
Comidinha na casa da mãe é sempre boa, não é? Eu gosto muito traz memórias da infância, o papo é agradável, e no café da manhã, a conversa flui sonolenta e divertida.
Desfrutando de um café da manhã com os meus pais, conversávamos, sobre os benefícios da granola que comíamos do prazer de uma xícara de café com leite e da delícia do pão fresquinho da padaria. Uma conversa tranqüila e sossegada.
Na semana seguinte, minha irmã ofereceu um almoço para outra irmã que mora distante e passava uns dias aqui com a filha. Estávamos em oito pessoas, querendo saber das novidades, dos feitos esportivos da sobrinha, que é judoca, das peculiaridades da cidade onde elas moravam… Todos comentavam a delícia que estava a comida e, na alegria do encontro, nos empolgamos falando mais alto e ao mesmo tempo.
Nesse momento, percebemos que meu pai, sempre participativo, estava quietinho e com o olhar meio distante.
Os netos declaram a preocupação.
– Vovô está rabugento? Distraído? Deprimido?
Conversamos e ele relatou, que na verdade, estava atordoado com todo aquele falatório.
Ele tem 79 anos e vem perdendo a audição. Ouve as conversas, mas não entende o que está sendo dito principalmente quando o volume é mais alto e quando há conversas paralelas.
Cogitamos a ida ao otorrino e a possibilidade dele usar um aparelho auditivo. A recusa veio imediata, com o seguinte comentário:
– “É bom ser surdo, porque assim, não ouço tantas bobagens”. Esse é meu pai, sempre espirituoso! Porém, percebemos os desconfortos que isso vem causando a ele. Se estiver em um local de muitos ruídos, não ouve quando o celular toca, ou quando atende, pede ao interlocutor que fale mais alto, o que invariavelmente termina na desistência de falar com ele naquele momento.
Meu pai encara a velhice com muita tranqüilidade, e sempre alerta aos desavisados;
– “Sou idoso, não velho”, não vejo ainda nenhum sinal de depressão nele, o que normalmente acontece nos idosos na situação de perda de audição.
O envelhecimento celular e as mudanças degenerativas e fisiológicas causam uma perda natural da audição. A partir dos 65 anos de idade, as chances da surdez se manifestar aumentam consideravelmente.
A reação de recusa ao uso de aparelhos auditivos é comum nos idosos, mesmo tendo a informação de que hoje tais dispositivos não são mais simples amplificadores de som. O que antes causava desconforto, atualmente é sintonizado e está tão pequeno que é quase imperceptível.
A fonoaudióloga Cileide Obrich faz questão de ressaltar que a depressão não causa a surdez. O que ocorre é o inverso. “A limitação em fazer coisas que geram prazer, como ir ao cinema, teatro ou até mesmo assistir à televisão, e os problemas relacionados com a inutilidade perante a família são as principais causas da depressão decorrente da surdez”, afirma.
Quanto mais cedo o idoso ou a família pedirem ajuda profissional, mais fácil será tratar o problema. Os especialistas afirmam que é possível conviver, e bem, com a limitação auditiva.
Não há problema na perda da audição, mas, muitas situações inconvenientes poderão ocorrer se o idoso não for orientado por um especialista.
A campanha de convencimento para que meu pai aceite o aparelho está acirrada, porque o futuro é previsível nessas situações: conversas não serão claras, a televisão ficará muito baixa ou muito alta, falar ao telefone ficará praticamente inviável. Some-se a isso o constrangimento de pedir para que uma frase seja repetida algumas vezes para ser apreendida. As dificuldades que se impõem a um idoso que sofre perda auditiva podem levar à exclusão da convivência social, frustração, depressão, embaraço raiva e medo, dificuldade de comunicação com o médico e outros profissionais, problemas de alerta em geral, como atravessar a rua e não ouvir a buzina.
Cabe a nós, esposa, filhos e a ELE, minimizarmos esse quadro e evitarmos o isolamento.
Acredito ser normal, os órgãos vitais perderem eficiência, mas por sorte, a tecnologia tem evoluído muito, para o bem estar das pessoas.
Silvia, estava justamente pesquisando sobre assunto, e me deparei com esse artigo, gostei muito, você aborda de forma suave e tranquila, a vovó rabugenta sou eu, sabendo agora que é comum na 3a. idade, me encorajei a usar um aparelho, confesso que não é fácil a gente se render.
Deus te abençoe.
Desculpa, mas essa letra é tão pequena para ler.
Marly
Se minha mãe tivesse email, eu encaminharia esta jóia para ela.
Gostei muito,
Um beijo
Temos em casa esse problema com a minha mãe, ela se irrita, mas se recusa a admitir, e diz qe nós é que falamos baixo, vou imprimir para ela ler.
abraços
Pois é, o tempo passa e existem problemas que precisam ser encarados. Uns levam numa boa, outros não.
Clara, bem humorada e muito instrutiva essa matéria.
abraços
Padre Antonio Vieira em seus Sermões, discorre sobre o direito de se comunicar e que Deus, na Sua sabedoria, fez o mudo nascer surdo, por que se ouvisse e não pudesse responder, sua dor seria maior ainda.A Silvia é diferenciada também, como o Pe.Vieira. Como médica aplica a teoria do amor.
