
Estava lendo @Gabriel_Chalita no Twitter pela manhã que discutia o que via pela manhã no “Bom dia Brasil” e disse ele:
“Reportagem do Bom dia Brasil mostra a tragédia que é nosso sistema penitenciário e de segurança…
A falta da estrutura das polícias, a postura de alguns políticas. Que tragédia a ação da política em Recife, Pernambuco.
Os baixos salários dos delegados em São Paulo. Jaulas no Maranhão. E o péssimo atendimento à população.
Não dá para culpar os policiais. A culpa está na estrutura. Os governos agem quando a mídia cobra. Depois esquecem o problema.”
Respondi no meu twitter um pouco atrasada, sem poder haver outra resposta do mesmo, mas deixei meu registro que herdei a indignação de meu avô:
“Certa feita (rsrs) – risos por conta de ser uma expressão muito usada em textos dele – escrevi uma crônica sobre o assunto “penitenciárias” http://bit.
Quando meu avô estava no seu segundo mandato de vereador, ele apresentou na CMRJ um projeto de prisões como modelo inglês
vovô foi vereador em 2 mandatos, 1 em meados da década de 70 e o outro na década de 80, e ele vislumbrava uma colônia penal
onde as pessoas estudavam, produziam e viviam da própria atividade sócial e cultural por lá produzida, isso é ressocializar…
Adivinha? Foi reprovada. Acho que na realidade a instância e a lei não poderia ser municipal, etc, algo dessa natureza.
Meu avô era engenheiro, homem de Deus e de família, casado com uma professora religiosíssima como ele, então sonhava.
Vovô era um idealista, buscava sempre elaborar projetos que fossem dar orgulho a quem lembrasse dele em vida e depois dela…
Como dizia o Pe Léo – fundador da comunidade de Bethânia que recupera até hoje, mesmo depois de seu falecimento dependentes de drogas, palestrante entusiasta e muito difundido pela Canção Nova, rede de rádio e TV que evangelizam pelos meios de comunicação em massa – o homem é lembrado pela sua obra, é como um rastro deixado em vida, vovô tantava isso.”
Segue, então a crônica acima citada:
Estive em uma tarde quente, em um presídio.
Parecia um terror.
Primeira visão, de funcionários que não lhe encaram de frente e mal fazem o que lhe são pagos.
Também, coitados, com o que ganham e vivendo aquele cenário todos os dias e tendo de lidar com todo tipo de gente, há de se criar um certo tipo de muro entre o humano e o racional.
Segundo, vislumbrei senhoras, moças, grávidas, crianças amontoadas esperando sua vez para ficar durante uma hora com seus parentes, amigos, primos, tios, sabe-se lá o quê, pelo menos um pouquinho que fosse, pois a visitação é de semana em semana.
Se quisessem visita íntima em um quartinho separado, seria pago mais cinqüenta reais para isso durante mais uma horinha.
Se for dia de visita especial, mais vinte reais por dia.
Soube que a alimentação é azeda e paga-se duas vezes por semana 50 reais para o detento comer algo melhor.
Soube ainda que se quisessem ainda poderiam nessa ida, comprar um refrigerante por quatro reais e um prato ou de batatas-fritas, pizza, ou frango a passarinho para eles comerem, pois tem até um “garçom” lá servindo às famílias.
É muito triste e o pior é ver o espaço como encontram depois de devidamente revistadas e chamadas por um número, só entrando sua carteira no máximo e a espera de seus parentes ansiosas iam-se elas para o “quadradinho” para ver seus amados ou amores.
Quente, esse lugar, mais parecia um inferno.
Mal cheiroso, um barulho ensurdecedor, mas todos de uma forma muito complexa de se explicar felizes, beijando-se, abraçando-se, alguns até namorando mesmo, mas alguns chorando e quase caindo de dor, por estarem em um lugar que não deveriam estar.
Muitos até religiosos, com seus filhos, passando tão mal que até gélidos e brancos ficavam.
Vi alguns que comiam feito loucos e pediam mais, levantando-se e dizendo não mais agüentar, mas tinham que empurrar para sobreviver.
Alguns nada conseguiam colocar na boca.
Um disse-me que estava muito gripado, pois há uma bactéria que só existe lá dentro do “xadrez”, aliás um espaço de quarenta metros quadrados onde ficam 67 pessoas.
Não se pode dar um movimento que esbarra-se em outro detento nesse calabouço que é pior que o inferno segundo esse senhor.
Além disso, esse presídio é tido como o pior da América Latina.
É doído ver a situação do outro lado, de quem está lá.
A tortura é diária, tanto física quanto psicológica, ainda por cima, há o abandono por todas as partes.
Dói muito a todos que vêm esse tipo de coisa.
Agora, peço para quem puder avaliar:
PODEMOS JULGAR ALGUÉM DESSA FORMA?
ESTAMOS AQUI FORA, PROTEGIDOS, OU DESPROTEGIDOS, E ELES ESTÃO PIORES.
ACHO QUE O ASSASSINO, TRAFICANTE, O BANDIDO DE VERDADE ESTÁ ACOSTUMADO, FICA EM UMA SITUAÇÃO DESSAS “NUMA BOA” COMO DIZEM AS MÁS LÍNGUAS, MAS O HOMEM DE BEM SE DISTINGUE POR LÁ E SABE-SE PELO SEMBLANTE SOFRIDO QUE AQUILO NÃO É PARA ELE.
PARA ISSO, POR ESSA JUSTIÇA TORTA QUE EXISTEM OS TAIS DIREITOS HUMANOS, POIS HÁ O BEM E O MAL POR LÁ, NÃO SE SABE QUEM É QUEM, QUANDO SE CAI EM UMA DESSAS NÃO SE SABE MAIS O QUE É O QUE.
ENTÃO A QUEM PUDER ESCUTAR-ME, NÃO É O SISTEMA PENITENCIáRIO O CULPADO, ELE É UMA DAS MAIORES VÍTIMAS, MAS A JUSTÇA SIM, ACABA POR ESTAR CADA DIA MAIS INJUSTA, LENTA E TORTA!
ISSO NÃO PODE CONTINUAR DESTA FORMA!
(08 de agosto de 2003)