Uma Breve Lembrança

Julho / 2002 Rio de Janeiro

Engraçada essa sensação que sinto que meu passado ainda não passou e que ele vive a cada suspiro, e cada música, canto de minha casa, sala, quarto, cozinha.

São mesclados sonhos, cheiros, gostos, sons, sentimentos de saudosismo que parece pieguisse, mas é a mais profunda melancolia de ver o que se transformou o meu mundo.

Meu mundinho que não passa das paredes de meu quarto. Ele foi se estreitando, se delimitando, pois não cabe mais tanta coisa. Muitos livros, CD´s, uma parafernalha de computação e eletrônicos, enfim, tanta tecnologia e nostalgia, que me fazem chorar de saudade dos meus tempos de gravador de mão e da vitrolinha que tocava com o auto-falante o disquinho de vinil single das Patotinhas patinando na capa e vendo a Eliana ainda adolescente com cara de menina boba e não aquela apresentadora que parece uma Barbie, que também surgiu nessa época e foi sensação, sim porque antes dessa, eu tive várias Susis, alguém se lembra?

Li outro dia um e-mail sobre lembrar de determinadas coisas, e com as fotos, nossa foi um chororô desgramado…

Isso porque vocês não podem nem imaginar, vocês não tem a menor noção de minhas brincadeiras na escola, e os problemas que atravessava de adaptação e dos colegas me entenderem…

Eu peguei do bambolê, elástico, io-iô da coca-cola, aquelas coleções de garrafinhas de coca pequeninas, estava lançando a Sprite, meu Deus, como o tempo passou. Gostava muito do Genius, tinha pavor de uma mão verde do Hulk, alguém se lembra dele? E um gancho vermelho.

E os jogos da Grow?

Nossa, aqueles play mobil e casinhas de madeira que montava e fazia uma cidade, porque ainda não havia chegado o Lego na minha época. Enfim, bebia no intervalo, no Recreio mesmo das aulas, um Ola Ola, sabe aquela mistura de todos os refrigerantes de máquina juntos e um misto ou cheese-burguer…

Jesus amado, como o tempo voa, ainda ontem eu saia para as festas de 15 anos.

Ainda ontem, eu dei o primeiro beijo que odiei…

Ainda ontem, passei no vestibular, e não é que até hoje estou lá na faculdade presa no passado que queria que passasse, mas esse teima em não sair de minha vida.

Meu Jesus, olha aqui a minha coleção de papéis de carta!

Não, não é a do computador não, é aquela das pastas e pastas e as figurinhas, olha?

Figurinhas de álbum Sarah Key, uma espécie de Ane Geddes da época só que de desenhinhos bonitinhos, tipo fofolete, sabe?

E o Amar É… Aqueles bonequinhos peladinhos com frases lindas de amor, que nem auto-colantes eram, que engraçado lembrar disso?

Meninos, e quando começaram a fazer xerox? Foi um advento para mim comparado na época ao computador, sabe… Porque peguei o mimiógrafo e os carbonos de mamãe me sujavam toda a mão e os jornaizinhos da quinta série, eu rodei nele, no mimiógrafo da mamãe e bati na minha olivete portátil, super moderna, que nem elétrica era.

Tinha que rir mesmo, eu nem sabia que iria fazer tudo assim num instrumento que depois de tudo corrigidinho, e olha que nem sempre sai perfeitinho, agente imprime, não é legal?

Pois é…

Delícia não é?

Pois então, com um passado tão doce, o que eu me prepararia no futuro? Enganaram-me que tudo ia ser lindo, que eu ia dar certo e que tudo ia ser florido e lindo em meus lindos e sorridentes dias.

Esqueceram-se de me mostrar e preparar pra esse mundo cão, que me engole na primeira mordida para as grades de meu quarto que me prende nesse passado que não me faz cair no chão…

“O que foi duro de sofrer, é doce de recordar”.
Provérbio italiano

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