transado com Orson, de quem acabara de ficar noiva após seis meses de relacionamento. E continuou o jogo duro até que ele a levasse ao altar. No Brasil, o tema foi tratado – sem puritanismo e com humor – na peça OS HOMENS SÃO DE MARTE… E É PARA LÁ QUE EU VOU!, de Mônica Martelli, sucesso retumbante com o público feminino.

É claro que, se a mulher não sente atração sexual pelo homem, não vai querer transar com ele. Isso nem se discute. A questão é: e se ela estiver súper a fim, vale a pena ficar só nos beijos e adiar a transa em nome de um compromisso futuro? “Lógico que não”, opina a psicanalista Regina Navarro Lins, autora de vários livros sobre relacionamento, entre os quais o clássico A CAMA NA VARANDA (reeditado pela Best-Seller). Acho lamentável que algumas mulheres ainda acreditem que devem reprimir opróprio desejo para adequar-se às exigências do homem.” Regina defende que essa estratégia é resquício de uma mentalidade patriarcal repressiva. “Fomos educadas para corresponder às expectativas masculinas. Crescemos ouvindo que homem não gosta de mulher ‘fácil’ e que, para agradar a ele, o ‘certo’ é agir assim ou assado.” Essa ideologia, afirma, gerou dois tipos de comportamento feminino: a servidão – quando a moça faz qualquer coisa para ser aprovada pelo parceiro; e a manipulação – quando ela usa o sexo como arma, oferecendo ou recusando a fim de obter vantagens, seja algum ganho financeiro (presentes, jóias etc…), seja a promessa de casamento.Para Regina, esses dois modos de agir remontam ao século 19 e são aprisionantes. Em vez de usar ardis para segurar o homem, a mulher ganharia mais se investisse em sua autonomia semeando no mundo (e isso inclui a criação dos filhos, meninos e meninas) uma nova visão de amor e de sexo, sem joguinhos de poder. Portanto, quanto mais a mulher entrar em contato com o próprio desejo e se responsabilizar por ele, melhor. Isso significa assumir que faz ou deixa de fazer algo porque ela quer, sem argumentar, por exemplo, que não vai para a cama na primeira noite ou que topa sexo anal sem ter vontade porque é isso que o homem quer. Assumir o próprio desejo é difícil? Sem dúvida. “Tem mulher independente que, quando se interessa por um homem, ainda se comporta como uma cinderela”, diz a psicanalista, lembrando que sucesso financeiro não é sinônimo de autonomia emocional.

Na outra ponta da equação, será que o homem julga mal a mulher que não esconde o tesão por ele e que topa ir para a cama nos primeiros encontros? O sexólogo e psicoterapeuta Ronaldo Pamplona considera que, atualmente, poucos pensam assim e por esses a mulher não deveria se lamentar. “Se um homem desvaloriza uma parceira porque ela faz sexo, é melhor que ele vá logo embora”, diz. Para Pamplona, a mulher age de forma machista quando imagina que recusar sexo vai valorizá-la diante dos olhos do outro. Isso é sinal de que ela não tem noção do próprio valor e fica à mercê da opinião do parceiro. Mas a ala masculina, embora jamais admita, também é muito insegura”, garante o sexólogo, que tem 36 anos de consultório. “Quando um homem some depois de uma transa, é possível que esteja com medo de que a mulher não aprove seu desempenho sexual ou que o compare com outro, coisa de que todos têm pavor.” Para Pamplona, não é o caso de estabelecer regras de conduta sexual. “Tudo depende do momento e do casal. Se cada um ficar com medo do que o outro vai pensar – ela temendo pela reputação e ele pela performance na cama -, será mais difícil. Por outro lado, diferentemente das mais jovens, a mulher maior de 30 anos ainda tem muita influência do amor romântico”, revela Pamplona. “Às vezes, ela adia o sexo não como um estratagema para prender o homem, e sim porque prefere ir para a cama só quando se sente envolvida ou apaixonada.” Além do mais, nem todas gostam tanto de sexo. E existem muitas razões culturais para isso. Não é por acaso que “o caso Bree” chegou à TV americana na puritana era Bush. Pamplona lembra que a Usaid – Agência do Governo dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional -, uma das reguladoras dos investimentos das campanhas antiaids no mundo, tentou pressionar países a propagar a virgindade e a fidelidade como único modo de combater a doença. “Felizmente, o Brasil preferiu disseminar o uso do preservativo. Porém, aqui, a Igreja Católica e o movimento evangélico têm feito cruzadas a favor da virgindade até o casamento.” É um novo modo de ligar sexo a sujeira, perigo e pecado e também um retrocesso em relação aos movimentos dos anos 60, que o associaram a liberdade, saúde e alegria.