Pois é amiga,
eu estava vindo para meu trabalho e ao sair de casa arrebentou minha sandalia, eu voltei e comecei bater na porta da sala onde meu pai estava assistindo a tv, quase quebrei o vidro, os cachorros latiam e meu pai nao abria a porta. Minha mãe que estava nos fundos veio ver o que estava acntecendo e abriu a porta para mim. Ele estava colado na tela da tv para ouvir o filme que estava assitindo e com isso percebi que a surdez dele está pior do que imaginávamos! O duro que tambem evita o uso do aparelho…Temos que ter paciencia e entendermos as deficiencias…Um dia poderemos estar na mesma situação!
Um grande beijo pra voce!!
Adorei também seu post porque raramente lemos algo tão pessoal sobre a convivência com as pessoas que estão envelhecendo.
Meus pais ainda não chegaram aos 70 mas já percebo os sinais de que a idade começa a pesar de fato no físico, no emocional e no psicológico.
E nós um dia, chegaremos lá.
Muito agradável de ler e educativo, filha de peixe… rs
Vou indicar, vale a pena.
Estava lendo seu texto ( como muitos outros que vc escreve; muito lindos e úteis) e pensando, que meus pais ainda nao chegaram nos 50, e tenho que sempre ficar no pé deles para que façam as consultas de rotina, e isso é uma dificuldade, bom, mas acho que quase ninguém gosta de médico, de hospital, exames… enfim, tem que se ter conversas longas, explicar bem a importância, tudo com muita calma e carinho, assim a gente convence eles de que isso, essa coisa chata de ir ao médico, é só pra o bem deles e porque os amamos muito e queremos ver eles bem e felizes!!! Muitos beijos da tua amiga Eli.
Tem uma tia minha que está passando por isso.Está surda parcialmente devido a um derrame.era diretora de colégio, fez parte da delegacia de ensino de SP,muito ativa. agora está assim, não ouve direito,não anda sem ajuda, a fala é meio enrolada. ela fica desesperada pra falar e não consegue.Tadinha.mas no fundo o que fez ela ficar assim foi ter ido morar onde não gosta.Ela ama São paulo.mas mudou para Minas gerais pq meu tio marido dela tinha terras lá.ela não queria mas foi quando se aposentou.isso acabou com ela.as amizades, a vida agitada, ele amava tudo isso e cortou tudo de repente.agora está aqui para se tratar, espero que ela se recupere.
Bjks! :side:
Gostei demais!
Tenho idosos na família e desde já vou começar uma campanha.
Muito bem elaborado o texto.
Beijos,
Adir
Suas matérias como sempre,
muito inteligente, divertidas,
caseiras e com dicas para
serem aproveitadas.
Beijos…Si
Olá,Silvia
Parabéns por outro excelente post. Aprender a lidar com nossas limitações, em qualquer idade, é sempre complicado. É preciso muita conversa, paciência e carinho.
Já vi muitos desse mesmo jeito que coloca e o pior é quando não aceitam a realidade e ficam teimosos coo o pai de uma amiga na semana passada que fica como se estivesse em outro mundo, não compartilha mais das conversas e só fala o que lhe interessa realmente, como foram os versos portugueses que declamou ao ouvir sobre minha viagem a Portugal.
Por isso, já estou ficando de pés no chão diante das novas possibilidades tecnológicas para a minha enrada na 3a. idade.
Beijão carioca
Super importante esse teu texto, pois toda família tem um idoso mas nem todas, aliás a grande maioria, não sabe lidar com ele.
Um certo senhor foi indagado pelo seu otorrino se estava se adaptando bem ao seu aparelho de audição. Ele respondeu que sim. Daí o médico perguntou: E sua família, também gostou? O idoso respondeu: Eles nem sabem ainda, mas já mudei o testamento 3 vezes… hahaha
Adorei a foram com que você abordou esse, e os outros assuntos da velhice. Voc~e o faz de uma forma agradável e alegre.
Fiquei seu fã.
Interessante, que meu avô aceitou bem a dentadura e não aceita aparelho auditivo, vou mandar pra ele ler.
Valeu
Olá Silvia.
Parabéns por mais um Lindo Post.
Estou com os meus pais aos 63 anos muito bem de saude e psique, graças a Deus. E vou repetir uma frase que meu Pai sempre diz. “”…Estou començando a viver agora…””. Fico muito feliz por Eles começarem a encarar a Velhice com Alegria. A também por serem muito ativos.
É claro que a cada ano que se passa sinto alguma pequena dificuldade fluindo neles aos poucos. Audição, Dores, Irritação e etc… Mas nada fora do Controle.
Amo Meus Velhinhos…rsrsrs!!!
Olá, Silvia !!!
Parabéns por mais esse excelente artigo .
Infelizmente o idoso , por ficar limitado em suas sensações,tende à depressão e isolamento, o que é muito ruim para sua qualidade de vida.
Todos os dias me deparo com tal situação em meu trabalho , pois visito os pacientes, em geral idosos, e tenho que alterar minha voz para conseguir estabelecer uma comunicação.
Bjos,
Lucia Regina
Obrigada à todos,pelos comentários e acesso.
Acho que hoje em dia, as vezes é melhor ser surdo do que ouvir certas notícias, mas também não ouvir o que se gosta não é bom.
Voc~e aborda as questões da velhice de uma forma muito delicada, parabéns.
abraços
Tenho um tio querido que estava com esse problema há muito. A reação dele diante disso foi ser muito falador (mas, muito mesmo), não dando chance às pessoas de falarem. Era difícil interrompê-lo. Só recentemente ele colocou o aparelho, de forma que ainda não posso avaliá-lo. Mas, pelo telefone percebi que ele fala menos.rsrs
Parabés pela matéria.