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Depressão Materna

Mais uma vez uma história de infanticídio choca a todos nós**. O caso Paraná causou revolta, indignação, perguntas sem respostas. Como uma mãe que deve proteger o filho é capaz de praticar ato tão absurdo? Mas, não temos interesse aqui em julgar as atitudes dessa mãe, já que ainda não se sabe como realmente as coisas aconteceram.

Fazemos parte de uma comunidade do Orkut de Mulheres atingidas pela Depressão pós-parto. A nossa preocupação é informar que a DPP é uma doença real e que causa sofrimento em inúmeras mães e famílias. E, ainda sim é vista de forma preconceituosa, não sendo discutida abertamente e não se provendo políticas públicas que orientem as futuras mães e ofereça tratamento às atingidas.

Pesquisas mostram que de cada 10 mulheres, 1 é atingida pela depressão pós-parto, sem contar as mulheres que não se pronunciam por vergonha e por não entender o que acontece com ela.

O fato é que a Depressão pós-parto é uma doença totalmente tratável. Sendo assim, casos de tragédia como a do Paraná, poderiam ser perfeitamente evitados, caso o sistema de saúde oferecesse um apoio psicológico durante a gestação e o pós-parto imediato para todas as gestantes como programa obrigatório de prevenção e cuidado com a futura mãe. Porém, o que percebemos é que a Depressão pós-parto só é discutida na mídia quando fatos extremos acontecem. Assim a grande maioria das mulheres continua sem saber realmente o que é Depressão, quais os seus sintomas, onde e como procurar ajuda.

A Depressão pós-parto pode ter início ainda no período gestacional ou aparecer até dois anos após o nascimento da criança. Os sintomas se manifestam em graus leves e moderados e em casos extremos a mulher pode a vir a desenvolver psicose puerperal que é um estado avançado da depressão pós-parto, nestes casos a mulher precisa ter um acompanhamento assistido de perto e muitas das vezes necessita de internação, pois pode oferecer risco a si própria e ao bebê.

Diferentemente da Tristeza pós-parto, que é comum em 80% das mulheres e que ocorre apenas nas primeiras semanas após o nascimento do bebê, ocorrendo por influencia dos hormônios, a DPP se manifesta com sintomas constantes como: irritabilidade, mudanças freqüentes de humor, crises de choro, tristeza sem motivo aparente, sendo comum à mulher passar a não querer sair de casa, não querer ver ninguém, não ter interesse em fazer as coisas que antes gostava, coisas corriqueiras como as tarefas do dia-a-dia, sentir-se incapacitada para cuidar do bebe , as vezes demonstrando desinteresse por ele ou excesso de proteção e dependência do bebe, apresentando pensamentos a todo instante de que algo ruim pode acontecer com ambos, e por vezes chegando ao extremo de pensamento suicidas e homicidas em relação ao bebê.

Infelizmente muitas mulheres que apresentam sintomas da DPP não recorrem ao médico e não buscam ajuda. O tratamento é feito à base de medicamentos e com intervenção terapêutica quando possível. Percebe-se que muitas mulheres se recusam a procurar ajuda médica por estarem amamentando e por este motivo têm medo dos medicamentos fazer algum mal para o bebê. Porém, o tratamento medicamentoso é necessário e não interfere na amamentação.

Quando uma mulher engravida, ela realiza o pré-natal, e muitas recorrem aos cursinhos de gestantes que oferecem informações sobre alimentação, tipos de parto, cuidados com o bebê, amamentação, mas em nada se orienta sobre a DPP. Ainda na maternidade essa mesma mulher não recebe nenhum tipo de orientação psicológica, nenhuma avaliação e nenhuma orientação sobre a doença. Ao chegar em casa com o seu bebê no colo, e diante de tantas mudanças bruscas em seu cotidiano, a mulher não entende porque aquele momento tão esperado e planejado nos seus mínimos detalhes se transformou em um momento de pesadelo, angústia, desespero, medo e arrependimento. Ela não sabe se precisa buscar ajuda, nem onde consegui-la. Na maioria das vezes a mulher não pode contar nem com a própria família, tem medo das reações e do preconceito que certamente virá acompanhado de críticas e de conselhos contraproducentes.

A verdade é que a Depressão pós-parto não é brincadeira, frescura, maldade…A DPP é uma doença como todas as outras, que precisa ser tratada adequadamente e o mais cedo possível para que as conseqüências para a mãe, à criança e a família sejam as menores possíveis.

A DPP não escolhe suas vítimas por condições sócio-econômicas ou culturais. Ela pode bater na porta de qualquer mulher que sonha com a maternidade. E a única forma de serem combatidas essas situações extremas e tristes para as famílias, é lutarmos para que seja oferecida uma assistência psicológica para todas as mulheres, cuja próxima etapa da vida, influenciará o futuro de todas essas crianças e, por conseguinte, de toda sociedade.

Portanto, reiteramos que é de extrema importância que a DPP seja discutida com seriedade e não só em momentos trágicos, é fato que se existir um trabalho de orientação ainda no pré-natal aumenta-se a possibilidade de prevenção contra uma depressão pós-parto. Cabe ao meio político providenciar meios para que seja oferecido o acesso a informação sobre a doença e o devido acompanhamento às futuras mães para que todas tenham a possibilidade de vivenciar o momento da maternidade de forma plena e saudável.


* Angela Edilaine, professora de Bauru, São Paulo, é uma das moderadoras da comunidade do Orkut “Depressão Pós-parto “, que visa esclarecer e ajudar mães e gestantes que passam ou passaram por um período de Depressão pós parto.

** Refere-se a um caso ocorrido no final do mês de maio, no Paraná. Uma jovem mãe acionou a polícia alegando que teve a filha, de 40 dias, roubada de seus braços. Dois dias depois a criança é encontrada morta, em uma vala próxima à sua casa. A mãe, de apenas 19 anos, sofria de depressão pós-parto. A notícia completa pode ser lida aqui: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL45429-5598,00.html

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