O que elas pensam…

Não fiz sexo e me arrependi
“Eu me segurei no primeiro encontro porque queria algo mais sério. No segundo, tiramos o maior sarro dentro do carro dele e ainda consegui me controlar, achando que isso o manteria ligado. Não deu certo. Ele sumiu. Eu telefonei e ele me ignorou. Fiquei péssima. Devia ter transado, pelo menos teria aproveitado aquele momento.”
KARINA BARROS, 32 ANOS, ESTILISTA, SOLTEIRA

Dou quando tenho vontade e pronto
“Não vejo sentido em ter regras, cada situação é uma. Já esperei quando senti que poderia fluir melhor depois. Também já transei na primeira oportunidade que apareceu. Estou num relacionamento há três meses. Nossa primeira vez foi muito forte, foi o sexo que nos aproximou. Se ele me deixasse porque eu me entreguei logo, eu consideraria imaturidade – e um cara assim não combinaria em nada comigo. Gosto de tudo às claras, sem jogo. Não vejo graça em ter que esconder o meu tesão.”
CRISTIANE SITA, 37 ANOS, ARQUITETA, SOLTEIRA

Transei no primeiro encontro e casei com ele
“Eu não gostava da idéia de fazer sexo logo de cara. Mas foi exatamente o que aconteceu com o homem que hoje é meu marido. Não só fomos para a cama já no primeiro encontro como fizemos sexo anal, coisa que nunca tinha me acontecido antes. Na hora, fiquei pasma comigo e com a situação, mas o tesão era tão intenso que queríamos nos engolir. Foi bom para nós dois, tanto que estamos casados – e vivemos muito bem. Essa paixão despudorada e intensa me ensinou que sexo e amor são para homens e mulheres fortes; não combinam com os mais fracos e os medrosos.”
ZÉLIA*, 34 ANOS, ADVOGADA, CASADA

“Nos correspondemos durante seis meses por meio do Orkut. Na primeira vez que nos encontramos fomos jantar e acabamos na cama. Ninguém parou para pensar em certo ou errado. Simplesmente era bom. Tanto que não nos desgrudamos nunca mais. Um mês depois, ele me pediu em casamento e, em seis meses, oficializamos a nossa união.”
LAÍS*, 39 ANOS, EMPRESÁRIA, CASADA

Eu me segurei por medo de perdê-lo
“Meu ex era machista, do tipo bruto. Só fomos para a cama um mês depois que começamos a sair, mas, confesso, isso me soou estranho. Não tinha mais idade para esse jogo duro. Eu sou mais liberal. Mas achei que, se não me contivesse e aceitasse as investidas dele, iria perdê-lo. Com o tempo, ficou claro que não tínhamos nada a ver.”
PATRÍCIA*, 39 ANOS, FUNCIONÁRIA PÚBLICA, SOLTEIRA

Fiz um cara esperar, mas transei com outro
“É besteira ter que me policiar por causa do outro. Só recorri à tática porque os homens são machistas! Se você transar, o cara some. Como isso me aconteceu várias vezes, decidi endurecer quando conheci meu namorado. Achei terrível a espera! Gosto de sexo e só consegui me segurar porque transei com um amigo sem compromisso. Meu plano deu certo, consegui namorar com quem eu queria, estamos juntos há um ano. Entendo o lado dele: as mulheres estão apressadas, não dão tempo para o cara conhecê-las.”
LUCIANA*, 40 ANOS, DENTISTA, SOLTEIRA

Vou para a cama se sentir que ele está fisgado
“Nunca topei fazer sexo de cara. A única vez que aconteceu, me arrependi. Conheci o irmão de um amigo numa festa de trabalho e ficamos. Na volta, transamos no carro num trecho meio deserto de uma praia, no Rio de Janeiro. Depois disso, ele evaporou. Algum tempo depois, meu amigo deu a entender que o irmão me achou uma piranha. Fiquei tão chateada que nunca mais transei no primeiro encontro. Prefiro saber antes qual é a do cara.”
BEATRIZ BARBOSA, 35 ANOS, PUBLICITÁRIA, SOLTEIRA

“A tática do banho-maria é boa porque dá para ver se o homem vale a pena ou não. Para mim, a atração tem a ver com sexo, mas também com os valores, o caráter. Leva um tempo para saber como é a cabeça e o comportamento do outro. Já fui para a cama na primeira noite, mas não foi legal. No fundo, eu sabia que ele não valorizaria aquela situação, nem eu. Resultado? Nem meu telefone ele pediu. Acho que nenhum de nós estava no ponto’. Por isso, prefiro esperar.”
LEE*, 38 ANOS, PSICÓLOGA

* NOMES TROCADOS PARA PRESERVAR A IDENTIDADE DAS ENTREVISTADAS

A comédia das relações

A peça OS HOMENS SÃO DE MARTE… E É PRA LÁ QUE EU VOU! ficou dois anos em cartaz no Rio, está em São Paulo e já foi vista por mais de 150 mil pes soas. Impossível não se divertir com Mônica Martelli, autora do texto, no papel de Fernanda, que tem 35 anos, é magra, bonita… e louca para casar. Mônica inspirou-se em si mesma e na saga das mulheres que andam atrás de um caso sério. Cada vez que a protagonista co nhe ce um homem, promete: “Não vou dar para ele. Mulher que dá rápido é vagabunda”. Mas nunca resiste e transa. Depois, espera ansiosa um telefonema, amargura o sumiço do cara e, enfim, descobre que os dois não tinham nada a ver. “É claro que, em busca de namorado, a gente faz muita besteira, né? O cara diz que nunca sentiu nada igual, a gente acha lindo e dá para ele”, afirma a atriz. Hoje, aos 38 anos, ela está noiva de um americano com quem não teve intimidade nos primeiros encontros. “Não agi por puritanismo. Pouco me importava se ele ia me achar uma piranha. Antes de conhecê-lo, eu havia decidido não ter pressa. Não queria mais a sensação de vazio no dia seguinte.”
DEPOIMENTO A JULIANA DINIZ

 

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